Mês das Almas do Purgatório: 4º dia – Sobre a violência do fogo

MÊS DAS ALMAS DO PURGATÓRIO

QUARTO DIA

Sobre a violência do fogo

MEDITAÇÃO

I. Para formarmos alguma idéia da violência do fogo do purgatório, figuremos, conforme a expressão da Escritura, Deus nosso Senhor reunindo tudo o que no universo há de males, e extraindo deles a essência e o espírito, que lhe serve para acender a fornalha daquele lugar de sofrimento. Podereis acaso imaginar coisa mais viva e terrível que tal incêndio? Ora, o profeta chama ao fogo do purgatório: “espírito de calor devorador”, espírito, que, com inexprimível atividade, penetra, não já os corpos, mas as almas dos defuntos, até ao lugar mais íntimo da faculdade de sentir; e que coração haverá tão duro que se não compadeça das dores de um tal suplício?

II. Consideremos mais que ·este fogo não produz, nas almas que o sofrem, a sensação de um padecer único; mas todos quantos gêneros de tortura há no universo se encontram juntos no que elas suportam. Qualquer que seja a variedade da sua natureza, a diferença do seu princípio, a diversidade das suas obras, por operação prodigiosa da justiça, unem-se, amalgamam-se e conspiram todos para castigar as almas do purgatório. Assim o frio e o calor, a fome e a sede, a prostração e a atividade, as trevas e a própria luz, tudo é suportado ao mesmo tempo pelo efeito de um mesmo fogo e forma o contínuo martírio de cada alma. Incompreensíveis sofrimentos oculta ele em si!

III. Depois disto compreenderemos facilmente o que dizem os Santos Padres do fogo do purgatório; é incomparavelmente mais cruel que todas as penas que podem causar a fraqueza da natureza, os rigores da justiça humana ou a mais bárbara crueldade. Ali, com efeito, encontra-se toda espécie ‘de dor, sem que seja mitigada por nenhuma das circunstâncias que poderiam torná-la tolerável, e reunida a indizíveis aflições na sutil aspereza do fogo que a divina justiça acende e atiça. Se a nossa delicadeza nos não permite conservar um dedo no meio das chamas terrestre, o que não deveremos nós fazer para evitar o sermos submergidos nos ardores das do purgatório?

SÚPLICA

Preservai-nos, Senhor, das inexoráveis chamas daquele fogo e não permitais que nelas caiamos jamais; livrai delas as pobres almas que as mereceram, e que sofrem agora tantas aflições e penas. Que a vossa soberana clemência seja o escudo que nos defenda daqueles terríveis castigos; que ela seja para os defuntos um bálsamo de frescor e de salvação que cure todas as suas chagas, faça cessar toda a dor e substitua a tantas angústias a doce felicidade da eterna alegria.

EXEMPLO

O venerável Estanislau Kolkoski, dominicano polonês, viu aparecer uma alma do purgatório, rodeada de vivíssimas chamas e soltando lamentosos suspiros. A violência do fogo que a penetrava e traspassava, parecia tal que o bom servo de Deus não pôde deixar de lhe pedir alguma comparação ou prova, que lhe fizesse conhecer a atividade e força dele. Pedes-me uma comparação, respondeu ela; sabe que as mais ardentes chamas da terra são doce zéfiro comparativamente aos ardores que me devoram, e, dizendo estas palavras, deixou-lhe cair sobre a mão uma gota do suor que lhe arrancava o calor do fogo. Foi tão doloroso o contato, que o servo de Deus lançou um grito, que acordou todos os seus irmãos que dormiam, e, não podendo resistir à angústia que suportava, caiu por terra sem sentidos. Assim o acharam os religiosos, que correram à sua cela, tendo muito trabalho em fazê-lo tornar a si, mesmo empregando os mais violentos remédios. Quando lhe perguntaram a causa daquele terrível acidente, mostrou a chaga que lhe causara na mão aquela ardente gota, da qual sofreu depois até ao fim da vida. Ora, se uma só gota daquele suor foi tão penetrante e causou tal dor, que faria uma faísca, uma chama, um incêndio daquele fogo atroz?

Aprendamos daqui (como pregava depois aquele servo de Deus), quanto é terrível o fogo do purgatório e que cuidado devemos ter em evitá-lo. (P. Joan. Bapt. Manni in sacr., Triges., Disc. 6).

SUFRÁGIO

Pelas mortificações corporais e pelas penitências, pagam-se as dívidas daquelas pobres almas; elas são mesmo libertadas das suas penas.

***

O imperador Oto IV, que morrera com grande reputação de virtude, apareceu a uma abadessa, sua tia, e pediu-lhe que fizesse rezar, no seu e em outros mosteiros, muitas orações acompanhadas de disciplinas, para o livrar das cruéis penas que sofria no purgatório. Fizeram-se as preces e penitências pedidas; poucos dias depois, a alma, deixando aquele abismo de dores, voou às delícias do paraíso. Se as penitências, juntas à oração, têm tão grande eficácia, para resgatar as almas do purgatório, façamos algumas pelos defuntos, que, talvez desde muito tempo, as esperam no meio de cruéis chamas. (Thom. Cantip., Iib. II. Apum, cap. 53. nº 19).

O Anjo Consolador – Piedosos exercícios, Leituras e Orações Dedicadas a Veneração das almas do Purgatório, compiladas por E. Da S. V. Redentorista, 1939.

Última atualização do artigo em 24 de dezembro de 2024 por Arsenal Católico

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