Deus, infinitamente bom, criou o homem para a felicidade e quer que ele seja feliz na terra e na eternidade. Porque motivo, pois, sofremos tanto neste mundo? A religião cristã, e só ela, dá-nos a chave deste mistério.
Enquanto era inocente, o homem não conheceu o travor do sofrimento: era plenamente feliz no paraíso terrestre. De feito, o sofrimento é apenas consequência do pecado; o homem sofre porque tornou-se pecador. Como a sombra acompanha o corpo, assim o sofrimento acompanha o pecado. Nem sempre o acompanha imediatamente; porém, cedo ou tarde virá, e tanto mais terrível, quanto mais retardado.
O sofrimento entrou no mundo pela porta do pecado e aí permanecerá enquanto este reinar, a saber, até o Juízo Final.
Cumpre compreender isto uma vez por todas e não atribuir a Deus o que d’Ele não procede.
Deus não é o autor do sofrimento, das desgraças, das lágrimas, assim como não é o autor do pecado.
Foi o homem, o próprio pecador que se reduzia a tão triste condição.
E é porque descendemos do homem pecador, do homem decaído, que jazemos no estado de miséria e de decadência em que ele se despenhou. Somos qual prole de rei destronizado, nascida no exílio; quais filhos de nobre empobrecido, que nascem pobres como seu pai.
Em suma, somos condenados neste mundo no sofrimento porque somos pecadores.
Assim, pois, quando sofremos, não nos queixemos de Deus: imputemos o sofrimento só ao pecado; aos maus, que são homens de pecado; ao demônio, instigador do pecado; enfim, a nós mesmos que o cometemos.
Monsenhor de Ségur, Consolações Aos Que Sofrem, 1877.
Última atualização do artigo em 20 de dezembro de 2024 por Arsenal Católico