Ó Espírito Santo que Vos dignais habitar em mim, ajudai-me a abrir-me totalmente à Vossa ação.
1 – A Encíclica “Mystici Corporis” afirma que “o Espírito Santo é a alma da Igreja”. Alma significa “princípio de vida”. Esta afirmação equivale a dizer que o divino Paráclito é Aquele que faz viver a Igreja; como a alma é o princípio da vida do corpo, assim o Espírito Santo é o princípio da vida da Igreja, Corpo Místico de Cristo (cfr. Divinum illud munus).
Vimos que o Espírito Santo estava na alma de Cristo para O dirigir ao cumprimento da Sua missão redentora. Jesus teria podido realizar completamente só a Sua missão, mas quis associar a Si também a Igreja; devendo a Igreja, portanto, prolongar a obra de Cristo, precisa do mesmo impulso que movia a Sua alma, tem necessidade do Espírito Santo. De fato Jesus, sobre a cruz, mereceu-nos o Seu Espírito: com a Sua morte Ele expiou o pecado, que é o obstáculo à invasão do Espírito Santo e depois, quando voltou para o céu, enviou-O aos Apóstolos, representantes de toda a Igreja. E ainda agora, já sentado glorioso à direita do Pai, intercedendo por nós sem cessar, juntamente com o Pai, envia à Igreja o Espírito Santo que lhe tinha prometido. E eis que o divino Espírito opera na Igreja o que operava na Alma santíssima de Cristo: impulsiona-a, move-a, impele-a ao cumprimento da vontade de Deus, a fim de que ela cumpra a sua missão, e prolongue através dos séculos, a obra redentora do Salvador. Por isso, os antigos Padres disseram que o Espírito Santo é a alma da Igreja e no “Credo” a própria Igreja O invoca: “Dominum et vivificantem!” Assim com a alma é princípio de vida, assim o Espírito Santo vivifica a Igreja: Ele é o impulso de amor que acende nela o zelo pela glória de Deus e pela salvação das almas, que dá luz e força aos Pastores, que afervora e anima os apóstolos, que dá coragem e fé invencível aos mártires.
2 – A Igreja, sendo a “sociedade” dos fiéis é constituída precisamente pela sua união; são os fiéis, somos nós, que formamos a Igreja. Portanto, dizer que Jesus mereceu o Espírito Santo para a Sua Igreja, equivale a dizer que O mereceu para nós; dizer que Jesus, juntamente com o Pai, mandou e continua a mandar o Seu Espírito à Igreja, é dizer que lhO mandou e no-lO continua a mandar. Neste mesmo sentido se exprime a Enc. “Mystici Corporis“: O Espírito Santo “foi comunicado à Igreja em copiosíssima efusão, a fim de que cada um dos seus membros seja de dia para dia mais semelhante ao Redentor”. O Espírito Santo, pois, exerce o Seu influxo não só no Corpo da Igreja, mas também em cada alma em que habita como “doce hóspede”. Ele está em nós para invadir as nossas almas, para as santificar, para nos formar à imagem de Cristo, para nos impelir a prolongar a Sua missão redentora; Ele é o Impulso de amor que nos move a cumprir a santa vontade de Deus, que nos orienta para a glorificação da Santíssima Trindade, que nos leva a Deus.
Mas se o Espírito Santo é um impulso de amor que desce a nós para nos santificar, para nos levar a Deus, porque é que nós todos não nos tornamos santos? Eis um mistério que põe em foco a nossa tremenda responsabilidade. O Espírito Santo, juntamente com o Pai e o Filho, criou-nos livres, quer-nos tais e por isso, vindo a nós, respeita e não violenta a nossa liberdade; mesmo desejando entrar na nossa alma e invadir-nos, não o faz se nós não Lhe dermos livre acesso. Vem a propósito lembrar o grande princípio sobre o qual Sta Teresa de Jesus gostava tanto de insistir: “Deus não quer forçar a nossa vontade, toma o que Lhe damos, mas não Se dá a Si de todo até que nos demos de todo a Ele” (Cam. 28, 12). Se não nos santificamos não é porque o Espírito Santo não o queira – Ele foi enviado e vem a nós para isso – mas porque não damos plena liberdade à Sua ação. Eis o ponto em que faltamos: não usamos da nossa liberdade para abrir totalmente a nossa alma à Sua poderosa e amorosa invasão. Se a nossa vontade Lhe abrisse completamente as portas, o Espírito Santo tornar-nos-ia sob a Sua direção e assim nos tornaríamos santos.
Colóquio – “Ó Espírito Santo, Vós formastes o nosso Redentor no seio preciosíssimo da Virgem Maria; Vós animastes Jesus, guiando-O em tudo o que Ele pensou, disse, fez e sofreu durante a Sua vida terrena e no sacrifício de Si mesmo que, sobre a cruz, ofereceu ao Pai por nós. E quando Jesus subiu ao céu, Vós viestes à terra para nela estabelecerdes o Corpo Místico de Cristo que é a Igreja, aplicando então a este Corpo os frutos da vida, do Sangue, da Paixão e da Morte de Cristo. Sem isso, Jesus teria sofrido e morrido inutilmente. Além disso, ó Espírito Santo, Vós descestes a nós no Batismo para que se formasse Jesus Cristo nas nossas almas, para que fôssemos incorporados nEle, para nos fazerdes nascer e viver nEle, para nos aplicardes os efeitos e os méritos do Seu Sangue e da Sua morte. Sois Vós que nos animais, inspirais, impelis e conduzis em tudo aquilo que devemos pensar, dizer, fazer e sofrer por Deus. Como deveria ser então a nossa vida? Oh! deveria ser uma vida toda santa, toda divina, toda espiritual, segundo a palavra de Jesus: ‘aquele que nasce do Espírito, é Espírito’!
“Ó diviníssimo Espírito, eu me entrego todo a Vós. Tomai posse da minha alma, guiai-me em todas as coisas e fazei que eu viva como uma autêntico filho de Deus, como um membro não degenerado de Jesus Cristo, e como uma coisa que, nascida de Vós, a Vós totalmente pertence e por Vós deve ser totalmente possuída, animada, conduzida” (S. João Eudes).
“Ó Espírito Santo, alma da minha alma, eu Vos adoro. Iluminai-me, guiai-me, fortificai-me, consolai-me, ensinai-me o que devo fazer, dai-me as Vossas ordens; eu prometo-Vos submeter-me a tudo o que desejais de mim e aceitar tudo o que permitirdes que me aconteça” (Card. Mercier).
Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.