Jesus nossa vida – Décimo Quinto Domingo depois do Pentecostes

Ó Jesus, vida da minha alma, fazei-me ressuscitar cada dia para uma nova vida de caridade e de fervor.

1 – Na Missa de hoje predomina um pensamento tantas vezes repetido na liturgia e tão querido ao nosso coração: Jesus é a nossa vida. Tudo o que de bom há em nós é fruto da Sua graça: pela Sua graça permanecemos firmes no bem (Coleta); pela Sua graça podemos viver segundo o espírito (Ep.); pela Sua graça ressuscitamos do pecado (Ev.) e, alimentando-nos com a Sua carne, alimentamos em nós a Sua vida (Com.). Sem Jesus estaríamos na morte, sem Ele nunca poderíamos viver esta magnífica vida do espírito que S. Paulo nos descreve na Epístola de hoje (Gál. 5, 25 e 26; 6, 1-10).

Escolhamos nela alguns pensamentos. “Não nos façamos ávidos da vanglória, provocando-nos uns aos outros. Se alguém julga ser alguma coisa não sendo nada, a si mesmo se engana”. A humildade é apresentada aqui como o fundamento da concórdia fraterna: quem é soberbo leva consigo um foco de discórdia porque, preferindo-se aos outros, será muitas vezes provocador, invejoso, será altivo e desprezará aqueles que são inferiores a si.

“Se algum homem for surpreendido em algum delito, vós, que sois espirituais, admoestai-o com o espírito de mansidão”. Quem procura escalar as alturas deve estar atento para não criticar quem caminha mais em baixo, para não se escandalizar com as fraquezas dos outros e se o dever lhe impõe admoestar alguém, deve fazê-lo com doçura e com bondade; doçura que é ainda fruto da humildade porque, ao corrigir os outros, é necessário sempre vigiar-se a si próprio: “não caias também em tentação”.

“Não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo colheremos”. As dificuldades da vida espiritual não devem desanimar-nos, mesmo quando não conseguimos superá-las. Deus não nos exige o êxito, mas que renovemos continuamente os nossos esforços, ainda que não lhes vejamos os resultados. “A seu tempo”, isto é, quando Deus quiser e do modo que Lhe agradar, colheremos os frutos com a condição, porém, de “não desfalecermos”.

2 – No Evangelho (Lc. 7, 11-16) o conceito Jesus nossa vida é ainda mais claro. O Mestre encontra-Se com o triste cortejo que acompanha um jovem à sepultura; a sua mãe soluça junto dele e “o Senhor, movido de compaixão para com ela, disse-lhe: ‘Não chores'”. Depois “aproximou-se e tocou no esquife. Então disse: ‘Jovem, eu te digo, levanta-te!…’ e entregou-o a sua mãe”. Jesus é o Salvador que tem compaixão das nossas misérias e que usa da Sua onipotência divina para as aliviar; hoje vemo-lO operar um milagre para consolar uma mãe viúva, restituindo-lhe, cheio de vida, o filho já morto. É um rasgo da delicadeza do Seu amor por nós; mas quantos outros não brotaram do Seu coração, talvez menos visíveis, mas não menos amorosos e vivificantes! “Encontramos no Evangelho três mortos ressuscitados visivelmente pelo Senhor – comenta Sto Agostinho – mas Ele ressuscitou milhares de mortos invisíveis”; escrevendo estas palavras, o Santo devia recordar-se com reconhecimento inefável do milagre imensamente maior que Jesus tinha realizado em seu favor, fazendo-o ressuscitar da morte do pecado.

Sto Agostinho, como tantos outros santos, é um ressuscitado. Se os santos que viveram na inocência exercem sobre nós uma grande fascinação, os ressuscitados do pecado têm ainda maior poder para nos encorajar na luta. Se vencer o orgulho, a sensualidade e todas as outras paixões é duro para nós, não o foi menos para eles; também eles conheceram as nossas tentações, as nossas lutas, as nossas quedas; e se ressuscitaram, porque não poderemos nós também ressuscitar?

Nem sempre – graças a Deus – se trata de ter que ressuscitar do pecado grave, mas temos sempre de ressuscitar de pequeninas infidelidades diárias que, se não forem reparadas, pouco a pouco enfraquecem o fervor da vida espiritual. Neste sentido todos os dias e a todas as horas temos necessidade de ressuscitar; no entanto, muitas vezes não temos força para isso. Mas se invocarmos Jesus, nossa vida, Ele nos tocará com a Sua graça, como tocou com a Sua mão o ataúde do jovem de Naim, derramará em nós novo vigor e voltará a pôr-nos, cheios de coragem, no caminho da perfeição. A ressurreição do jovem foi obtida pelas lágrimas da sua mãe; que a nossa seja impetrada, cada dia, pelas lágrimas do nosso coração, pela compunção, pela humildade, pela confiança.

Colóquio – “Ó Senhor meu Deus, aproximei-me das portas da morte e Vós colocastes -Vos entre elas e mim para que eu não passasse, retirastes-me muitas vezes também da morte do corpo, ó meu Salvador, quando me afligiram graves doenças ou me encontrava exposto a muitos perigos. Vós sabíeis, ó Senhor, que se então me tivesse surpreendido a morte, a minha alma seria precipitada no inferno e eu teria sido condenado para sempre; e a Vossa misericórdia e a Vossa graça anteciparam-se-me, salvando-me da morte do corpo e da alma; estas e muitas outras coisas fizestes por mim, ó Senhor meu Deus.

“Agora, portanto, ó luz da minha alma, Senhor meu Deus, minha vida pela qual vivo, eu Vos dou graças: eu Vo-las ofereço, se bem que pobres e vis, inadequadas aos Vossos benefícios, com Vo-las pode oferecer a minha fragilidade.

“Eu, o maior entre os pecadores que salvastes, para dar aos outros um exemplo da Vossa benigníssima piedade, confessarei os Vosso grandes benefícios, já que me salvastes do mais profundo inferno, uma vez, duas, três, cem e mim vezes. Eu sempre tendia para o inferno e Vós sempre de lá me tiráveis, quando com justiça me teríeis mil vezes condenado se assim tivésseis querido. Mas não o quisestes porque amais as almas e dissimulais os pecados dos homens a fim de que façam penitência, ó Senhor meu Deus, muito misericordioso em todos os Vossos caminhos.

“Agora vejo e pela Vossa luz conheço tudo isso, ó Senhor meu Deus e a minha alma desfalece considerando a grandeza da Vossa misericórdia. Toda a minha vida que perecia na minha miséria, ressuscitou na Vossa misericórdia; todo eu estava morto e todo me ressuscitastes. Seja portanto Vosso tudo o que existe em mim porque todo me ofereço a Vós” (Sto Agostinho).

Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.

Última atualização do artigo em 25 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico

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