Invenção (descoberta) do corpo do protomártir Santo Estevão (Século IV)
Os atos dos Apóstolos relatam o martírio de Santo Estevão, o grande diácono da Igreja jerusalemitana que, tendo provado com argumentos inconcussos a divindade e messianidade de Jesus Cristo, foi apedrejado pelos Judeus.
Homens virtuosos encarregaram-se de sepultar os restos mortais do grande e primeiro mártir.
Entre eles se achava Gamaliel, antes mestre de S. Paulo e depois seu discípulo. Homem de grande prestígio, conseguiu que o corpo de Santo Estevão mais tarde fosse transportado para um sitio de sua propriedade, nos arredores de Jerusalém. Sobreviveu uma época de cruéis perseguições, devido às quais o túmulo de Santo Estevão caiu por longo tempo em esquecimento. Quis Deus que as relíquias do santo mártir fossem arrancadas ao silêncio do túmulo e restituídas à veneração dos fiéis.
No lugar onde se achavam as relíquias de Santo Estevão, morava, no século IV, um santo sacerdote da Igreja de Jerusalém, chamado Luciano. A este apareceu em sonho S. Gamaliel e indicou-lhe o lugar onde estavam enterrados os corpos de Santo Estevão, de S. Nicodemos, o dele próprio e o de seu filho Abidas. Deu-lhe ordem de mostrar esses lugares a João, Bispo de Jerusalém, para que este providenciasse para a exumação dos corpos e os entregasse à veneração dos fiéis.
Luciano, despertando do sono, nada disse ao Bispo, receando que a visão fosse talvez uma artimanha do demônio. Pediu a Deus que lhe esclarecesse o espírito e lhe desse aviso mais claro, para remover toda a dúvida a respeito das relíquias. Passou oito dias em oração e jejum, para alcançar essa graça. No oitavo dia, apareceu Gamaliel outra vez, fazendo-lhe as mesmas comunicações. Luciano, porém, ainda não obedeceu à nova ordem, continuando entretanto as orações e jejuns. Pela terceira vez, Gamaliel lhe apareceu, dando-lhe desta vez ordem terminante de pôr-se em comunicação com o Bispo, para que as santas relíquias fossem colocadas nos altares, porque grandes seriam as graças que Deus queria dar aos fiéis, por intercessão daqueles Santos.
Luciano relatou ao Bispo as repetidas visões que tivera, e a ordem que de Gamaliel recebera. Na noite seguinte, apareceu Gamaliel ao Monge Migecio e determinou-lhe o lugar onde repousavam os corpos dos Santos.
Estes, de fato, foram encontrados exatamente no lugar que Gamaliel havia indicado. Numa daquelas sepulturas foi encontrada uma pedra, que trazia gravado o nome de Cheliel, que em hebraico significa Estevão. Mal se abrira o sarcófago que encerrava o corpo de Santo Estevão, foi por todos sentido um tremor de terra e um perfume delicioso encheu o ambiente. Trinta e seis doentes, que se tinham acercado, recuperaram imediatamente a saúde. Em procissão soleníssima, foram as preciosas relíquias trasladadas para Jerusalém. Ao mesmo tempo caiu abundante chuva, que trouxe grande alívio à terra, castigada por uma prolongada seca.
O fato extraordinário da invenção das relíquias de Santo Estevão tornou-se conhecido em toda a Cristandade e causou alegria geral entre os fiéis e grande perturbação e confusão entre os hereges. Muitas Igrejas pediram ao Bispo de Jerusalém pequenas partículas das relíquias do protomártir e por toda a parte foram observados grandes e estupendos milagres. Santo Agostinho, que vivia naquele tempo, enumera os seguintes fatos:
“Uma cega recuperou a vista, no momento em que os olhos se lhe puseram em contato com flores que tinham sido encontradas nas relíquias de Santo Estevão. – Um bispo de nome Lucillo, pelas relíquias de Santo Estevão, ficou curado de uma fístula maligna. – O sacerdote Euchario voltou à vida, quando lhe cobriram o cadáver com um manto com que apareceram cobertas as relíquias de Santo Estevão. – Dois homens entrevados pelo reumatismo ficaram curados. – Um menino, que tinha morrido esmagado pelas rodas de uma carruagem, não só ressuscitou, mas também ficou com o uso dos membros perfeito. – Ressuscitou para vida uma monja, quando nela encostaram um vestido que tinha tocado nas relíquias de Santo Estevão.
Muitos outros milagres ainda enumera Santo Agostinho e acrescenta : “Se eu quisesse enumerar só as curas maravilhosas, que se fizeram por este glorioso Mártir Santo Estevão, aqui em Calama e em Hippona, só com isto encheria volumosos livros, e nem assim poderia registra-las todas”. (De civ. Dei. 22)
REFLEXÕES
O grande número de milagres que se observaram, na descoberta das relíquias de Santo Estevão, são de fato prova bastante de que a veneração das relíquias de Santos e a invocação destes, como é uso da Igreja, agrada a Deus e nos é útil. Se assim não fosse, milagre nenhum se daria e inexplicável ficaria o fato de Deus tão visivelmente atender e proteger aqueles que o louvam na pessoa dos Santos. Não nos deixemos, pois, desorientar por aqueles que reprovam o culto das relíquias e condenam a veneração dos Santos. Nunca a Igreja ensinou ou praticou a adoração das relíquias dos Santos. Quem pretender o contrário, patenteia grande ignorância ou má fé. Consola-nos, a nós católicos, o fato da nossa Igreja ter ensinado sempre a mesma doutrina, sobre o culto dos Santos, das Imagens e das Relíquias. As objeções dos hereges também têm sido sempre as mesmas. Do seu ponto de vista, têm razão, porque heresia nenhuma produziu até hoje um Santo se quer, nem tão pouco o túmulo de um herege foi glorificado por um milagre, ao passo que os milagres feitos nos túmulos dos nossos Santos contam-se aos milhares.
Na Luz Perpétua, Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus para todos dos dias do ano, apresentadas ao povo cristão por João Batista Lehmann, Sacerdote da Congregação do Verbo Divino, Volume II, 1935.
Última atualização do artigo em 10 de abril de 2025 por Arsenal Católico