Ó Santíssima Trindade, fazei que a consideração do Vosso mistério gere em mim uma profunda humildade, uma fé cega e um amor ardente.
1 – O que Jesus nos revelou e a Igreja, apoiando-se nas Suas palavras, nos ensina acerca da Trindade, é suficiente para nos dar a conhecer a existência deste mistério, mas não para no-lo fazer compreender. Pelo contrário, este é o mistério da nossa fé mais inacessível à razão humana; em face dele experimentamos mais do que nunc a desproporção infinita entre a nossa inteligência e os mistérios divinos, sentimos a enorme distância que medeia entre nós, pequenas criaturas, e Deus, o Ser supremo, o Altíssimo.
Tudo isto é muito bom, porque nos faz tomar perante Deus aquela atitude que verdadeiramente corresponde à nossa condição de criaturas: atitude de humildade, de humilde submissão e reverente adoração. Quando nos pomos em face do grande mistério trinitário, sentimos como nunca a necessidade de repetir humildemente: “nihil sumus, nihil possumus, nihil valemus“; nada somos, nada podemos, nada valemos (S. João Eudes) e, ao mesmo tempo, de exalta a inacessível grandeza do nosso Deus: “Santus, Sanctus, Sanctus, Dominus Deus Sabaoth“; Santo, Santo, Santo, Senhor Deus dos exércitos, só Vós sois santo, só Vós sois onipotente, só Vós valeis, só Vós sois Aquele que é.
A razão fica cega pela grandeza do mistério, mas a razão iluminada pela fé não se perde: reconhece a sua inferioridade e, submetendo-se à revelação divina, crê. Ato de fé tanto mais meritório e sobrenatural, quando menos pode apoiar-se em raciocínios humanos; ato de fé que honra tanto mais a Deus, quanto mais cegamente adere à Sua palavra. “Quanto mais as verdades da fé se elevam acima do natural – diz Sta Teresa de Ávila – tanto mais firmes as tenho e maior devoção me fazem. Longe de me espantarem, são um motivo para mais louvar a Deus” (Vi. 19, 9; 28, 6). Tal é a fé da alma humilde perante o mistério da Santíssima Trindade.
2 – A consideração do mistério trinitário leva-nos a uma atitude não só de humilde reverência e fé cega, como também de profundo amor filial. “A característica da amizade – diz S. Tomás – é que o amigo revela ao amigo os seus segredos”. Tal é a característica do amor de Deus para conosco, já que, revelando-nos o mistério da Trindade, nos desvendou o segredo da Sua vida íntima, para o qual não tínhamos nenhum direito a dirigir o olhar. Se não possuíssemos outras provas do amor de amizade que Deus nos tem, a revelação deste mistério seria mais que suficiente para dele nos persuadir. Confiou-nos os segredos do Seu Coração, abriu-nos o mistério da Sua vida pessoal, admitiu-nos à Sua intimidade. tudo isto nos convence cada vez mais da excessiva caridade com que Deus nos amou, tanto mais que não Se contentou com revelar-nos o Seu mistério, mas quis dar-Se a nós como trindade gloriosa. Depois de nos ter chamado á existência, o Pai deu-Se a nós sacrificando o Seu Unigênito para nossa salvação; o Filho deu-Se a nós incarnando, morrendo por nós na cruz e fazendo-Se nosso alimento; o Espírito Santo deu-Se a nós, vindo habitar nas nossas almas, a fim de nelas derramar a graça e a caridade. Se a Santíssima Trindade Se deu a nós a tal ponto, foi para nos elevar ao estado de filhos e para nos introduzir, como tais, no círculo da Sua família divina. Através do Evangelho vemos toda a Trindade inclinar-Se sobre o homem para o remir, para o santificar, para o tornar participante da Sua natureza divina e da Sua bem-aventurança eterna. Vemos o Pai que nos rodeia com a Sua paternal misericórdia e providência; vemos o Filho que Se faz um de nós e derrama por nós todo o Seu Sangue; vemos o Espírito santo que santifica as nossas almas infundindo em nós a graça e o amor.
Sim, na presença da trindade, somos apenas pequenas criaturas, infinitamente distantes da Sua divina majestade e, contudo, a Trindade inclinou-Se sobre nós e atraiu-nos a Si, amando-nos com um amor eterno: “in caritate perpetua dilexi te, ideo atraxi te miserans tui” (Jer. 31, 3).
Colóquio – “A minha fé invoca-Vos, ó Trindade beatíssima, com voz clara e sincera; aquela fé que, alimentada por Vós desde o berço, iluminastes sempre com as ilustrações da Vossa graça, e aumentastes e fortalecestes em mim com a doutrina da Santa Madre Igreja.
“invoco-Vos, ó Trindade bem-aventurada, bendita, gloriosa e una: Pai, Filho e Espírito Santo; Deus, Senhor e Paráclito; graça, caridade e comunicação.
“Ó três iguais e coeternas Pessoas, Deus uno e verdadeiro, Pai, Filho e Espírito Santo, que só habitais na eternidade e na luz inacessível, que fundastes a terra com o Vosso poder e regeis o orbe da terra com a Vossa prudência; Santo, Santo, Santo, Senhor Deus dos exércitos, terrível e forte, justo e misericordioso, admirável, digno de todo o louvor e amável.
“Trindade una e indivisa, abri-me, pois Vos invoco… Estou à Vossa porta, ó Pai eterno, e bato; ordenai que se me abra, pois Vós dissestes: ‘Batei e abrir-se-Vos-á’. Batem à Vossa porta, ó Pai misericordiosíssimo, os desejos o meu coração anelante, os meus clamores e as lágrimas dos meus olhos. Pai das misericórdias, escutai o gemido deste Vosso filho e estendei-lhe a Vossa mão protetora… Sei, ó Senhor, sei e confesso que não sou digno de que Vós me ameis; Vós, porém, sois com certeza digno de ser amado por mim. Sou digno de Vos servir; Vós porém, sois digníssimo de ser servido pela Vossa criatura. Dai-me, pois, Senhor, aquilo de que Vós sois digno, e eu me tornarei digno daquilo que agora não mereço.
“Invoco-Vos, ó Trindade beatíssima, para que venhais a mim e me façais digno templo da Vossa glória. Oro ao Pai por meio do Filho; ao Filho, pelo Pai; oro ao Espírito Santo pelo Pai e pelo Filho, a fim de que se afastem de mim todos os meus vícios, e em mim sejam plantadas todas as virtudes” (Sto Agostinho).
Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.