Ó Jesus, tornai-me perseverante em procurar-Vos e em servir-Vos, apesar de todas as dificuldades que possa encontrar.
1 – Sta Teresa ensina que quem deseja entregar-se com fruto à oração, deve tomar uma decisão firme e enérgica de não parar no caminho empreendido. Trata-se de se dar à oração, não por um período de tempo, mas sempre, todos os dias, toda a vida, sem se deixar desviar por razão alguma. “Venha o que vier, suceda o que suceder, trabalhe-se o que se trabalhar, murmure quem murmurar, quer se lá chegue, quer se morra no caminho… Tenda-se sempre para o fim” (Cam. 21, 2). E o fim, é o bom recordar, é a água viva prometida por Jesus àqueles que têm sinceramente sede dEle e do Seu amor.
Sem uma decisão forte e enérgica, a alma encontrará muitas vezes motivos razoáveis para deixar a oração. Por uma lado, a aridez que experimenta, poderá fazer-lhe pensar que perde tempo ao dedicar-se a um exercício do qual lhe parece não tirar nenhum fruto e que por isso talvez seja melhor ocupar o seu tempo nas obras. Nem será difícil que as muitas ocupações de que por vezes está sobrecarregada a façam supor ainda mais legítima a sua atitude. Outras vezes o sentimento da sua miséria – sobretudo a consideração da sua pouca fidelidade à graça – far-lhe-á pensar que é indigna da intimidade divina e que por isso é inútil insistir na oração. Mas é claro que todos estes pretextos são sugestões do inimigo que, ora sob o aspecto de zelo pelas obras exteriores, ora sob o de falsa humildade ou de perda de tempo, faz todo o possível para desviar as almas da oração. Nenhuma tentação – declara a Santa – “é mais grave” do que esta e, por meio dela, “é grande dano o que o demônio nos causa” (cfr. Vi. 7, 11; 8, 7). E por isso insiste: “quem tiver começado a fazer oração, não a deixe mais, não obstante as faltas em que venha a cair. Com a oração poderá levantar-se mais rapidamente e sem ela será muito mais difícil. Não se deixe tentar pelo demônio a deixá-la, sob pretexto de humildade” (ib. 8, 5).
2 – Mesmo que a alma tenha caído no estado de aridez por culpa própria, não deixe a oração, mas persevere nela apesar da violência que terá de fazer e as vivas repugnâncias que terá de vencer. “Se nela persevera apesar das tentações, dos pecados e quedas de toda a espécie em que a precipite o demônio, tenho por certo – diz Sta Teresa – que o Senhor a conduzirá ao porto de salvação” (Vi. 8, 4). Aceite o tormento de ter de passar o tempo da oração numa completa aridez, e mais ainda, com a pena de se sentir tão diferente de Deus e tão indigna dAquele em cuja presença se encontra. Aceite as censuras da consciência pelas suas infidelidades e ofereça tudo ao Senhor em expiação das faltas cometidas e para obter a graça de se emendar. Não se canse de repetir, com um coração sincero, a oração do publicano: “Meu Deus, tende piedade de mim, pecador!” (Lc. 18, 13); e Deus, que tanto ama aquele que reconhece humildemente a própria miséria, não deixará de vir em seu auxílio. Mas é preciso saber esperar com paciência a hora estabelecida por Ele. Sta Teresa de Jesus passou cerca de dezoito anos em semelhante estado de aridez: “Muitas vezes – diz ela própria – não sei que penitência grave se me poderia oferecer que eu a não fizesse de melhor vontade que recolher-me a fazer oração… era tão insuportável a força que me fazia o demônio para que não fosse à oração… que era preciso ajudar-me de todo o meu ânimo…” Mas conclui: “por fim ajudava-me o Senhor!” (Vi. 8, 7). Era este o prêmio da sua fidelidade.
Por isso a Santa tem toda a autoridade proveniente da experiência para insistir em que nunca, por motivo algum, se deixe a oração, recomendando-o com toda a energia: “não vos fiqueis no caminho, mas pelejai como fortes até morrer na demanda, pois não estais aqui para outra coisa” (Cam. 20, 2).
Também à oração se podem aplicar estas palavras de Jesus: “O Reino dos céus tem sido objeto de violência e os violentos apoderam-se dele à força” (Mt. 11, 12).
Colóquio – “Ó Senhor, eu sei que para que seja verdadeiro o amor e para que dure a amizade há de haver igualdade de condição. A Vossa já se sabe que não pode ter defeito, a minha é viciosa, sensual, ingrata, por isso não posso amar-Vos quanto mereceis.
“Ó bondade infinita do meu Deus, vejo quem sois Vós e vejo-me a mim desta sorte! Ó delícia dos anjos, toda eu quando Vos vejo, me quereria desfazer em amar-Vos! Como é certo suportardes Vós a quem não sofre que estejais com ele! Que bom amigo sois, Senhor meu! Como o ides enchendo de regalos, e suportando, e esperando que se faça à Vossa condição, e entretanto Vós lhe suportais a sua! Tomais em conta os momentos em que Vos ama e com um pouco de arrependimento olvidais o que Vos ofendeu. Tenho visto isto claramente por mim e não compreendo, Criador meu, como o mundo todo não procura chegar-se a Vós por meio desta particular amizade. Os maus – que não são da Vossa condição – devem aproximar-se de Vós para que os façais bons, contando que suportem que estejais com eles, ao menos alguns momentos em cada dia, embora eles não estejam conVosco senão com mil cuidados e pensamentos do mundo…. Por este esforço que fazem em querer estar em Vossa companhia – olhai a que nestes princípios não podem mais e algumas vezes nem depois – forçais Vós os demônios para que não os acometam e que cada dia tenham menos força contra eles, dando-lhes força para vencer. Sim, ó Vida de todas as vidas, não matais nenhum daqueles que se fiam de Vós e Vos querem por amigo” (T.J. Vi. 8, 5 e 6).
Ó Senhor, concedei-me também a mim a santa audácia de perseverar sempre na oração, apesar das dificuldades interiores e exteriores, apesar da aridez, das impotências, apesar das minhas faltas de correspondência à graça… Vós dareis remédio a todos os meus males.
Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.