Existência e conhecimento de Deus

Moisés e a sarça ardente, atribuido a Dirk Bouts, entre 1450 e 1475, domínio público, Wikimedia Commons

Moisés foi o grande patriarca do Antigo Testamento. Apascentava ele as ovelhas de seu sogro e tendo conduzido o rebanho para o deserto, chegou ao monte Horeb. Aí apareceu-lhe Deus numa chama de fogo que saía do meio de uma sarça (uma planta). Viu Moisés que a sarça ardia sem se consumir. Disse, pois, Moisés: Vou ver por que não se consome a sarça. Mas o Senhor chamou-o do meio da sarça e disse: Não te aproximes daqui, tira as sandálias de teus pés, porque o lugar em que estás é terra santa. E acrescentou: “Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de lsaac e o Deus de Jacob. Eu te enviarei para salvar os filhos de Israel”. E Moisés disse a Deus: “Eis que eu irei aos filhos de Israel e lhes direi: “O Deus de vossos pais enviou-me a vós! Se eles me perguntarem: Qual é o seu nome? Que lhes hei de responder?” E Deus disse a Moisés: “Eu sou o que sou”. E disse: Assim dirás aos filhos de Israel: Aquele que é enviou-me a vós” (Êx 3, 1-5) .

Deus exigiu de Moisés a humildade perante a sua presença. Queremos falar da existência de Deus. Aproximemo-nos dEle com humildade e com vontade pronta a aceitar a luz da verdade.

Antes de mais nada convém perguntar: Como podemos saber se Deus existe? Todos nós temos três meios à nossa
disposição para conhecer a Deus.

O primeiro meio é a razão humana. Ela é feita para buscar a explicação das coisas que aparecem neste mundo. É natural que a razão humana faça perguntas a respeito de todo o universo visível: donde vem este mundo, donde vem esta ordem maravilhosa que nele vemos, que finalidade tem o homem no mundo? E se a razão não acha resposta conveniente a estas perguntas no mundo visível, necessariamente tem que ir mais longe, ao mundo invisível, onde Deus mora na sua glória.

O segundo meio é oferecido pela nossa fé. Deus revelou a sua existência por homens escolhidos por Ele, os Profetas, e principalmente pelo seu único Filho, nosso Salvador Jesus Cristo. A vida heroica e santa desses profetas, a sua doutrina santa, são a garantia de que eles afirmaram a verdade e somente a verdade. E Jesus Cristo, o maior Profeta, o Filho de Deus, demonstrou com a sua ressurreição que seu ensinamento é verdadeiro. Portanto a nossa fé na existência de Deus é um conhecimento seguro, digno do homem que vive para a verdade.

O terceiro meio que conduz ao conhecimento de Deus são os milagres. O milagre é um fato raro no qual Deus suspende o valor das leis da natureza para mostrar o seu supremo domínio. É claro que nenhuma criatura é capaz de produzir um milagre. Por isso, onde acontece um milagre verdadeiro (por exemplo em Lourdes), a inteligência humana deve dizer: Quem fez isto é alguém que está acima da natureza. E Este ser não pode ser outro senão Deus.

A razão, a fé e o milagre, eis os três meios pelos quais chegaremos a descobrir a existência de Deus.

Na presente lição utilizamos principalmente a razão humana, o bom-senso, com o qual demonstramos que Deus
realmente existe.

Ninguém nega que em nosso mundo há uma ordem maravilhosa, uma harmonia entre as partes que o compõem. Ora, não se faz cair um dado sobre o mesmo número vinte vezes seguidas. Mas a natureza repete o mesmo número há milhares de séculos. Desde milhares de séculos tudo que nasce, tudo que vive, tudo que faz viver, tudo que cresce, tudo que decai, tudo que morre, obedece a uma única lei, segue a mesma ordem, passa pelos mesmos caminhos. Logo, é impossível que o acaso tenha criado o mundo; mas ele é obra de Deus, e portanto Deus existe.

E se alguém dissesse que o mundo se fez sozinho, deveríamos responder: assim como uma casa não se faz por si mesma, assim também o mundo precisa um construtor que o tenha feito e o conserve. E esse construtor é Deus, o supremo Senhor de todas as coisas.

