Festa da Imaculada Conceição de Nossa Senhora

O pecado do primeiro homem transmitiu-se lhe a todos os descendentes. Como um fogo devorador, devastou tudo e qual veneno mortífero infeccionou o mundo inteiro. Só uma criatura ficou isenta desta perdição universal: Maria Santíssima, a Virgem Mãe de Deus. A festa hodierna apresenta-nos este mistério, como manifestação gloriosa da bondade e da onipotência de Deus. Maria concebida sem pecado original, eis a doutrina da Igreja Católica, eis a fé que jubilosos confessamos.

A Igreja Católica definiu o dogma da Imaculada Conceição, baseando-se sobre as expressões da Sagrada Escritura e da tradição. Os livros bíblicos estão cheios das mais belas figuras, que se referem a Maria Santíssima, a Mãe do Salvador. Figura de Maria Santíssima foi a arca de Noé, (Gen. 6) que flutuou sobre as ondas do dilúvio, ficando salva da perdição universal. A sarça ardente de Moisés (Ex. 3. 2.) é imagem de Maria Santíssima, porque ardendo, o fogo não a consumia. Na torre de David, (Cant. 4. 4.) fortemente edificada e defendida contra todos os ataques inimigos, vemos simbolizada a Imaculada, contra a qual não puderam prevalecer os inimigos mais ferozes.  – Maria é o horto fechado (Cant. 4. 12.) aos estranhos e inimigos, que não conseguiram devasta-lo. – A celeste Sião (Apoc. 21. 18.) é ainda a bela visão, que extasia o profeta de Patmos, ao ver a cidade edificada de ouro puríssimo, dardejando raios de luz brilhantíssima.

Nos livros bíblicos encontramos expressões as mais claras, que a exegese católica com muita felicidade aplica à Mãe do divino Salvador. “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre tua e sua descendência e ela te esmagará a cabeça.” (Gen. 3. 15). O inferno é impotente diante da Mãe de Deus, que triunfará sobre Lúcifer. A cabeça da serpente é o pecado, e em Maria não há pecado. – “Sois toda formosa, minha amiga e em ti não há mácula”. (Cant.4. 7.) Maria é formosa, formosíssima, imaculada, e, portanto, isenta do pecado original. “O Senhor possuiu-me no princípio dos seus caminhos.” (Prov. 8. 22). Estas palavras se referem a Maria e afirmam que nunca esteve sujeita à lei do pecado. Deus a possuiu desde o princípio, razão esta porque o demônio nenhuma influência lhe pôde ter sobre o coração.

“Cheia sois de graça.” (Luc. 1. 20). Cheia de graça é Maria Santíssima, o receptáculo dos dons do Espírito Santo, tesouro infinito e abismo insondável de todos os bens e por isto acima de tudo que é pecado.

A doutrina do dogma da Imaculada Conceição acha defesa também na tradição da Igreja. Os escritos dos Santos Padres estão cheios de louvores a Maria Santíssima, dos quais o maior é sempre a sua mais alta prerrogativa, que é a Imaculada Conceição. Santo Efrem chama a Maria “a Virgem Imaculada, ilibada de toda a mácula do pecado, puríssima.” Santo Ambrósio, referindo-se a Maria, diz que é aquela, que “pela graça divina ficou isenta de toda a mácula do pecado.” S. Cypriano afirma: “Maria é diferente de todas as criaturas humanas: se lhes é igual em natureza, não tem a culpa que as macula”. Santo Agostinho escreve: “Se falo do pecado, não penseis que quisesse ou pudesse referir-me à Virgem Mãe de Deus.” Santo Anselmo declara: “É razoável supor na Santíssima Virgem uma pureza tal, que fóra de Deus não pode ser imaginada outra maior.”

A praxe da Igreja antiga em nada difere da doutrina dos Santos Padres. Os Papas dos primeiros tempos da Igreja permitiram a celebração de festas em honra da Imaculada Conceição, a invocação de Maria Santíssima sob este título. Consentiram que províncias e reinos inteiros escolhessem a Virgem Imaculada por padroeira e protetora. Deram aprovação a associações que se formaram, sob o título da Imaculada Conceição, e aplaudiram o zelo e a piedade daqueles que erigiram altares e igrejas em honra da Imaculada Conceição ou, por um voto solene, se comprometeram a defender sempre a Santíssima Virgem, concebida sem pecado original. A Igreja mesmo elevou à festa de primeira classe o dia da Imaculada Conceição, inseriu no prefácio e na Ladainha lauretana as palavras “Imaculada Conceição”, para assim documentar a fé neste augusto mistério.

