MÊS DAS ALMAS DO PURGATÓRIO
DÉCIMO OITAVO DIA
Maneira de socorrer as almas do purgatório pelas santas indulgências
MEDITAÇÃO
I. Um outro meio de prestar socorro às almas do purgatório e que é eficacíssimo, remontando também já aos tempos apostólicos, é a aplicação das indulgências, pelas quais é perdoada a pena temporal devida ao pecado. Os merecimentos de Jesus Cristo, de Maria e dos santos formam o seu precioso tesouro; e, como esses merecimentos constituem um valor infinito, podem conceder-se indulgências sem limites; mas a economia delas é reservada aos pastores da Igreja, e sobretudo ao soberano Pontífice. Há indulgências para os vivos, quer dizer, que cada um ganha para si, cumprindo as ordens prescritas; também as há para os mortos, que os vivos podem aplicar pelas almas dos defuntos. Quanto se mostra bom o Senhor, multiplicando os meios de socorrer os defuntos!
II. Há, entre as indulgências, as parciais, que não perdoam senão uma parte da pena; há as plenárias que perdoam toda a pena temporal prescrita para cada culpa nos antigos cânones penitenciais; assim se se ganha qualquer indulgência parcial pelas almas do purgatório, perdoa-se-lhes uma parte do purgatório; e, por uma indulgência plenária, satisfaz-se toda a dívida, livrando-as daquela prisão de fogo, e elas sobem a gozar da ventura eterna do paraíso. Oh! qual de nós poderia fazer tanto bem no purgatório? Todos temos dele a missão legítima; todos o podemos fazer, contanto que o queiramos, e quanto mais a Igreja abre, com generosidade, os seus tesouros em favor daquelas almas, menos desculpa temos, se os não aproveitarmos.
III. Para ganhar as indulgências, até as que são aplicáveis aos defuntos, é necessário estar em estado de graça, e cumprir as obras prescritas. A primeira condição é, pois, não ter pecado mortal algum, ao menos até que se acabem os atos prescritos; no caso contrário, seria necessário fazer antes uma boa confissão ou, ao menos, um ato de contrição perfeita. A segunda condição é cumprir as obras que consistem sobretudo na confissão, comunhão e recitação de algumas orações. É necessário notar que os que têm o costume de confessar-se todos os oito dias, não têm precisão de reiterarem a confissão sempre que queiram ganhar urna indulgência durante a semana. Portanto o meio das indulgências não é só aproveitável aos defuntos, mas santificam também nossa alma pela frequência dos sacramentos e prática das virtudes. Pensemos, pois, em recolher este dobrado fruto de salvação.
SÚPLICA
Quanto mais, Senhor, se manifesta a vossa bondade nos abundantes meios de socorro que nos prestais, para ajudar as almas do purgatório, tanto mais zelo devemos mostrar em nos aproveitarmos deles, para sua e nossa vantagem. As santas indulgências são um tesouro sem limites, sempre patente para os vivos e defuntos, e do qual gostais que se enriqueçam os fiéis.
Formando, pois, Senhor, a intenção de ganhar todas as indulgências, que são inerentes a esta santa devoção, vos prometemos adquirir ainda outras no futuro por nós e pelas almas do purgatório.
Mas vós, Senhor, preveni-nos, acompanhai-nos, assisti-nos, com a vossa graça em o nosso piedoso desígnio, afim de que nunca nos faltem as disposições, sem as quais não o poderemos cumprir.
EXEMPLO
Santa Maria Madalena de Pazzi tinha assistido, com grande caridade, aos últimos momentos de uma irmã da sua Ordem, que morrera em elevado grau de perfeição. Apressavam-se as religiosas em rezar por ela, não só os ofícios costumados, mas também lhe aplicavam todas as indulgências, que podiam ganhar durante o dia.
Estava ainda o corpo exposto na igreja, e Maria Madalena, da grade, onde se achava, olhava com sentimentos de ternura e devoção, orando pelo repouso e paz da defunta. De repente viu a alma resplandecente de luz sair daqueles frios despojos e elevar-se ao céu, para aí receber a coroa da glória eterna. Não pôde a santa deixar de lhe gritar: “Adeus, irmã, adeus, alma bem-aventurada, que entrais no céu antes que teu corpo descanse no sepulcro. Ó felicidade, ó glória! Entre os abraços do celeste Esposo, lembrai-vos de nós que estamos suspirando na terra”. A estas palavras, apareceu-lhe Jesus a consolá-la e disse-lhe que aquela alma fôra livrada tão depressa do purgatório, e admitida ao céu, em virtude das santas indulgências. Desde então aumentou tanto no mosteiro a devoção pelas indulgências, que seria caso de escrúpulo o não ganhar uma. E por que se não acende em nosso coração uma faísca daquele fervor? Imitemos em seu zelo aquelas piedosas virgens. e não deixaremos de livrar as almas do purgatório, se tivermos as disposições requeridas para ganharmos as indulgências. (In vita Sanct. Mar. Magd. Pazzi, t. I, cap. 33).
SUFRÁGIO
Esforcemo-nos por suprir, pelo tesouro das indulgências, a miséria extrema das almas do purgatório.
***
A venerável Maria de Quito viu em espírito, numa grande praça, uma mesa coberta de ouro, prata, diamantes, pérolas, e toda sorte de pedras preciosas; ouviu ao mesmo tempo uma voz gritar: “Esse tesouro está à disposição de todos: aqueles que quiserem tomem dele e sirvam-se”. Era imagem do imenso tesouro das indulgências, aberto, todos os dias, pela Igreja, para vantagem dos fiéis. Se queremos aproveitar dele para nós ou para os outros, procuremos ganhar indulgências e não deixemos de aplicá-Ias pelas almas do purgatório; elas são tão úteis às almas, que, com tanta impaciência, as esperam da nossa caridade. (In vita B. Mariae de Quito).
O Anjo Consolador – Piedosos exercícios, Leituras e Orações Dedicadas a Veneração das almas do Purgatório, compiladas por E. Da S. V. Redentorista, 1939.
Última atualização do artigo em 1 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico