Do Liberalismo à Apostasia: Vaticano II – Triunfo do Liberalismo dito Católico

Não creio que me possam chamar de exagerado, quando digo que o Concílio representou o triunfo das idéias liberais; os capítulos anteriores expuseram suficientemente os fatos: as tendências  liberais, as táticas e os êxitos dos liberais no Concílio e finalmente seus pactos com os inimigos da Igreja.

Os próprios liberais, os católicos liberais, proclamam que o Vaticano II foi a sua vitória. Na entrevista com o jornalista Messori, o Cardeal Ratzinger, antigo “especialista” do espírito liberal do Concílio explica como Vaticano II planejou e resolveu o problema da assimilação dos princípios liberais pela Igreja Católica; não diz que terminou em um êxito admirável, mas afirma que a assimilação foi feita:

“O problema dos anos sessenta era adquirir os melhores valores aparecidos na era da cultura ‘liberal’. São valores que mesmo nascidos fora da Igreja, podem encontrar seu lugar depois de depurados e corrigidos, na sua visão do mundo. É o que foi feito”[243].

Como se fez isto? Sem dúvida no Concílio, que ratificou os princípios liberais em “Gaudium et Spes” e “Dignitatis Humanae”. Como se fez? Mediante uma tentativa condenada ao fracasso, do  tipo da quadratura do círculo: casar a Igreja com os princípios da Revolução. É precisamente o fim, a ilusão dos católicos liberais.

O Cardeal Ratzinger não se ufana muito da empresa, inclusive julga o resultado com severidade:

“Mas agora o clima é diferente, ficou escurecido em relação àquele que justificava um otimismo sem dúvida ingênuo. Agora é preciso procurar novo equilíbrio”[244].

Portanto o equilíbrio ainda não foi encontrado, vinte anos depois! Entretanto continua a procura: é a ilusão liberal de sempre!

Menos pessimistas, outros católicos liberais pelo contrário, cantam abertamente a vitória: o Concílio é nossa vitória. Leiam por exemplo a obra de Marcel Prelót, membro do “Doubs”, sobre a história do catolicismo liberal[245]. O autor começa por colocar em destaque dois textos, um de Paulo VI e um de Lamennais, cuja comparação é reveladora. Eis abaixo o que diz Paulo VI na mensagem do Concílio aos governantes, em 8 de dezembro de 1965:

“O que vos pede esta Igreja depois de quase dois mil anos de problemas de todo tipo em sua relação convosco, poderes da terra: o que vos pede hoje? Ela já vos disse em um dos textos mais importantes do Concílio: não vos pede mais do que Liberdade”. Eis aqui o que escrevia Lamennais, em um prospecto destinado a fazer conhecer seu diário “L’Avenir”:

“Todos os amigos da religião devem compreender que ela necessita somente de uma coisa: a liberdade “.

Então como podem ver, tanto em Lamennais como no Vaticano II, trata-se do mesmo princípio liberal de “somente a liberdade”; nada de privilégios para a verdade, para Nosso Senhor Jesus Cristo, para a Igreja Católica. Não! A mesma liberdade para todos: para o erro como para a verdade, para Maomé como para Jesus Cristo. Isto não  é o reconhecimento do mais puro liberalismo “chamado católico”?

Marcel Prélot relembra a história deste liberalismo, até seu triunfo  no Vaticano II:

“O liberalismo católico (…) conhece vitórias; aparece com a circular de Eckstein em 1814; brilha com a grande difusão de “L’Avenir” no outono de 1830; conhece vitórias e crises alternadas até que a mensagem do Vaticano II aos governantes marca seu fim: suas reivindicações fundamentais, aprovadas e depuradas, são recebidas pelo próprio Concílio. Também hoje é possível considerar o liberalismo católico, tal como é em si mesmo. Escapa às confusões que atrapalharam sua carreira, que em certos momentos estiveram a ponto de fazê-la terminar prematuramente; assim vemos que não é uma sucessão de ilusões piedosas professadas por sombras transparentes, mas como um pensamento comprometido, havendo imposto sua influência durante um século e meio sobre os espíritos e sobre as leis, antes de receber a aceitação definitiva desta Igreja,  que ele havia servido tão bem, mas onde havia sido tão freqüentemente desconhecido”.

Isto confirma o que havíamos dito: o Vaticano II é o Concílio do triunfo do Liberalismo.

Tem-se mais uma confirmação ao ler o livro de M. Yves Marsaudon “L’oecuménisme vu par Franc-maçon de Tradition”, escrito durante o Concílio. Marsaudon sabe o que diz:

“Os cristãos não devem esquecer que todos os caminhos conduzem a Deus (…) e se manter nesta valente noção da liberdade de pensar, que agora se pode falar de revolução saída de nossas lojas maçônicas, que se estendeu magnificamente sobre a cúpula de São Pedro”.

Ele triunfa, nós choramos! E o autor acrescenta estas linhas terríveis, entretanto verdadeiras:

“Quando Pio XII decidiu dirigir diretamente o importante Ministério de Assuntos Estrangeiros, a Secretaria de Estado, Mons. Montini foi elevado ao posto muito pesado de arcebispo da maior diocese da Itália, Milão, mas não recebeu a púrpura. Canonicamente não havia impedimento, mas era difícil, sob o ponto de vista da tradição vigente, que pela morte de Pio XII ele pudesse subir ao Supremo Pontificado. Então veio um homem, chamado João como o Precursor, e tudo começou a mudar”.

E este maçom, logicamente liberal, diz a verdade: todas as idéias pelas quais lutaram um século e meio, foram confirmadas pelo Concílio: liberdade de pensamento, de consciência e de cultos,  foram inscritas neste com a proclamação da liberdade religiosa de “Dignitatis Humanae” e a objeção de consciência de “Gaudium et Spes”. Isto não se fez por causalidade, mas graças a homens que, infectados de liberalismo, chegaram à Sede de Pedro e usaram seu poder para impor estes erros à Igreja. Sim, na verdade o Concílio Vaticano II é a consagração do catolicismo liberal. Quando se  lembra que o Papa Pio IX, setenta e cinco anos antes dizia e repetia àqueles que visitavam Roma: “Atenção, não há piores inimigos para a Igreja do que os católicos liberais!”. Pode-se sentir então que catástrofe constituiu para a Igreja e para o reinado de Nosso Senhor Jesus Cristo, tais papas liberais e tal Concílio!

Do Liberalismo à Apostasia – Mons. Marcel Lefebvre – Fonte: Dominus Est

243 Revista mensal “Jesus”, novembro de 1984, pág. 72.

244 Idem (nota 1).

245 Armand Colin, Ed.

Última atualização do artigo em 17 de dezembro de 2024 por Arsenal Católico

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