1 – Diz S. Paulo que onde se achar o Espírito de Deus aí se encontrará a santa liberdade e tranquilidade de espírito. Dois são os meios que se devem empregar para as obter. 1. Desprezar dum modo magnânimo e virtuoso as tentações que nos assaltam. 2. Evitar a tristeza.
2 – Aquele que não for tentado, não será coroado. A palma não se dá senão ao vencedor; porque não há vitória onde não há combate.
3 – Na luta contra a maior parte das tentações é melhor usar antes dum virtuoso desprezo que duma oposição formal e direta; aliás ou seremos vencidos ou ficaremos perturbados e aflitos no meio da vitória.
4 – Quando fordes, tentados, especialmente, contra a pureza ou contra a fé, continuai na vossa ocupação sem responder nem fazer caso algum da sugestão do inimigo. Todavia se quiserdes usar de alguma oração com a tentação, dizei por exemplo: “ó Jesus, dai-me o vosso amor e nada mais. Quando, ó Jesus, meu amor, o meu coração se abrasará unicamente no vosso amor?”
5 – Tomais todas as manhãs a resolução de não querer consentir nem responder à tentação e ao tentador.
6 – É preciso dizermos, depois, a nós mesmos, quando formos tentados contra a fé: Eu não posso, não devo, não quero compreender. Não posso, porque são coisas que pertencem à natureza infinita de Deus; não devo, porque o verdadeiro crente submete humildemente a sua razão e não se entrega a curiosas investigações; não quero, porque ainda quando eu pudesse por uma suposição impossível compreender tudo, desejaria não entender nada do que Deus me ensinou de misterioso, para dar-lhes um testemunho da minha verdadeira submissão, tendo dito Jesus Cristo: “Bem-aventurado os que não viram e creram (1)”.
7 – Não vos confesseis das tentações, porque então o medo de pecar não vos deixaria; antes deveis saber que uma tentação da qual estais ressentidos, é objeto de merecimento e não de pecado.
8 – Sede obedientes, e vivereis sossegados. Todo o pensamento que perturba, diz S. Francisco de Sales, não vem de Deus, que é o rei da paz. Quando, pois, se levantar em vosso coração algum receio que vá perturbar o estado da vossa consciência ou da vossa salvação não o considereis como inspiração mais sim como tentação.
9 – Lembrai-vos que obrar contra o escrúpulo não é obrar contra a consciência; pelo contrário é cumprir um dever da consciência, por isso que obrais conforme as determinações do vosso direito. Lede com atenção o II e IV capítulo da parte quarta da Introdução à vida devota, e aí achareis instruções importantíssimas sobre as tentações.
10 – É necessário além disso evitar a tristeza, que S. Francisco de Sales chamava com razão um rigoroso inverno, que despoja a alma de toda a sua beleza, e que a lança num estado de escura abstração, privando as faculdades mais ativas de toda a sua força. O homem triste assemelha-se à esses dotes, cujos estômagos não podem suportar nem bons nem maus alimentos; o bem e o mal o afligem da mesma sorte.
11 – Quando pois sentirdes que o vosso coração está próximo a cair em tristeza, tratai de distrair-vos; fugi de tão perigoso inimigo: ocupai-vos, em alguma coisa ou ide fazer algumas visitas, ou divertir-vos, até que esse caliginoso demônio se tenha afastado de vós. É fácil fechar-lhe a porta do nosso coração, mas dificilíssimo o lançá-lo fora quando lá entrou.
12 – Nehemias dizia ao povo israelita que a alegria do Senhor era toda a sua força: não vos entristeçais; porque a alegria do Senhor é nossa força (2).
Direção para Viver Cristãmente pelo Rev. Padre Quadrupani, Barnabita, 1905.
(1) S. João XX, 29.
(2) II esdr., VII, 10.
Última atualização do artigo em 9 de março de 2025 por Arsenal Católico