1 – Todas as nossas inquietações proveem de considerarmos tudo o que nos acontece de desagradável como procedido ou da ordem da natureza ou da maldade dos homens, e não como procedido dos imperscrutáveis, mas sempre paternais desígnios da Divina Providência.
2 – Disse Jesus Cristo (isto é de fé) que nem um cabelo cairá da nossa cabeça sem a vontade do nosso Pai Celeste. toda a raiva da malvadez, até mesmo a dos demônios, não pode de modo nenhum fazer-nos mal, se Deus o não permitir. É verdade que Deus não quer nem pode querer o pecado, mas quer o dano que para nós resulta do pecado que outrem cometeu contra a lei divina. Não quer, por exemplo, o roubo; mas quer que sintamos o dano que nos causa o roubo. Por isso Job não atribuía as desgraças que o oprimiam nem aos Caldeus, nem ao fogo, nem ao demônio: atribuía-as à divina vontade, porque não olhava para a vara que o açoitava, mas sim para a divina mão que dela se servia para açoitá-lo. Exclamava portanto: “Aconteceu o que aprouve ao Senhor; bendito ele seja” (1).
3 – Olhai, portanto, para tudo o que acontece neste mundo, em ordem à vossa salvação, como procedendo de Deus; e ainda que sejam coisas que vos incomodem, prejudiquem ou humilhem persuadir-vos que o Pai Celeste, que em tudo deseja o bem dos seus filhos, as permitiu para que vos sejam proveitosas. Manda-vos tribulações; como o médico ordena um saudável remédio, por mais amargo ou desagradável que seja ao doente, com o único fim de curar a sua doença. A mais sublime santidade consiste nesta íntima persuasão e nesta resignação perfeita; pois, como diz S. Jerônimo, deste modo nos unimos da maneira mais íntima com Deus, que é o Sumo Bem, não tendo com Ele senão uma e mesma vontade.
Direção para Viver Cristãmente pelo Rev. Padre Quadrupani, Barnabita, 1905.
(1) Sicut Domino placuit ita factum est; sit nomen Domini benedictum. Job 1, 21.
Última atualização do artigo em 9 de março de 2025 por Arsenal Católico