Não te estribes na tua prudência (Prov. III, 5).
A prudência manda que ainda no juízo das coisas meramente naturais desconfiemos do nosso próprio juízo e não desprezemos o conselho das pessoas experimentadas.
No caminho da santidade porém, é ainda mais perigoso proceder sem um guia.
Ai, de quem se governa por si só! Porque se cair, não tem quem o levante (1).
o amor próprio cega-nos: e seria grande a temeridade do cego que se quisesse encaminhar a si mesmo. Ninguém pode esperar que o Espírito Santo o dirija imediatamente e sem intermédio algum; o caminho ordinário da Providência e que o s homens se governem uns pelos outros. Além disso à submissão obediente ao diretor espiritual anda unida a graça de Deus.
Mas, onde encontrei eu o diretor que me convém?
Aquele que houver de dirigir a tua alma, há de ser primeiro que tudo um homem de Deus.
Há de ser experimentado na vida interior e nos caminhos do Senhor.
Há de conhecer o coração humano com as suas boas inclinações e maus instintos.
Há de estar animado dum verdadeiro zelo do bem das almas. Há de estar tão longe duma condescendência covarde, como duma severidade rígida. O rigor e a benignidade hão de se conjugar nele de tal modo que nem o seu rigor te ofenda, nem a sua benignidade te faça ousada.
Há de te inspirar tal confiança que não sintas nenhuma repugnância em lhe abrir o coração.
Há de mostrar uma intensa solicitude pelo teu bem, e manifestar que procura só o adiantamento da tua alma no caminho de Deus.
Há de te levar a Jesus e mover a receberes com frequência os santos sacramentos.
É duma utilidade extraordinária para a consecução da felicidade eterna teres um bom diretor ao qual possas confiar o teu coração e expor sem sombra de receio todas as dúvidas e dificuldades que se te apresentarem, e no qual possas encontrar os conselhos, instrução, consolação, advertências e estímulos adequados às tuas necessidades. E tanto mais útil e digno de estima será este diretor, quanto mais só e abandonada te encontrares.
Pede a Deus que te depare um bom diretor, e persuade-te que se estiveres resolvida a deixar-te guiar por ele, a sua providência atenderá ás tuas súplicas.
Feliz de ti, se o encontrares!
Um verdadeiro amigo é uma prenda de vida e de imortalidade: quem teme ao Senhor, encontrá-lo-á (2).
A Virgem Prudente, Pensamentos e Conselhos acomodados às Jovens Cristãs, por A. De Doss, S.J. versão de A. Cardoso, 1933.
(1) Ecl. IV, 10.
(2) Ecl. VI, 16.
Última atualização do artigo em 6 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico