Direção para as almas timoratas: Tentações

Oração matinal [detalhe] Assinado e datado de E.N.Downard - 1860-61, entre 1860 e 1861 - Domínio público - Wikimedia Commons

As Tentações

1 – Se somos tentados, é sinal de que Deus nos ama, diz o Espírito Santo. Os mais amados de Deus tem sido os mais tentados. O anjo disse a Tobias: “porque vós éreis agradável a Deus, foi preciso que a tentação vos experimentasse.”

2 – Não rogueis a Deus que vos livre da tentação; pedi-lhe antes a graça de sairdes vitorioso dela e de cumprirdes a santa vontade do Senhor. Tende confiança em Deus, e Deus combaterá em vós, convosco e por vós.

3 – As tentações vêm do demônio e do inferno, diz S. Francisco de Sales; mas a tristeza que experimentais por causa delas vem de Deus e do paraíso. As mães são de babilônia. Mas as filhas de Jerusalém. Desprezai, portanto as tentações, e amai essa aflição pela qual Deus quer purificar-vos para vos coroar depois.

4 – Deixai soprar o vento; e não tomeis o murmúrio das folhas pelo estrondo das armas. É certo que um Pai de infinito amor, como Deus é, não permitirá nunca que seus filhos sejam tentados, senão para que mereçam e sejam recompensados.

5 – Quanto mais demorada for a tentação, tanto mais se torna manifesto que não consentis nela. Foi por isso que S. Francisco de Sales disse: “Se o demônio continua a bater à porta do vosso coração, é sinal de que ainda lá não entrou.” O inimigo não pega em armas, nem dá batalhas a uma fortaleza já em seu poder. Se o combate continua, é uma prova certíssima de que a resistência continua também.

6 – Tendes receio de que sejais vencido ainda no meio do vosso triunfo? A origem do vosso receio nasce de confundirdes duas coisas: o sentimento e o consentimento, a imaginação e a vontade, sentir a tentação e consentir nela. A imaginação ordinariamente não depende da vontade. S. Jerônimo estava no deserto, e a sua imaginação representava-lhe, a seu pesar, as danças das damas romanas; tinha o corpo gelado de penitência, e trazia no seio o braseiro importuno do fogo da concupiscência. No meio destes cruéis combates, havia no Santo sentimento, mas não consentimento; sentia-se aflito, mas não era culpado; quanto mais sofria, mais merecia.

7 – Foi o que fez dizer a Santo Antônio abade: “Vejo-vos, mas não olho para vós.” Vejo-vos, porque a imaginação representa-me o que não quero; mas não olho para vós, porque a vontade não consente nem se deleita.

É tanto da natureza do pecado ser voluntário, diz S. Agostinho, que, sem a vontade, não há pecado. (1).

8 – O deleite dos sentidos e a força da imaginação são às vezes tão violentos, que parece arrastarem o consentimento da vontade; mas não é assim; a vontade ressente-se, mas não consente; é combatida, mas não vencida. É a lei dos membros, de que fala S. Paulo, opondo-se à lei do entendimento. Por ela ressentimo-nos do que não queremos; ora, é certo que não queremos aquilo de que nos ressentimos.

9 – Sucede que Deus não vos deixa conhecer que não consentistes na tentação, para que vos sujeiteis às decisões do vosso diretor. Por isso quando ele vos disser que não consentis ou que não consentistes deveis crê-lo firmemente, e ficar tranquilo, sem receio de que ele vos não haja compreendido bem, sondado suficientemente, ou que vos não tenhais explicado quanto era preciso. Isso são artifícios do demônio para arrebatar o mérito da obediência. Se devêssemos dar atenção a esses receios, todo o ato de obediência seria iludido como dissemos mais acima, e já não seria Deus a quem veríamos na pessoa do diretor.

10 – Para cometer um pecado mortal são necessárias três coisas: 1. Matéria grave; 2. Pleno conhecimento da parte do espírito; 3. Inteira malícia da vontade. Estas considerações servirão para sossegar-vos, quando se levantarem no vosso coração receios de terdes pecado; porque todas estas condições dificilmente se encontram nas almas que temem o Senhor. Mas a perfeição deste sossego deve vir da obediência.

11 – Nas tentações contra a fé e a pureza não vos ocupeis em fazer atos diretamente contrários; mas, para lhes não aumentardes a violência, contentai-vos com erguer uma vista de amor para Deus; ocupai-vos em coisas exteriores, e, como se não fosseis tentado, continuai a fazer o que estáveis fazendo, sem vos perturbardes um só instante e sem responderdes aos inimigos. Conservareis assim a paz do coração e o demônio será confundido.

12 – Ainda que as tentações durassem toda a vossa vida, não vos inquieteis. É por elas que se enriquecerá a vossa coroa. Somente vos deveis conservar firme no desprezo da tentação e do tentador.

13 – Os mais doutos teólogos e os Padres da vida espiritual observam que o desprezo da tentação é um ato contrário mais eficaz do que a palavra. Lede com atenção os capítulos III e IV da Introdução à Vida Devota: neles encontrareis abundância de luzes e consolações.

Direção para Sossegar Nas Suas Dúvidas As Almas Timoratas pelo Rev. Pe. Quadrupani Barnabita, 1905.

(1) De Vera Rellglone, L. I. cap. XIV.

Última atualização do artigo em 17 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico

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