De onde vem a prosperidade e a decadência dos povos

Edmund Blair Leighton (1853-1922) A Caridade de Santa Elizabeth da Hungria

Amicitia et prosperas res dulciores facit, et adversas communione temperat, et leviores reddit (1) S.ISIDORUS, Lib. III. De summo bonno.

Nenhuma sociedade pode subsistir sem assistência mútua; socorro dos grandes aos pequenos, serviços dos pequenos aos grandes: e é fato incontestável que, para que essa assistência mútua seja eficaz, para que ela possa fazer reinar a paz e a prosperidade numa sociedade, ela não deve ser ocasional, mas constante, e que para ser constante ela deve ser organizada socialmente.

Nem sempre se compreendeu isto, tanto no seio da cristandade quanto na antiguidade pagã; e sempre a paz social e os haveres que dela decorrem seguiram as flutuações sofridas pela fidelidade aos deveres recíprocos. É preciso acrescentar que a infidelidade sempre se manifestou primeiramente nos graus superiores. As classes altas fecharam-se pouco a pouco no gozo dos bens que sua situação proporcionava, e seguindo a mesma tendência, as classes inferiores desligaram-se delas para acabar por se revoltar contra aqueles que tinham sido durante séculos o seu sustento.

Um rápido olhar sobre a história antiga, depois sobre a história moderna, far-nos-á assistir à reprodução, entre nós, de fases de decadência que a sociedade pagã sofreu, e isto, pelo efeito das mesmas causas. Aproveitaremos, como já fizemos, um tríplice estudo de Frantz Funck-Brentano (2) que ele próprio deu em contribuição entre outras obras, como também A cidade antiga, de Fustel de Coulanges, e As origens da França antiga, de Jacques Flach.

“As mudanças que aparecem na constituição das sociedades, diz Fustel de Coulanges, não podem ser efeito do acaso nem da força apenas: a força que as produz deve ser poderosa, e, para ser poderosa, esta causa deve residir no homem”. É do coração do homem, com efeito, que saem as virtudes que elevam e os vícios que rebaixam, e que, à força de rebaixar, fazem desaparecer os Estados, tanto quanto as famílias. Em todos os povos, a época em que as qualidades morais, de onde emanam as obrigações recíprocas, foram bastante difundidas e entraram muito profundamente nos caracteres para penetrarem também nos usos e costumes, constitui o tempo em que o povo mais brilhou na sua força e no seu esplendor. Com o esquecimento dessas obrigações veio a decadência. Sempre e em toda a parte, o princípio dessa decadência é encontrado primeiramente na aristocracia. No momento em que ela negligenciou seus deveres relativamente a seus clientes; no momento em que ela deixou de levar-lhes afeição aos seus corações, e em conseqüência deixou de dar-lhes assistência e proteção, os sentimentos que constituíam a autoridade dos patrões se enfraqueceram e acabaram por extinguir-se no coração de seus inferiores. Então uma aristocracia menos nobre sucedeu a uma aristocracia mais nobre porque os povos não ficam jamais sem aristocracia. Na França, como na Grécia, como na Itália antiga, vimos a aristocracia feudal, em conseqüência do esquecimento de seus deveres, ceder lugar a uma aristocracia imobiliária e esta a uma aristocracia de dinheiro. As mesmas épocas históricas sucederam-se na mesma ordem na antiguidade e nos tempos modernos: à medida que as tradições cederam à ação do tempo e das paixões humanas, o regime patriarcal deu lugar ao regime agrário, e este ao regime administrativo, logo dominado pelo dinheiro.

Na Grécia, desde que os Eupátridas vieram a olvidar seus deveres relativamente a seus clientes, as crenças antigas, que constituíam a autoridade deles na alma dos inferiores, extinguiram-se progressivamente. Restou como fonte de influência apenas a propriedade imobiliária, que pôde pertencer tanto aos plebeus quanto aos nobres. A legislação de Solon veio então dizer que os direitos, as honras, as funções e as obrigações dos cidadãos seriam medidas segundo a importância de suas propriedades imobiliárias. De sorte que a uma aristocracia de sangue sucedeu uma aristocracia de proprietários.

Produziu-se logo uma outra revolução. Desde o tempo de Solon, o comércio ateniense tomou impulso e logo estendeu-se longe. O proprietário do solo viu sua importância decrescer diante da importância do negociante, para o qual os navios traziam as riquezas longínquas.

