Hereges e heresias: Erros contra o mistério da Encarnação

NESTORIANISMO

Com as heresias sobre a SS. Trindade, a doutrina católica ficou mais clara, pelas definições formuladas. O Verbo ou o Filho de Deus é verdadeiro Deus., a segunda Pessoa da SS. Trindade. E no tempo, o Verbo aceitou a nossa natureza humana, recebendo-a de Maria Santíssima.

Uma outra pergunta levantou-se então: que relação têm entre si as duas naturezas, a divina e a humana, na única Pessoa de Jesus Cristo?

Nestório quis resolver este problema que em si é o mistério da Encarnação e começou por negar o próprio problema que queria resolver. Afirmou que em Jesus, se há duas naturezas, há também duas pessoas, portanto, uma natureza humana pertencente a uma pessoa humana, e a natureza divina pertencente à segunda pessoa da SS. Trindade, e que a união entre estas duas pessoas com suas naturezas, se fazia quase como em nossa união com Deus, pela graça santificante. Por causa de sua perfeição e santidade, o homem Jesus Cristo teria merecido que sua humanidade fosse mais estreitamente unida com a divindade. Assim Nestório negava simplesmente o mistério da Encarnação. Este, segundo a doutrina católica diz que o próprio Deus se tornou homem havendo a segunda Pessoa da SS. Trindade assumido nossa natureza sem perder a sua natureza divina, de tal forma que nele há duas naturezas, a saber a divina desde a eternidade, e a humana desde o momento da Encarnação, mas uma só Pessoa, a saber a divina, que está em poder tanto da natureza humana como divina.

Numa nefasta mas lógica consequência, Nestório afirmou ainda que Maria Santíssima não podia ser chamada Mãe de Deus, pois teria dado a natureza humana apenas à pessoa humana em Cristo, a qual só depois foi ligada à Pessoa do Filho pela graça.

Nestório viera como Ário, de Antioquia, imbuído de racionalismo. E como a história mostra, foi orgulhoso e tenazmente obstinado em suas opiniões. Daí pode-se compreender o motivo por que queria explicar tão facilmente o mistério.

A defesa da doutrina católica, neste ponto, foi tomada logo por São Cirilo de Alexandria. Em cartas, mostrou a Nestório o erro de sua doutrina, mas este não lhe quis prestar atenção nem consideração.

E quando o herege deu falsas informações ao Papa Celestino sobre suas opiniões, também Cirilo apressou-se em avisar ao Sumo Pontífice do erro em que Nestório laborava.

Celestino, numa reunião em Roma, examinou a doutrina nestoriana e a condenou como falsa. Nestório não se quis submeter, por isto no terceiro concílio ecumênico de Éfeso, em 431, foi solenemente condenada sua doutrina e ele mesmo, obstinado no erro, foi deposto do seu episcopado de Constantinopla e desterrado para o Egito, onde morreu depois de 450, ainda aferrado à sua opinião errada.

No próprio concílio, ele e seus amigos já tinham tentado perseguir e maltratar os bispos que defendiam Maria Santíssima como verdadeira Mãe de Deus, mas o povo efesino tinha aceito com júbilo a decisão dos bispos.

O erro de Nestório que entre as heresias figura sob o nome de nestorianismo, espalhou-se muito no oriente, chegando até a China, onde ainda no século 16 foram encontrados nestorianos.

MONOFISITISMO

Um erro provoca facilmente o erro contrário, se na defesa da verdade alguém se deixa arrastar por motivos naturais e não procura simplesmente guiar-se pela Fé divina.

No mistério da Encarnação, isto aconteceu. Em reação ao nestorianismo, apareceu o monofisitismo. O nestorianismo dissera que em Jesus Cristo há duas pessoas distintas, assim como duas naturezas distintas, a humana e a divina. O monofisitismo, ao contrário, afirmou que nEle, assim como há uma só pessoa, há também uma só natureza. Novamente faziam os hereges o que já notamos em outros, atrás resolviam a dificuldade, negando que houvesse dificuldade a resolver.

É verdade que ninguém pode imaginar nem formular, como a natureza imutável de Deus se possa misturar com a humana a ponto de formar uma única, e de fato foram muitas as tentativas e modos de tornar admissível tal doutrina em si absurda. Mas os alexandrinos gostavam sempre de ideias e opiniões pouco compreensíveis e diziam: Crê firmemente e não procures muito o entendimento (isto é, a compreensão). O que é claramente contra a doutrina da Igreja que com São Paulo diz ser o nosso serviço de Deus “um obséquio racional” (Rom. 12, 1).

O erro do monofisitismo (mono-fisis, quer dizer em grego, a língua falda naquele tempo: de uma só natureza) começou pela pregação e ensina de um certo Eutiques, superior de um mosteiro em Constantinopla. Ele combatera o nestorianismo, mas pouco dócil e acessível a lições e conselhos, caiu no erro oposto.

Alexandria, porém, naquele tempo, tinha um bispo indigno de sua posição, que era até usurpador, e muito político em suas afirmações e opiniões, de modo que causava grande confusão. Pois foi ele – Dióscoro – que começou a dar maior publicidade ao erro de Eutiques.

Quando no ano de 449 se reuniu o concílio em Éfeso, Dióscoro usurpou sua direção, tirando-a aos legados do Papa, não deixou ler a carta dogmática do Papa Leão Magno sobre a questão, ao contrário, aprovou o erro de Eutiques.

Flaviano, bispo de Constantinopla, que defendeu com firmeza a Fé católica, foi maltratado de tal maneira que morreu dias depois. Com toda razão o Papa Leão Magno chamou aquela reunião latrocínio, quer dizer, concílio dos ladrões…

Em 451, porém, pôde realizar-se o concílio ecumênico de Calcedônia, que aceitou unanimemente a dita carta de Leão Magno, exclamando: “São Pedro falou por Leão”, e definiu solenemente a doutrina católica que em Jesus Cristo as duas naturezas divina e humana, ficam íntegras sem se misturar. Dióscoro foi deposto; mas a heresia que propugnara, continuou a causar muitas perturbações no oriente e ainda hoje é preponderante no Egito e na Abissínia.

Hereges e Heresias, Frei Mariano Diexhans O.F.M., 1ª Edição, 1946.

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