Agora é o juízo do mundo; agora será lançado fora o príncipe do mundo. (Joan. XII, 31).
Para que um mestre tenha autoridade em qualquer matéria, é necessário que seja versado nela e que esteja disposto a comunicar-nos os seus conhecimentos. E tanto maior será a sua autoridade quanto maior for a sua ciência, e mais notório e sincero o desejo de no-la ensinar.
Segundo isto, que havemos de pensar da autoridade de Jesus Cristo e dos santos?
Se eu dou testemunho, o meu testemunho é digno de fé, diz Jesus Cristo. (1)
Nem podia deixar de ser assim, oh meu Salvador; porque Vós sois Cristo, o Filho de Deus vivo. (2)
Vós estáveis no Pai desde a eternidade; sois em essência, igual a Ele, e participais do seu poder e grandeza, da sua sabedoria e veracidade.
Desta sabedoria divina tomastes os tesouros da Vossa doutrina, e foi por ela que regulastes os Vossos passos sobre a terra, afim de que os homens Vos imitasse.
Eu vim ao mundo para dar testemunho da verdade. (3)
A Vossa autoridade é pois, absoluta, divina. O que Vós aprovais é bom; o que condenais é digno de condenação.
Os santos são imagens fiéis de Cristo; neles vemos posta em prática a sua doutrina e exemplos. O que Cristo aprovou, aprovam-no eles; o que ele condenou, condenam-no também.
Em nenhuma coisa aparece tão claramente esta conformidade de pareceres, como no juízo que os santos fizeram do mundo. Todos sem exceção o desprezaram e calcaram aos pés; e só descansaram quando dele se viram completamente desapegados.
Esta foi a doutrina fundamental que aprenderam na escola de Cristo.
Agora é o juízo do mundo; agora será lançado fora o príncipe do mundo; agora serão descobertos os seus malévolos desígnios; agora será desmascarado.
Poderá ser bom o que Cristo condena, aquilo contra o qual nos manda combater?
Jesus ensina doutrinas diametralmente opostas às do mundo.
A linguagem do mundo é esta: Bem-aventurados os ricos que tudo possuem, e gozam o céu na terra. Jesus Cristo, pelo contrário, diz: Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino do céu. (4)
O mundo apregoa: Bem-aventurados aqueles a quem é dado satisfazer o desejo de vingança, salvando deste modo a honra e satisfazendo o amor próprio. Jesus diz: Bem-aventurados os mansos, porque eles possuirão a terra. (5)
O mundo proclama: Bem-aventurados os que desconhecem o que seja a necessidade e a dor, e os que não sentem perturbações nem trabalhos, porque a consolação do homem sobre a terra é viver dias largos e felizes. Jesus diz: Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados. (6)
O mundo: Bem-aventurados os que se vêm rodeados de prazeres e deleites, dos quais jamais haverá abundância nesta vida tão curta. jesus: bem-aventurados os que têm fome e sêde de justiça, porque eles serão fartos. (7)
O mundo: Bem-aventurados os que não precisam de auxílio alheio, porque o verdadeiro próximo somo nós e ninguém pode confiar no auxílio dos outros. Jesus: Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia. (8)
O mundo: Bem-aventurados os que podem satisfazer todos os seus desejos e inclinações, e procurar o maior número possível de gozos, ainda que seja com a perda das suas almas. Jesus: Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus. (9)
O mundo: Bem-aventurados os que defendem denodadamente os seus direitos, ainda que seja pela violência, uma vez que o ceder apenas traz consigo a vergonha e a ignomínia. Jesus: Bem-aventurados os pacíficos, porque eles serão chamados filhos de Deus. (10)
O mundo: Bem-aventurados aqueles a quem os homens exaltam e cumulam de honras e louvores, porque eles alcançarão o cúmulo da felicidade. Jesus: Bem-aventurados os que padecem perseguições por amor da justiça, porque deles é o reino do céu. (11)
E todo este corpo de doutrina confirmou-o Jesus com as obras. Ide a Belém, aproximai-vos do presépio; acompanhai Jesus ao Egito; detende-vos em Nazaré; voltai à Judeia e a Getsemani; subi ao Gólgota: sempre e em toda a parte encontrareis Jesus pobre, humilhado e sofrendo por sua livre eleição.
Quem não vê depois disto que a vida de Jesus é a mais flagrante condenação das máximas e ações do mundo, ao qual ele há de convencer de erro, de malícia e de pecado?
Este veredito, terá a sua confirmação no grande dia em que Jesus descer do céu rodeado de nuvens, escoltado de anjos e santos; então desvanecer-se-á o engano e triunfará a verdade. Então cairão os muros de Babilônia, dessa cidade que, esquecendo-se de Jesus, embriagava todos os povos com o vinho da sua impureza. (12)
Donzela cristã, não te deixes seduzir pelo aspecto deslumbrante do mundo. repara na condenação que sobre ele pronunciou Jesus, que não se pode enganar nem enganar-nos, porque a sua palavra é verdadeira.
O mundo, que é cego, apenas procura ilaquear a juventude inexperiente com os seus erros funestos.
Atende pois, e não deixes que o teu coração seja joguete de ilusões. (13)
Guarda-te das ciladas e viverás segura. (14)
Usa deste mundo, como se não usasses dele. (15)
A Virgem Prudente, Pensamentos e Conselhos acomodados às Jovens Cristãs, por A. De Doss, S.J. versão de A. Cardoso, 1933.
(1) Joan. VIII, 16.
(2) Mat. XVI, 16.
(3) Joan. XII, 31.
(4) Mat. V, 3.
(5) Mat. V, 4.
(6) Mat. V, 5.
(7) Mat. V, 6.
(8) Mat. V, 7.
(9) Mat. V, 8.
(10) Mat. V, 9.
(11) Mat, V, 10.
(12) Apoc. XIV, 8.
(13) Deut. XI, 16.
(14) Prov. XI, 13.
(15) I COr. VII, 31.
Última atualização do artigo em 23 de março de 2025 por Arsenal Católico