Em Roma, essas transformações foram as mesmas. A classe dos cavalheiros, homens de negócio, substituiu a antiga aristocracia, que desapareceu.

Veremos as mesmas mudanças se produzirem na França.

Mas, antes, devemos descobrir quais foram as conseqüências disto entre os povos antigos.

Durante todo o tempo em que as famílias patrícias viveram em suas terras, cercadas de seus clientes, a miséria foi coisa desconhecida: o homem, em caso de necessidade, era socorrido pelo seu chefe; aquele a quem ele dava seu trabalho e sua dedicação devia socorrê-lo nas suas necessidades. Passou-se diferentemente logo que a aristocracia de dinheiro tomou o lugar da aristocracia imobiliária. Não houve mais liame permanente entre os pequenos e os grandes. O pobre foi isolado e assim ficou: mais ninguém estava encarregado dele, mais ninguém o conhecia, mais ninguém queria socorrê-lo. Foi então que Cícero pronunciou aquela frase: “Ninguém é compassivo, a menos que seja um tolo ou um leviano” (3). E Platão dá-lhe razão: “Dando o pão a quem não o tem, perdeis vosso bem, e ajudais esses infelizes a prolongar uma existência que não passa de um fardo para eles”.

Mas os pobres opuseram resistência. Eles organizaram uma guerra regular contra os ricos. Usaram o direito de sufrágio para sobrecarregá-los de impostos, para decretar a abolição das dívidas ou para operar confiscos gerais.

Plutarco conta que em Megare, depois de uma insurreição, decretou-se que as dívidas seriam abolidas, e que os credores, além da perda do capital, seriam obrigados a reembolsar os juros já pagos.

Em 412, a população de Samos massacrou duzentos ricos, exilou outros quatrocentos e repartiu suas terras e casas. Em Corcyre, o partido dos ricos foi quase inteiramente exterminado. Os que se tinham refugiado nos templos foram emparedados e deixaram-nos morrer de fome. “Por toda a parte, como diz Tucídide, foram vistas todas as crueldades, todas as barbáries, naturais a pessoas que, impelidas por um sentimento cego de igualdade, encarniçam-se impiedosamente contra os rivais”. “Em cada cidade, escreve Fustel de Coulanges, o rico e o pobre eram dois inimigos. Nenhuma relação, nenhum serviço, nenhum trabalho os une. O pobre não podia adquirir a riqueza senão despojando o rico; o rico não podia defender seus bens senão mediante extrema habilidade ou pela força. Eles se encaram com olhar raivoso; havia em cada cidade uma dupla conspiração; os pobres conspiravam por cupidez, os ricos por medo. Não é possível dizer qual dos dois partidos cometeu mais crueldades e crimes. Os ódios apagavam nos corações todo sentimento de humanidade. Houve, em Milet, uma guerra entre ricos e pobres; estes tiveram vantagem inicialmente e forçaram os ricos a fugir da cidade; mas, em seguida, lamentando não ter podido degolá-los, pegaram os filhos deles, reuniram-nos em granjas e esmagaram-nos sob as patas dos bois. Os ricos reentraram em seguida na vila e tornaram a ser os patrões. Pegaram os filhos dos pobres, untaram-nos com resina e queimaram-nos todos vivos”.

Que acontece com a Grécia, outrora tão grande, nessa luta pavorosa? O historiador Políbio no-lo diz: “Nos campos, a cultura das terras; nas cidades, os tribunais, os sacrifícios, as cerimônias religiosas são abandonados. Os gregos vivem em guerra civil há seis gerações. Ela tornou-se o estado habitual, regular, normal do povo, no qual se nasce, vive-se e morre-se. Vêem-se cidades permanecer desertas, e, para cúmulo da dor, os gregos não podem atribuir senão à própria loucura as calamidades pelas quais são castigados”.

A história da democracia romana oferece o mesmo ensinamento da história da democracia grega. E se a luta não foi acompanhada de crises tão sangrentas, é preciso atribui-lo a uma dupla causa. Em primeiro lugar, às conquistas de territórios imensos feitas pelos romanos, cujas terras davam à plebe; em segundo lugar, aos exércitos que, destacados nas fronteiras e em contínua luta contra os bárbaros, devoravam boa parte de plebeus.

Na França, como na Grécia, como na Itália, a civilização começou e foi levada ao seu mais alto ponto por uma aristocracia feudal, à qual sucedeu, dos dias da Renascença até os dias da Revolução, uma aristocracia imobiliária. Atualmente, temos essa aristocracia de dinheiro, que marcou o fim da civilização helênica e o fim da civilização romana.

