NOVO PROGRAMA
DOMINGO DA SEPTUAGÉSIMA
Senhor, aproximo-me de Vós com o vivo desejo de aprender a corresponder aos Vossos convites.
1 – O tempo da Septuagésima pode ser considerado como o vestíbulo da Quaresma, tempo clássico da reforma espiritual; por isso a liturgia apresenta-nos hoje o programa do que devemos fazer para nos dispormos para uma nova e séria conversão a fim de ressuscitarmos depois com Cristo na próxima Páscoa. A coleta da Missa, lembrando-nos que somos pecadores, convida-nos a sentimentos de profunda humildade: “para que nós, que justamente somos afligidos por nossos pecados, sejamos misericordiosamente livres”. O primeiro passo para a conversão é sempre o reconhecer humildemente que temos dela necessidade. O tíbio deve tornar-se fervoroso, o fervoroso chegar à perfeição e o perfeito deve atingir o heroísmo da virtude. Quem poderá dizer que já não precisa de fazer algum progresso na virtude e na santidade? Cada novo progresso realiza uma nova conversão a Deus, conversio ad Deum. Na sua Epístola, (I Cor. 9, 24-27; 10, 1-5), S. Paulo estimula-nos a este contínuo esforço espiritual: para chegar à santidade, à glória do céu, nunca devemos deixar de correr e lutar como os jogadores que lutam e se cansam no estádio “para alcançarem uma coroa corruptível. Nós, porém, uma incorruptível. Quanto a mim – diz o Apóstolo – corro… combato, não como quem açoita o ar, mas castigo o meu corpo e o reduzo à escravidão”. Eis o primeiro ponto do programa: luta generosa para nos vencermos a nós próprios, para vencer o mal e conquistar o bem; abnegação do próprio corpo pela mortificação física. O prêmio será só para quem se cansa e luta: corramos, portanto, também nós, de modo a alcançar o prêmio.
2 – O Evangelho (Mt. 20, 1-6), apresenta-nos a segunda parte do programa deste tempo litúrgico: não permanecer ocioso, mas trabalhar assiduamente na vinha do Senhor. A primeira vinha que devemos cultivar é a nossa alma; Deus vem-nos ao encontro com a Sua graça, mas não quer santificar-nos só: espera a nossa colaboração. Neste domingo renova-se para cada alma o grande apelo à santidade; Deus vai amorosamente à procura dos filhos dispersos e ociosos e repreende-os docemente: Porque estais aqui sem fazer nada? “Deus – diz Sta M. Madalena de Pazzi – chama a diversas horas porque são diversos os estados das criaturas; e nesta variedade bem se descobre a grandeza de Deus e a Sua benignidade que nunca cessa – qualquer que seja o tempo ou estado em que nos encontremos – de nos chamar com as Suas divinas inspirações”. Felizes aqueles que desde a sua juventude ouviram e seguiram o apelo divino! Porém, todas as horas são de Deus, e Deus passa e chama até á última hora. Que consolação e, ao mesmo tempo, que estímulo, responder finalmente ao chamamento do Senhor! “Oxalá que ouçais hoje a Sua voz! Não endureçais os vossos corações” (Salmos 94, 7 e 8).
Além da vinha da nossa alma, devemos considerar a vinha da Igreja, onde tantas almas esperam ser conquistadas para Cristo. Ninguém pode julgar-se dispensado de pensar no bem dos outros; por humilde que seja o nosso lugar no Corpo Místico de Cristo, todos somos Seus membros e, por consequência, cada um de nós deve cooperar para o bem alheio. Para todos existe a possibilidade duma ação apostólica eficaz através do exemplo, da oração e do sacrifício. Se até agora temos feito pouco, ouçamos hoje a palavra de Jesus: “ide vós também para a minha vinha”. Vamos e abracemos com generosidade o trabalho que o Senhor nos apresenta. Nada nos deve parecer demasiadamente custoso quando se trata de ganhar-Lhe almas.
Colóquio – Abençoai, Senhor este novo período litúrgico que hoje começa e fazei que, penetrando no seu espírito, me disponha, com a Vossa ajuda, para uma séria reforma da minha vida espiritual. Concedei-me humildade sincera para reconhecer as minhas misérias e saber ver-me tal como sou diante de Vós, sem me deixar enganar pela falsa luz proveniente do meu amor próprio que pretende fazer-me passar por melhor do que sou. Se em frente de Vós quero considerar a minha miséria, não é para desanimar. “No meio das minhas tribulações invoco-Vos, meu Deus, e Vós do Vosso templo santo ouvis sempre a minha oração… Vós sois a minha força, ó Senhor, o meu amparo, o meu refúgio e o meu libertador. Sois o meu auxílio no tempo das tribulações; aquele que Vos conhece espera em Vós porque nunca abandonais quem Vos procura. Das profundezas chamei por Vós, ó Senhor, Senhor ouvi a minha voz. Se julgais as nossas iniquidades, quem poderá subsistir? Mas perto de Vós está a misericórdia; por causa da Vossa lei confio em Vós, Senhor!” (cfr. Missa do dia).
Infundi em mim, ó Jesus, nova força a fim de recomeçar com mais coragem a marcha que me deve levar à conquista da corruptível coroa da santidade. “Para vencer a repugnância da minha natureza, prometo-Vos declarar uma guerra sem tréguas contra mim mesmo; as armas para o combate serão: a oração, a presença de Deus e o silencio. Mas, ó meu Amor, Vós conheceis bem a minha incapacidade no manejo destas armas. Não obstante, armar-me-ei com as armas duma confiança absoluta em Vós, paciência, humildade e conformidade ao Vosso querer divino, unidas a uma suma diligência… E quem me ajudará a combater numa guerra contínua contra tantos inimigos a combater numa guerra contínua contra tantos inimigos que pelejam contra mim? Ah! Bem vejo que Vós, ó meu Deus, quereis ser o meu capitão e, arvorando o estandarte da cruz, amorosamente me dizeis: – Vem após mim e não duvides” (T>M> Sp. Pg. 323 e 324).
Ó meu Senhor, já não quero opor mais resistência ao Vosso convite. Fazei que esta seja para mim a hora decisiva em que responda com plena generosidade e perseverança, ao Vosso chamamento. Chamais-me e eu vou: vou à Vossa vinha, ó Senhor, mas se não me acompanhais e amparais no trabalho, não conseguirei fazer nada. Vós que me chamais, ajudai-me a fazer aquilo que me pedis.
Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.
Última atualização do artigo em 22 de abril de 2025 por Arsenal Católico