Depois temos urna outra razão: até agora os cientistas e exploradores não descobriram um povo que não tivesse a ideia de Deus. Desde milhares de anos, em todos os lugares da terra, os homens de todas as raças, línguas e costumes se prostraram diante de Deus e O adoraram. É verdade que, muitas vezes, os povos primitivos tinham uma ideia errada de Deus, porém, mesmo assim – apesar dos erros – reconheciam a existência e a supremacia de Deus.

O terceiro argumento para a existência de Deus é a nossa consciência. Todos nós conhecemos aquela voz íntima em nossa alma, que aprova as nossas ações boas e reprova os nossos pecados. A voz da consciência se manifesta em nós corno uma lei que – quer queiramos ou não – deve ser aceita. – Esta lei é comum para todos: não depende só de mim, não depende de todos nós juntos. Mesmo que toda gente afirmasse que matar um inocente não seria um crime, nossa consciência diria que é.

Donde vem esta voz, esta lei? Se não vem de mim, nem dos outros, deve vir de uma autoridade que está sobre nós. Esta autoridade se chama Deus. Se a voz da consciência só pode vir de Deus, ouvindo nós esta voz, estamos ouvindo e dizendo que há um só Deus.

A existência de Deus, esta grande verdade, deve penetrar na nossa alma, deve ser acolhida pela nossa inteligência e pela nossa vontade. Façamos um propósito firme e inabalável de manter a nossa fé viva em Deus durante toda a nossa vida, em quaisquer circunstâncias. Proponhamo-nos de alimentar o nosso conhecimento de Deus com boas leituras, especialmente com a Sagrada Escritura, que deveria ser a leitura de nossas famílias nos dias dedicados ao Senhor (Domingos e festas de guarda) . E depois não nos esqueçamos que encontramos a Deus facilmente na nossa consciência e por isso devemos ter cuidado de ouvir a sua voz: É Deus que aí nos fala!

Exemplo. – Alguns exemplos nos mostram o que homens ilustres pensaram sobre a existência de Deus. Alguns estudantes espanhóis perguntaram um dia a Balrnes, filósofo do século passado, qual era para ele a prova mais forte de que Deus existe. O filósofo respondeu: Eu trago no bolso a prova de que Deus existe e tirou do bolso o relógio. Queria dizer: assim como o mecanismo do relógio não se fez por si mesmo, assim qualquer ser da natureza, sempre tão bem organizada. não pode ter sido feito por si mesmo, mas somente por Deus.

Na revolução francesa, um dos revolucionários ateus ameaçou um camponês dizendo: “Nós vamos destruir as “vossas igrejas, os vossos altares e acabar com a vossa religião”. E o camponês respondeu: “E vocês vão conseguir apagar as estrelas do céu? Enquanto houver estrelas no céu elas proclamarão a existência de Deus”.

Na Rússia e nos países dominados pelo comunismo procurou-se destruir a crença em Deus no meio do povo, mas
apesar de todas as perseguições contra a Igreja, o povo continua acreditando em Deus e no dia que for recuperada a
liberdade nessas Nações conheceremos melhor que o povo fez tudo para conservar sua fé em Deus.

Oração. – Ó Deus, que sois o supremo Senhor de todas as coisas, iluminai a nossa inteligência para que facilmente possamos descobrir a vossa existência. Iluminai a nossa razão, para que ela possa ver a vossa presença naquela ordem e harmonia, que domina o universo; fortificai a nossa fé, para que aceite os testemunhos de vossos profetas e principalmente para professarmos com toda convicção e por toda a nossa vida estas grandes verdades da religião católica: Deus existe, Deus reina no Universo, e Deus fala na voz da nossa consciência. Amen. Bendito seja o nome santo de Deus!!!

Como sinal de crença em Deus, nosso Pai, rezemos o “Creio em ‘Deus Pai…”

Resolução: Detestar o comunismo, porque nega e combate a Deus. O homem sem Deus é o pior de todos os órfãos.

Leituras de Doutrina Cristã, Parte I – Dogma, Padres Jesuítas de Três Poços, Pinheiral, Estado do Rio, 1958

Última atualização do artigo em 19 de dezembro de 2024 por Arsenal Católico

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