Domingo da Paixão – Pe. Júlio Maria, S.D.N.

Ticiano, Bênção de Cristo [detalhe], por volta de 1570, Public Domain - Wikimedia Commons

Domingo da Paixão – (Jo. 8, 46-59)

  1. Naquele tempo, disse Jesus aos judeus: Qual de vós me arguirá de pecado? Se vos digo a verdade, por que não me credes?
  2. Aquele que é de Deus, escuta a palavra de Deus. Por isso, vós não a escutais, porque não sois de Deus.
  3. Responderam os judeus: Não temos nós razão em dizer que tu és samaritano e tens demônio?
  4. Replicou-lhes Jesus: Eu não tenho demônio, mas honro a meu pai; vós, porém, me injuriastes.
  5. Eu não procuro a minha glória; outro há que a procura e faz justiça.
  6. Em verdade, em verdade vos digo que, se alguém guardar a minha palavra, não verá a morte eternamente.
  7. Disseram-lhe então os judeus: agora conhecemos que estás possesso do demônio; Abraão morreu e os profetas morreram; e tu dizes: Se alguém guardar a minha palavra não verá a morte eternamente.
  8. Acaso és tu maior do que o nosso Pai Abraão, que morreu? E do que os profetas, que também morreram? Quem pretendes ser?
  9. respondeu-lhes jesus: Se eu me glorifico a mim mesmo, minha glória nada vale; meu Pai é que me glorificou; aquele que vós dizeis ser vosso Deus;
  10. Mas não o conheceis; eu, porém, conheço-o; e, se dissesse que não o conheço, seria mentiroso como vós. Mas eu o conheço e guardo a sua palavra.
  11. Abraão, vosso Pai, desejou ansiosamente ver o meu dia, viu-o e exultou de alegria.
  12. Disseram-lhe os judeus: Ainda não tens cinquenta anos, e viste Abraão?
  13. Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: Antes que Abraão fosse feito, eu sou.
  14. A estas palavras pegaram em pedras para lhe atirarem; Jesus, porém, se ocultou e saiu do templo.

JESUS CRISTO É DEUS

O Evangelho de hoje nos apresenta uma das numerosas cenas em que Jesus Cristo prova a sua divindade e a sua missão divina.

Só Deus pode dizer: Quem de vós me arguirá de pecado, sem receio de ser desmentido.

Todos nós somos pecadores. Ele é o justo, o Santo.

A sua santidade não é uma santidade adquirida pela luta, como a nossa; é uma santidade transcendente, criadora, e esta é própria de Deus.

Para consolidar a nossa fé em Jesus Cristo, recolhamos hoje as manifestações da sua divindade em duas espécies de afirmações do próprio Jesus:

  1. Ele AFIRMA que é Deus.
  2. Ele o PROVA pelos milagres.

I. JESUS AFIRMA QUE É DEUS

Tais afirmações são numerosas; citemos umas das mais curtas e decisivas:

Eu e o Pai somos uma e mesma coisa. (Jo. 17, 5).
O Pai está em mim e eu estou no Pai. (Jo. 10, 38).
Assim como o Pai tem a vida em si mesmo, assim também deu Ele ao Filho ter a vida em si mesmo. (Jo. 5, 26).
Foi-me dado todo poder no céu e na terra. (Mat. 28, 18).
Assim como o Pai ressuscita os mortos, e lhes dá a vida, assim também o Filho dá a vida a que quiser. (Jo. 5, 21).
Credes em Deus, crede também em mim. (Jo. 14, 1).

Todas estas palavras de Jesus provam que Ele é igual ao Pai. Ora, o Pai é Deus. Logo, Jesus Cristo o é.

Um dia, Jesus Cristo interroga aos Apóstolos: Quem dizeis vós que eu sou?

Simão Pedro responde em nome de todos: Tu és o Cristo, Filho de Deus vivo! (Mat. 16, 16).

Jesus louva-o e confirma a resposta, dizendo:

Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue, que to revelou, mas sim meu Pai que está nos céus!

Se a confissão de Pedro não fosse a expressão da verdade, Jesus a teria logo retificado, pois era incapaz de aprovar uma mentira.

Jesus vai além destas afirmações categóricas e chega a jurar que é o Filho de Deus.

Citado perante o tribunal de Caifás, e não podendo este último averiguar nenhuma falta digna de morte, dirige a Jesus esta intimação solene e oficial: Eu te conjuro, pelo Deus vivo, que nos digas se tu és o Cristo, o Filho de Deus bendito! (Mat. 26, 68).

E Jesus responde, em nome de Deus, alto e firme:

Tu o disseste!

E para mostrar que não se trata aqui de uma filiação adotiva como todo homem é filho de Deus, Ele ajunta: Eu vos digo que vereis depois o Filho do Homem sentado à direita do poder de Deus e vir sobre as nuvens do céu. (Mat. 26, 64).

Em outros lugares, Jesus dá a si mesmo o título de Filho unigênito de Deus. (Jo. 8, 16).

Tais termos são claros e não se prestam a uma interpretação equívoca.

II. JESUS O PROVA PELOS MILAGRES

As obras de Jesus Cristo que dão testemunho de sua divindade são principalmente os seus milagres.

Ora, o milagre é o selo, é o carimbo de Deus.

Só Deus pode fazer milagres.

E Jesus Cristo passou a vida fazendo milagres.

Ele se mostra o Mestre absoluto da natureza inanimada, convertendo água em vinho, multiplicando pães, caminhando sobre as águas, aplacando tempestades.

Ele se mostra o Mestre absoluto da natureza animada, curando as moléstias sem remédio, muitas vezes com uma simples palavra: Eu quero! E isto em pleno dia, aos olhos de todos.

Jesus se mostra o vencedor da morte.

A uma simples ordem sua, a filha de Jairo levanta-se.

O jovem de Naim, cujo cadáver estava sendo levado ao cemitério, levanta-se, à palavra de Jesus, cheio de vida.

Lázaro, morto, havia quatro dias, enterrado e em via de decomposição, à ordem de Jesus, levanta-se do seio dos mortos e anda.

Jesus é o dominador do inferno, ao ponto que os espíritos infernais, transidos de medo, em sua presença, o adoram e proclamam: Filho de Deus.

E como remate de todos os milagres, Jesus ressurgiu vivo ao terceiro dia, como o havia predito.

III. CONCLUSÃO

Notemos que Jesus faz tudo isso em virtude de seu próprio poder, sem auxílio de ninguém.

Não invoca espíritos, nem cai em transe, não se agita, nem se convulsiona.
Não faz dançarem mesas e cadeiras.
Não faz aparecer escrita automática.
Não tem necessidade de trevas.
Não precisa de penumbra ou de luz vermelha.

Ele que a luz do dia, porque os seus milagres são obra da luz, enquanto os pseudo-milagres dos médiuns são obras das trevas.

Jesus opera milagres, é perfeitamente Senhor de si, com a sua serena naturalidade, como tendo poder, na expressão dos pobres judeus.

Quem, por virtude própria, tem deste modo poder absoluto sobre a natureza inanimada, ou animada, os homens, a morte, o inferno e o céu?

Só Deus.

Jesus podia, pois, dizer-se Filho de Deus e Ele o é verdadeiramente.

E se Jesus Cristo é Deus, a sua doutrina é divina.

Ela deve, pois, ser aceita e praticada integralmente, sendo a única capaz de levar as almas à salvação.

Comentário Dogmático, Padre Júlio Maria, S.D.N., 1958.

Última atualização do artigo em 18 de dezembro de 2024 por Arsenal Católico

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