A obediência, que segundo os Santos Padres é a regra de todo ato de virtude, deve ser posta na frente de qualquer instrução; é por isso que faremos as observações seguintes:
1 – Aquele que obedece ao ministro do Senhor, não obedece a um homem; obedece a Deus, que disse: “Quem vos escuta, a mim escuta.”
2 – Nenhuma alma verdadeiramente obediente se perdeu; nenhuma alma desobediente se salvou. (S. Filipe Nery).
3 – S. Bernardo dizia que todo aquele que segue as suas próprias luzes e temores contra os conselhos da autoridade, não precisa de demônio que o tente, porque ele próprio é para si um demônio.
4 – Não receeis que um diretor prudente se engane, que não vos conheça, ou que vos não tenhais explicado suficientemente. Com semelhantes apreensões toda a obediência seria sempre iludida ou adiada. Se o diretor não vos tivesse conhecido ou compreendido quanto era necessário, ter-vos-ia- feito mais perguntas. Além disso, Deus prometeu o seu auxílio e luzes àquele que faz as suas vezes para dirigir as almas. É quanto basta, para que obedeçamos com prontidão e simplicidade, como manda a santa Escritura.
5 – Deus não nos manifesta o estado da nossa alma, porém manifesta-o àquele que deve julgar-nos em seu lugar. Contentai-vos, pois, com saber do vosso sábio diretor que andais no bom caminho, e que a misericórdia e a graça de Jesus Cristo estão em vós. Deveis obedecer em todas as coisas e sobretudo nisto; porque, como escreve S. João da Cruz, “não nos contentarmos com o que diz o confessor, é orgulho e falta de fé.”
6 – A alma é obrigada a obedecer, portanto, deve banir os receios de pecar, marchando sempre para a frente com denodo. “Parecer-vos-á, diz S. Boa Ventura, que obrais contra a vossa consciência, quando pelo contrário obrais segundo a obediência; parecer-vos-á que pecais, quando pelo contrário adquiris um grande merecimento.”
7 – Não basta submetermo-nos à autoridade por uma obediência exterior; é preciso também submeter a vontade e o entendimento, crendo o que ela nos manda crer. Sabei que é particularmente nesta submissão da vontade e do entendimento que reside o mérito da santa obediência. O sacrifício que não é feito em espírito e verdade, não pode ser agradável a Deus.
8 – A vossa obediência deve ser simples, pronta, corajosa, universal. 1. Simples, porque não deveis raciocinar, mas deter-vos neste só pensamento: Devo obedecer. 2. Pronta, porque é a Deus que obedeceis 3. Corajosa, porque aquele que obedece a Deus não pode enganar-se. 4. universal, porque a obediência estende-se a tudo o que não é pecado.
9 – O confessor, o diretor depositário da vossa obediência, deve ser cheio de caridade, de virtude, de sabedoria e de prudência. Ser-vos-á de grande vantagem lerdes sobre este ponto a Introdução à Vida Devota, de S. Francisco de Sales.
10 – Observai, enfim, que podeis ter um padre para confessor e outro para diretor. S. Francisco de Sales dirigia por seus conselhos e cartas muitas almas, das quais não era o confessor ordinário. “Ao diretor, diz o nosso Santo, descobrimos toda a nossa alma, ao confessor declaramos só os pecados.” Para o cargo de confessor exigem-se menos requisitos; para o de diretor são necessárias altas qualidades.
Direção para Sossegar Nas Suas Dúvidas As Almas Timoratas pelo Rev. Pe. Quadrupani Barnabita, 1905.