Das relações em geral

Hogarth, William (1697-1764) Uma conversa moderna da meia-noite, c. 1730, Digitalização por Nick Michael, Domínio Público, Wikimedia Commons

1 – O homem colocado no mundo não pode por si só satisfazer às suas necessidades mais essenciais. Precisa do auxílio dos outros para viver e desenvolver-se; prova assaz clara que o homem é pela sua natureza destinado à sociedade.

2 – Há na sociedade diversas espécies de relações, cada uma das quais impõe diversos deveres. Umas são as relações gerais; outras as de família; outras as relações particulares. Chamamos às primeiras relações gerais, porque se estendem a todos os homens com quem podemos tratar. Às segundas chamamos relações de família, porque elas se limitam à vida doméstica. Às terceiras chamamos relações particulares, porque estas constituem a amizade, a qual não pode estender-se a grande número de pessoas.

3 – Nas relações gerais é preciso respeitarmos os nossos superiores; sermos dóceis para com os iguais e bondosos para com os inferiores.

4 – Na conversação, cujo fim é recrearmo-nos honestamente, deve cada um contribuir a torná-la agradável: do contrário não será uma recreação, mas uma coisa enfadonha.

5 – Evitai pois o falar demasiadamente, assim como um silêncio insuportável e uma abstenção excessiva. O falar demasiadamente dá ideia duma pessoa presunçosa, ou leviana, ou imprudente. O não falar nada ou pouco demais, dá a entender que se não gosta da companhia daqueles com quem estamos.

6 – Os maus gracejos e o gênio zombador são o veneno da conversação. São condenados pela moral cristã, pelas conveniências, pela honestidade e até mesmo pela civilidade. Há grande número de pessoas que querem passar por gente espirituosa, e não sabem falar senão de coisas indecentes, e toda a sua espirituosidade não se limita senão à lei dos sentidos.

7 – O médico para conhecer o estado dum doente examina-lhe a língua. A mesma regra devemos observar para conhecer a qualidade da pessoa com quem temos relações. Aquele que tiver a língua imunda e obscena nos discursos, não pode ter o coração puro nos afetos. São Tiago diz que a língua dessas pessoas está abrasada do fogo do inferno; e Davi chama-lhe sepulcro fétido que envenena e corrompe a pureza do ar que aspiramos. Fugi desses impuros faladores com mais cuidado ainda que dos empestados; porque a perda da alma é mais terrível que a do corpo.

Procurai na conversação agradar e não ofender. Evitai, pois, o caráter odioso e insuportável de dominador, de crítico, de chocarreiro, de vaidoso e de inconstante.

Dominador é aquele que toma um tom imponente, e pretende que todos se calem apenas ele comece a falar.

Crítico é aquele que se ocupa em vir tuperar as ações dos que estão presentes e ausentes, e de tudo faz questão.

Chocarreiro é aquele que pretende fazer rir a todos à custa dum, ou que abusa da simplicidade doutro.

Vaidoso é o que fala sem cessar no seu talento, nas suas proezas imaginárias e nos seus ilustres antepassados.

Inconstante é aquele cujo humor ou gênio varia mais que os ventos do mar; ora se mostra alegre e prazenteiro, ora triste e áspero. As pessoas deste temperamento (cujo número é grande) tornam a conversação incivil e fastidiosa.

8 – Fazer aos outros o que desejamos que nos façam, e não fazer-lhes o que nos desagradaria se no-lo fizessem, eis aí o laço de todas as relações e o motor de toda a conversação.

Direção para Viver Cristãmente pelo Rev. Padre Quadrupani, Barnabita, 1905.

Última atualização do artigo em 8 de março de 2025 por Arsenal Católico

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