As origens de nossa civilização remontam ao século VI. O esforço civilizador de então é proporcional à resistência à barbárie. A barbárie gera os tipos mais monstruosos e ao lado deles vêem-se figuras resplandecentes da mais pura vida cristã. Esse século e o seguinte, que surgem como os mais bárbaros de todos, são a época na qual os santos florescem em maior número e exercem a ação mais decisiva na orientação de nossa sociedade. Assim, Godefroy Kurth pôde dizer na sua obra Origens da Civilização Moderna: “Em menos de um século, todo o cenário do mundo foi renovado. São novos atores que ocupam o palco, é um outro drama que se desenrola”.

Deus havia lançado em nosso solo, ocupado há quatro mil anos pelos bárbaros, populações jovens e abertas às nobres inspirações da Igreja, que as esperava para educá-las. “Basta abrir os olhos, diz ainda Kurth, para ver com que força os povos bárbaros eram arrastados pelas melhores tendências de sua natureza ao seio da Igreja católica”, tão logo o arianismo os solicitava.

E esses selvagens, cheios de paixões pagãs, mas também repletos de seiva e de vigor, eram enxertados pela Igreja na vinha plantada pelo Divino Salvador. Ela fazia circular em suas veias a caridade evangélica, isto é, o amor a Deus e o amor ao próximo. O essencial era determiná-los a dizer uma vez, com convicção e resolução: sou cristão; e muitos o eram, desde aquele momento até ao heroísmo.

Quando os francos conquistaram a Gália, as cidades empobrecidas não passavam de aglomerados de artesãos. O poder e a riqueza tinham-se deslocado para os campos. Aí, em meio a imensos domínios, reinando sobre povos de pobres e de escravos, grandes famílias viviam apenas para o prazer. Os francos dividiram essas terras com a mesma avidez que presidira outrora a partilha dos cavalos, das armas e dos tesouros. Cada qual estabeleceu sua morada no lote que passara a ser seu e identificou-se com essa terra, transformada em sua herança (Alod) e de seus filhos.

Tais foram as origens dos primeiros senhores. Alguns continuaram pagãos; outros, após terem recebido o batismo, continuaram a colocar em suas relações sociais uma odiosa crueldade. Mas houve também famílias nas quais a graça de Cristo, encontrando um sangue generoso, produziu as virtudes que fizeram delas nossa aristocracia, primeira na ordem temporal e também no valor moral e guerreiro. Sob os auspícios da Igreja, elas aprenderam a conhecer e a praticar os deveres em relação ao próximo, e a caridade começou a estabelecer seu império entre nós. Todos os registros de atos de emancipação que nos foram legados pelos primeiros séculos da Idade Média atestam o pensamento religioso que os ditou: “Não é preciso prender com cadeias aqueles que Cristo tornou livres pelo batismo, porque não há diferença de condição a Seus olhos, pois somos todos unidos e iguais perante Ele”.

As instituições sociais que então se ergueram nasceram desse espírito. “Não foi de instituições envelhecidas de uma nação em decadência (os romanos), diz o editor da obra econômica de Montchrétien; menos ainda dos hábitos grosseiros de bandos a custo disciplinados (os germanos), que saiu a civilização moderna, mas da força, da intensidade das afeições difundidas na população inteira (pelos monges, bispos e santos), afeições que se transformam em obrigações mútuas e costumeiras e, em conseqüência, em direitos recíprocos”.

Vêem-se reaparecer aqui, mais depuradas e santificadas, as relações sociais que admiramos na clientela romana e na clientela grega. Elas envolveram toda a sociedade como uma imensa rede, não somente de grandes feudatários a pequenos senhores e de senhores a vassalos, mas também de patrões a operários. Conhecemos a bela legislação que Etienne Boileau deu às corporações de operários no século XIII.

O século XIII constituiu o apogeu da aristocracia feudal e da grandeza da França. Ela havia então estabelecido seu território e criado o gênio francês, feito sobretudo de generosidade.

