Décimo Primeiro Domingo Depois de Pentecostes (Mc. 7, 31-37)
- Naquele tempo, deixou Jesus os confins de Tiro, e veio por Sidon ao mar da Galileia, atravessando o território da Decápole.
- E trouxeram-lhe um surdo-mudo, e suplicavam-lhe que lhe impusesse a mão.
- Então, Jesus, tomando-o à parte dentre a multidão, meteu-lhe os dedos nos ouvidos: e cuspindo, com saliva tocou a sua língua.
- E levantando os olhos ao céu, deu um suspiro, e disse-lhe: Efeta, que quer dizer: abre-te.
- E imediatamente se lhe abriram os ouvidos e se lhe soltou a prisão da língua, e falava claramente.
- E ordenou-lhes que a ninguém o dissessem. Porém, quanto mais lho proibiu, tanto mais o suplicavam:
- E tanto mais se admiravam, dizendo: Tudo tem feito bem: fez que ouçam os surdos e falem os mudos.
OS GOVERNOS DE DEUS
Ele fez bem todas as coisas! – exclamaram as testemunhas dos milagres de Jesus.
Tal será também a exclamação da humanidade inteira no dia de juízo, quando lhe forem reveladas as leis do governo do mundo e o modo admirável pelo qual tais leis foram aplicadas através dos séculos.
Tal governo do mundo chama-se Providência.
Consideremos hoje esta Providência Divina:
- Do lado DE DEUS.
- Do lado DO MUNDO.
I. DO LADO DE DEUS
Sabemos que Deus é infinitamente inteligente e infinitamente justo. Ora, estes dois atributos exigem que Ele seja ao mesmo tempo a Providência governando o mundo por Ele criado.
Sendo infinita a inteligência de Deus, é preciso suprimir em Deus todos os efeitos da inteligência humana: ignorância, erro, incerteza.
A ciência de Deus é infalível, abrangendo, por inteiro, o seu objeto, isto é: o próprio Deus e suas obras, com um olhar único, por simples intuição, sem auxílio de raciocínio.
O Criador conhece todos os atos e todos os pensamentos secretos das suas criaturas, conhece o passado, o presente, o futuro e até os atos futuros livres, que dependem unicamente da liberdade do homem.
Deus é, deste modo, a inteligência infinita.
Ora, o homem inteligente nada faz sem motivo.
Logo, Deus, criando cada ser, devia fixar-lhe uma finalidade, e dar-lhe os meios de alcança-la.
Estes meios, pelos quais o homem deve realizar a sua finalidade, chamam-se as leis.
Deus deve deixar ao homem a liberdade de empregar estes meios, ou de rejeitá-los, pois Ele criou o homem, inteligente e dotado de livre arbítrio.
Um poder sabiamente constituído não se contenta em fazer leis; vigia sobre a execução delas, sancionando-lhe o respeito e castigando as delinquências.
Sem isto a sociedade não poderia existir.
Deus governa, pois, este mundo.
De outra parte, Deus vê todas as necessidades das suas criaturas, e vendo-as, deve acudir a estas necessidades.
De fato, sendo infinito o poder de Deus, Ele pode fazê-lo; e sendo a sua bondade sem limites, Ele quer fazê-lo.
Logo, Deus se ocupa de nós: Ele é a Providência.
Deus é também infinitamente justo.
Logo, Ele deve sancionar as suas determinações. Deve necessariamente recompensar os bons e castigar os maus; e para isso, deve ocupar-se dos homens, dirigi-los pela sua Providência; para conhecer a fidelidade ou a infidelidade de cada um deles.
II. DO LADO DO MUNDO
Contemplando este mundo, averiguamos logo que apesar de certas irregularidades particulares, proveniente da maldade dos homens, há uma ordem perfeita neste mundo. Basta ver a regularidade perpétua das leis físicas para o mundo mineral; das leis da vida par ao reino vegetal; das leis do instinto, para o reino animal; das leis da inteligência e da consciência, para o reino humano.
Visitando, por exemplo, um país onde encontramos tudo em ordem, em harmonia e em paz, onde todos se ajudam mutuamente, concluímos necessariamente que este país é governando, possui até um bom governo.
A mesma conclusão se impõe, examinando este mundo: Reina nele uma ordem perfeita: logo, deve haver um governo, uma providência que o governa.
Eis porque o mundo crê não somente na existência de Deus, mas ainda em seu governo.
Representando-se a Deus o conjunto da humanidade, nunca pude admitir que Ele ficasse indiferente aos males e às misérias que nos assolam.
É a razão porque sempre existiu a oração pela qual o homem pede a Deus proteção e auxílio.
Ora, tudo isso implica necessariamente a confiança na Providência de Deus ou a intervenção de Deus nas coisas deste mundo.
E alcançando o que pedimos, instintivamente nós nos viramos para Deus, a fim de agradecer e proclamar que: Ele fez bem todas as coisas!
III. CONCLUSÃO
A Providência de Deus é um dos dogmas mais consoladores da nossa Religião.
Examinando apenas o lado exterior dos acontecimentos deste mundo, o observador será tentado a revoltar-se, às vezes, contra a miséria humana, a covardia, a traição, a falta de caráter, etc., mas sabendo que o homem apenas propõe, mas que Deus dispõe, ele sabe ver, através do exterior, o dedo de Deus, que dirige tudo com sabedoria e justiça.
Tal acontecimento parece-nos uma mal: Sob a mão de Deus. Será um bem, pois Ele sabe tirar o bem do mal, e não permite o mal, senão para realizar um bem maior.
O santo homem Jó é o modelo acabado desta submissão amorosa à Providência de Deus: Deus me deu, Deus me retirou isso, disse ele, bendito seja o seu Santo Nome.
Comentário Dogmático, Padre Júlio Maria, S.D.N., 1958.
Última atualização do artigo em 10 de abril de 2025 por Arsenal Católico