Festa da Exaltação da Santa Cruz

O Encontro da Verdadeira Cruz [Detalhe], de Agnolo Gaddi (1350-96). Basílica di Santa Croce, Florença, Itália.

A Igreja católica ocidental conhece a festa da Invenção da Santa Cruz, celebrada no quinto e sexto século, em memória da celebre aparição do sinal da Cruz, na batalha da ponte Milvia, que deu a vitória ao imperador Constantino sobre seu competidor Maxencio, e a festa da Invenção do Santo Lenho, pela Imperatriz Santa Helena. A liturgia dos nossos dias, porém, reserva o dia 3 de Maio à celebração da Invenção da Santa Cruz e à Aparição maravilhosa na batalha acima referida, dando-lhe o título: Festa da Invenção da Santa Cruz. O dia 14 de Setembro, dia da festa da Exaltação da Santa Cruz, comemora o glorioso fato da reconquista da Santa Cruz das mãos dos Persas.

Chosroes II, rei da Pérsia, pegara em armas contra o império oriental romano (610), sob o pretexto de querer vingar as crueldades que o Imperador  Phocas tinha praticado contra o Imperador Maurício. Phocas desapareceu e teve por sucessor Heraclio, governador da África. Este fez proposta de paz a Chosroes, o qual a rejeitou. Uma cidade após outra caiu em poder dos Persas, sem que Heraclio lhes pudesse tolher os passos. Senhor de Jerusalém, Chosroes praticou as maiores atrocidades contra sacerdotes e religiosos, reduziu à cinza as igrejas e entre outras preciosidades, levou também a parte do Santo Lenho, que Santa Helena tinha deixado na cidade santa.

Heraclio pela segunda vez pediu a paz. O rei bárbaro respondeu-lhe com arrogância e orgulho: “Os Romanos não terão paz, enquanto não adorarem o sol, em vez de um homem crucificado”. Vendo assim frustrados todos os esforços, Heraclio pôs toda a confiança em Deus e em 622 marchou contra a Pérsia. Vitorioso no primeiro encontro, na Armenia, no ano seguinte o exército cristão conquistou Gaza, queimou o templo, junto com a estátua de Chosroes, que nele se achava. Chosroes mesmo foi assassinado pelo próprio filho, com o qual Heraclio celebrou a paz. Uma das primeiras condições desta paz era a restituição do Santo Lenho, o qual foi por Heraclio levado em triunfo para Constantinopla.

Uma vez livre do jugo dos Persas, Heraclio resolveu a solene trasladação do Santo Lenho para Jerusalém. Na primavera do ano de 629, com grande comitiva, foi a Cidade Santa, Ievando consigo o Santo Lenho. Festas extraordinárias prepararam-se na Palestina. Em procissão soleníssima foi levada a Santa Cruz, para ser depositada na igreja do Santo Sepulcro, no monte Calvário. O lmperador tinha reservado para si a honra de carregar a preciosa relíquia. Chegada à procissão à porta da cidade que conduz ao Gólgota, Heraclio, como retido por forças invisíveis, não pôde dar mais um passo adiante. O patriarca Zacarias, que se achava ao lado do Imperador, levantou os olhos ao céu e como por inspiração divina, disse-lhe: “Senhor! lembrai-vos de que Jesus Cristo era pobre, quando vós andais vestido de púrpura; Jesus Cristo levava uma coroa de espinhos, quando na vossa cabeça vejo brilhar uma coroa preciosíssima; Jesus Cristo anelava descalço, quando vós usais calçado finíssimo.” Heraclio com humildade aceitou o aviso do patriarca. Sem demora tirou a coroa, trocou o manto imperial por uma túnica pobre, substituindo o rico calçado por sandálias e, tomando de novo o Santo Lenho, sem dificuldade alguma o levou até a última estação. Lá chegado, todo o povo se acercou da grande relíquia, venerando-a com muita fé. Muitos doentes recuperaram a saúde.

Para todos o dia 14 de Setembro de 629 foi um dia de triunfo e da mais pura alegria. Deus ainda o glorificou por milagres, dando a saúde a muitos enfermos.

REFLEXÕES

De grande veneração goza o Santo Lenho, que serviu de altar no grande sacrifício, que Jesus Cristo ofereceu no monte Calvário ao Pai celestial. Se tivésseis dele uma mínima partícula, não a consideraríeis um tesouro preciosíssimo e como tal, não a guardaríeis com muito amor e cuidado? Porque não estimais a Cruz, que Deus Nosso Senhor vos manda? Não é também uma partícula verdadeira da Cruz de Cristo, uma partícula, que, levada com paciência e resignação, como Jesus a levou, vos será de muito maior utilidade que o próprio Santo Lenho? Jesus Cristo denominou sua crucificação uma exaltação: “Cumpre que o Filho de Deus seja exaltado”. (Jo. 3, 14). De fato, pela Cruz Jesus Cristo foi exaltado sobre os céus e a terra. Assim sereis exaltados se, como e com Jesus Cristo levardes a cruz que ele vos impôs, isto é, com paciência e humildade. O mau ladrão carregou a cruz, maldizendo a sorte. O companheiro levou-a com sentimentos de arrependimento, reconhecendo nela o instrumento do justo castigo. Jesus Cristo não só a levou com paciência, mas como o Apóstolo expressamente diz: com alegria – e era inocente. Qual dos três carregadores de cruz é vosso modelo? Qual deles o será para o futuro? Sois bem-aventurados, se levais a vossa como o bom ladrão e Jesus Cristo, porque, tendo-os por companheiros e modelos nesta vida, com eles celebrareis a vossa Exaltação gloriosa e eterna, cujo feliz êxito está já marcado nos arcanos da divina Providência.

Na Luz Perpétua, Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus para todos dos dias do ano, apresentadas ao povo cristão por João Batista Lehmann, Sacerdote da Congregação do Verbo Divino, Volume II, 1935.

Última atualização do artigo em 11 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico

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