Sucedeu-a uma outra aristocracia. Essa substituição não ocorreu subitamente, mas se deu pouco a pouco nas suas classes. Os bisnetos dos primeiros senhores não tinham mais as virtudes impulsivas de seus ancestrais; eles se “civilizavam” mais ou menos, no sentido ruim da palavra; e nessa medida viam famílias que lhes eram estranhas aumentarem insensivelmente nas suas fileiras: de sorte que se pode estabelecer entre o século XIV e o século XV o surgimento da aristocracia chamada territorial para distingui-la da aristocracia feudal. Esse segundo rebento, saído do tronco generoso da raça franca, não teve o valor do primeiro. A primeira seiva é sempre a mais forte. Assim, enquanto esta conservou seu vigor durante oitocentos anos, a outra pôde completar apenas um percurso menor que a metade. Além disso, teve a infelicidade de chegar junto com a Renascença, de ser mais tarde presa do absolutismo real e, enfim, de ser inoculada pelo veneno filosófico.

No entanto, a França podia ainda gloriar-se dela e ela fez muito pela grandeza do país em todos os sentidos.

A aristocracia territorial buscava de uma maneira contínua seus componentes entre as famílias que se sobressaíam por longas tradições de trabalho e de virtudes até atingir a generosidade de alma que faz a nobreza. Quando não havia outra fonte de riqueza além da cultura, toda família rica era rica apenas porque se tinha pouco a pouco enobrecido nos seus sentimentos por uma longa prática das virtudes familiais, e desde então ela podia ser enobrecida. Era uma família antiga, respeitável, uma boa família, segundo a expressão que ficou. Para isso foi-lhe necessário educar e educar cada vez melhor uma longa seqüência de gerações; e foi necessário que, nessa seqüência, não ocorresse a fraqueza de nenhum dos elos da cadeia, porque então tudo teria que ser recomeçado. Como disse Blanc de Saint-Bonnet: “Os séculos vinham colocar-se como florões sobre sua coroa, e foi a mão do tempo que se apressou em sagrá-la”.

Essa segunda aristocracia viveu como a primeira, militarmente, patriarcalmente e agricolamente, submetendo ao cultivo a terra adquirida por seus pais, defendendo-a e espalhando ao redor dela a justiça, a bravura e o desinteresse. Dessa maneira ela manteve o tríplice capital da nação: capital material, capital intelectual e capital moral. Eis os termos que Taine usa para falar disso: “O senhor é proprietário residente e benfeitor, promotor de todos os empreendimentos úteis, tutor obrigatório dos pobres, administrador e juiz gratuito da região, deputado sem paga junto ao rei, isto é, condutor e promotor, como outrora, mediante um patronato novo, apropriado às circunstâncias”.

Infelizmente, esses costumes salutares, esses laços de união e de afeição que ligavam todos os cidadãos de alto a baixo da escala social relaxaram-se imperceptivelmente. A política de Luís XIV obstinou-se em separar os gentis-homens do povo, atraindo-os à corte e aos empregos. Crendo fortalecer-se, a realeza destruiu com suas próprias mãos o fundamento sobre o qual estava estabelecida (4). Henrique IV fora melhor inspirado. “Ele declarou à sua nobreza, diz Perefixe, que queria que cada qual se acostumasse a viver de seus bens, e que para esse efeito ele estava bem à vontade, visto como gozavam de paz, que fossem ver suas casas e dessem ordem de valorizar suas terras. Assim, ele os aliviava de grandes e ruinosas despesas na corte, reenviando-os às províncias, e ensinava-lhes que o melhor fundo que se pode construir é o de uma boa família. Com isto, sabendo que a nobreza francesa era melindrosa no imitar o Rei em todas as coisas, ele lhes indicava, por seu próprio exemplo, a supressão da superfluidade nos trajes; porque ele ia ordinariamente vestido de tecido cinza, com um gibão de cetim ou de tafetá sem cortes, passamanes ou enfeites. Ele louvava os que se vestiam dessa maneira e ria-se dos outros, que carregavam, dizia, seus moinhos e suas ramarias de árvores altíssimas nas costas “.

Sob Luís XIV, a nobreza recebeu outras lições e infelizmente deixou-se levar por outros exemplos; sabemos quais foram as conseqüências.

“O afastamento físico, diz Tocqueville, produziu pouco a pouco entre os senhores um afastamento de coração. Quando o gentil-homem reaparecia no meio dos seus, ele revelava os desígnios e os sentimentos que tivera seu intendente na sua ausência. Ele não via mais em seus arrendatários senão os devedores dos quais ele exigia com rigor o que lhe cabia segundo a lei ou o costume. Daí os sentimentos de rancor e de ódio. Além disso, por efeito desse mesmo afastamento, toda a direção geral falhava, as terras caíam em deplorável abandono. A nobreza logo formou uma casta, ciosa de seus títulos, ciumenta de seus privilégios, e que não mais se justificavam, nem uns nem outros, em razão da direção imprimida à vida da nação”.