O Papa Pio IX, em 8 de Dezembro de 1854, na presença de 200 Príncipes da Igreja e uma grande multidão de povo cristão, pronunciou solenemente a doutrina da Igreja sobre a Imaculada Conceição. Essas palavras, que ecoaram jubilosamente nos corações de todos os católicos do mundo, foram as seguintes: “Declaramos, anunciamos e determinamos que a doutrina que diz ter sido Maria, a Santíssima Virgem, desde o momento de sua conceição, por graça e privilégio excepcional de Deus e em atenção aos merecimentos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, preservada de toda a mancha do pecado original, é por Deus revelada e como tal deve ser aceita e firmemente acreditada pelos fiéis. Se alguns, o que Deus não permita, se atreverem a divergir desta nossa definição, saibam e conheçam que, por sentença própria, se condenaram e naufragaram na fé, separando-se da unidade da Igreja.”

Esta definição oficial da Igreja frisa três pontos:

1) Maria ficou isenta do pecado, desde o primeiro momento de vida;

2) Esta graça e privilégio extraordinário foram-lhe concedidos por uma distinção especial divina, em atenção aos merecimentos do Salvador;

3) Todo e qualquer que não aceitar este artigo de fé, peca gravemente e se exclui da Igreja Católica.

Pela nossa fé na Imaculada Conceição, honramos a Igreja, que é a representante de Deus na terra, a mestra da verdade.

E crendo, não corremos perigo de errar, porque a Igreja é a coluna e a base da verdade. Ela goza da assistência do divino Espírito Santo, que lhe foi prometido por Cristo e com ela ficará até ao fim dos tempos. A Igreja não nos engana, e é impossível que nos ensine o erro. Reconhecendo-a como mestra infalível da verdade, sujeitamos o nosso entendimento às suas decisões e cremos na Imaculada Conceição, por ela definido como dogma.

O amor que temos a Maria, faz que, com fé jubilosa, acreditemos na doutrina da Igreja, que eleva a Mãe de Deus sobre todas as criaturas humanas. O dogma da Imaculada Conceição mostra-nos Maria em toda a formosura.

Maria é aquela, em que as insídias da serpente não acham objetivo. Maria se nos apresenta como a esposa dos Cânticos, por cuja formosura o esposo se encanta. Maria surge diante de nós, como a bela aurora, formosa como a lua e eleita como o sol. Criatura nenhuma com Maria Santíssima se compara, em santidade e perfeição. Pela beleza, atrai os corações de todos, e todos os olhares se lhe dirigem, cheios de admiração e amor.

O dogma da Imaculada Conceição apresenta-nos Maria em toda a sua dignidade. Ela é a esposa Imaculada do Espírito Santo, desde o primeiro momento de sua existência, adornada com o amor do Altíssimo, e enriquecida com as mais admiráveis graças. Que dignidade!… Desta dignidade não podia prescindir. Seria possível o Filho de Deus, o Santo dos Santos, operar a grande obra da Encarnação nas entranhas de uma mãe que fosse sujeita, por um momento sequer, à lei do pecado e consequentemente à influência e ao poder do demônio?

A Imaculada Conceição é, de todas as prerrogativas de Maria Santíssima, a mais alta, e é este o dogma sublime, que tanto honra e eleva a Santíssima Virgem e enche de gozo e alegria os corações de seus filhos.

Ei-la o “lírio entre os espinhos” (Cant. 2. 2.) ei-la a Imaculada! Agradeçamos a Deus, que revestiu de tanta glória a Mãe do seu Filho Unigênito. Por uma vida santa e pura, procuremos tornar-nos dignos filhos de uma tão excelsa Mãe.

REFLEXÕES

Por um privilégio especialíssimo, Maria Santíssima ficou isenta da culpa original. A alma da Mãe foi criada no estado da graça santificante e nesta permaneceu. Graça igual não recebeste. Concebido em pecado, em pecado nasceste. Mas Deus purificou tua alma, no sacramento do batismo. Milhares e milhares não tiveram esta graça. Morreram sem o batismo, no estado de pecado. No céu não puderam entrar, porque nada de impuro lá entra. Porque te concedeu Deus, em sua infinita bondade, a graça do baptismo? Quanta gratidão deves, pois, a Deus tão bondoso por te ter dado tamanha distinção! O batismo, porém, é somente a primeira graça que recebes do Criador, para alcançares a vida eterna. Deve-se aliar-lhe uma vida santa, de perfeito acordo com os mandamentos da lei de Deus. “Aquele que disse ser necessário o batismo, o renascimento da água e do Espírito Santo, disse também: Se vossa justiça não for maior que a dos fariseus e escribas, não entrareis no reino dos céus! ” (Santo Agostinho).

Na Luz Perpétua, Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus para todos dos dias do ano, apresentadas ao povo cristão por João Batista Lehmann, Sacerdote da Congregação do Verbo Divino, Volume II, 1935.

Última atualização do artigo em 27 de fevereiro de 2025 por Arsenal Católico

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