Quando estourou a Revolução, fazia já um século que cada classe vinha caminhando à parte, entretendo e avolumando seus preconceitos e seus ódios contra a classe que, antes aliada, se tornara rival.

É isto que explica, pelo menos em parte, o que aconteceu no campo. Podemos observar que por toda a parte onde os proprietários imobiliários tinham conservado o contato com seus arrendatários, o antagonismo de classes não se manifestou. Testemunha isto o que se fez na Vandéia, em Anjou, em Poitou, na Bretanha e na Normandia. Ao contrário, em toda a parte em que os senhores administraram seus bens pelo intermédio de intendentes e onde, em conseqüência, eram desconhecidos de seus arrendatários, em toda a parte, em uma palavra, em que se perdeu o contato entre ricos e pobres, o antagonismo social revelou-se com grande violência. Taine estabeleceu esse fato em várias passagens de seus escritos.

A aristocracia imobiliária, assim caída, deu lugar, como em Atenas e em Roma, à aristocracia de dinheiro, que a Revolução nos legou.

Segundo o visconde d’Avenel (5) os riquíssimos de hoje, na França, o são doze vezes mais do que os mais ricos personagens do Ancien Régime; eles são dez vezes mais ricos ou vinte vezes mais numerosos do que os mais opulentos príncipes dos tempos feudais. Há hoje na França 1.000 pessoas que têm 200.000 francos de rendas mobiliárias ou imobiliárias. Entre essas 1.000, há 350 que têm 500.000 francos de rendimentos. Dessas 350 podemos citar 120 que dispõem anualmente de mais de um milhão de francos de receitas; 50 dentre elas têm um orçamento normal de 3 milhões de francos; e dessas 50, há uma dezena que tira de seus capitais uma soma superior a 5 milhões por ano. Não se conhece ninguém da Idade Média que possa ser comparado aos 50 particulares que formam as duas categorias mais altas. Há coisa pior para um povo do que a destruição de seus exércitos e de suas frotas, a bancarrota de suas finanças e a invasão de seu território; é o abandono de suas tradições e a perda de seu ideal. A história de todos os povos aí está para no-lo atestar.

O Espírito Familiar, no Lar, na Cidade e no Estado, Monsenhor Henri Delassus, Doutor em Teologia, 1910.

(1) A amizade torna agradáveis as coisas propícias e abranda, pela mútua participação, as adversas, deixando-as mais suportáveis. (N. do T.).

(2) La famille fait l’Etat. Grandeur et décadence des aristocraties. Grandeur et décadence des classes moyennes. Da coleção “Sience et Religion”, editada por Bloud & Cia

(3) Pro Murena.

(4) Bourdaloue lembrava assim aos senhores do grande século seus deveres.

“Aristóteles, o Príncipe dos Filósofos, não possuía nenhum princípio de cristianismo, no entanto compreendia essa obrigação quando dizia que os reis, nesse alto grau de elevação que nos faz olhá-los como divindades da terra, não são mais do que homens feitos para os outros homens, e que não é para eles mesmos que são reis, mas para os povos.

“Ora, se isto é verdadeiro em relação à realeza, ninguém poderá acusar-me de levar, a esse respeito, a coisa longe demais, se adianto que não se pode ser nada no mundo, nem se elevar, ainda que pelas vias retas e legítimas, às honras do mundo, senão pela disposição de empregar-se, interessar-se e consagrar-se e mesmo de devotar-se ao bem daqueles que a Providência faz depender de nós; que um homem, por exemplo, revestido de uma dignidade, não é senão um súdito destinado por Deus e escolhido para o serviço de um certo número de pessoas às quais ele deve suas preocupações; que um particular que toma um encargo, desde então não existe mais para si, mas para o público; que um superior, que um professor, não tem a autoridade à disposição senão porque deve ser útil a toda uma nação, posto que, sem autoridade, ele não pode sê-lo. Praes, dizia São Bernardo, escrevendo a um grande do mundo, pondo diante dos olhos deste a idéia que ele devia ter de sua condição, praes non ut de subditis crescas, sed ut ipsi de te. Estais no lugar de comando, e é justo que se vos obedeça. Lembrai-vos, porém, que essa obediência vos é dada a título oneroso e que sereis prevaricador se não a fizerdes servir inteiramente em benefício dos que vo-la prestam”.

(5) Revue des Deux-Mondes.

Última atualização do artigo em 25 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico

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