Mês das Almas do Purgatório: 24º dia – Motivos gerais que nos obrigam a oferecer sufrágios pelos defuntos

MÊS DAS ALMAS DO PURGATÓRIO

VIGÉSIMO QUARTO DIA

Motivos gerais que nos obrigam a oferecer sufrágios pelos defuntos

MEDITAÇÃO

I. O amor é a vida do coração, e a natureza imprimiu tão profundamente esse sentimento em todo ser vivente, que não só as criaturas racionais o experimentam pelos seus semelhantes, mas os mesmos irracionais o sentem pelos da sua espécie; entre os homens não se extingue com a morte, persevera ainda além do túmulo. Não há sobre a terra nação tão bárbara, que se não ocupe dos seus defuntos, que não tenha piedade de suas almas, ou não procure algum modo de socorrê-las. A mesma natureza nos leva a compadecermo-nos do triste estado em que se acham aquelas almas no purgatório, e só a crueldade poderia resistir nesse tão vivo sentimento do coração humano.

Il. A religião não despedaça os laços da natureza; pelo contrário, estreita-os, firma-os e aperfeiçoa-os. O laço da fraternidade universal, que nos une a toda a posteridade de Adão, é muito mais estreito e íntimo para nós, por causa da religião que nos une todos a Jesus Cristo. Ele é o chefe dos crentes, e cada fiel é um membro da Igreja, seu corpo místico. Devemos pois olhar as almas do purgatório como uma parte do todo, como uma porção de nós mesmos, porque não estão separadas da Igreja; pelo contrário, são da mais escolhida parte dela, pois em breve será glorificada no céu. Vamos, pois, com os sentimentos de uma religião cheia de caridade, visitar em espírito as almas do purgatório, e consolá-las em suas angústias.

III. Um sentimento de patriotismo nos aproxima daqueles que viram o dia nas mesmas regiões que nós. O conhecimento particular que temos de cada um deles, as diversas relações que nos unem, a conformidade dos costumes ou hábitos, que se estabelece com a convivência, são outros tantos motivos, que atuam sobre o nosso coração, e inspiram uma benevolência especial pelos nossos concidadãos. O que se passa neste mundo reproduz-se na outra vida; nesta começamos as relações da pátria, que terminam em seguida na grande pátria, o céu, onde seremos reunidos em eterna caridade. Enquanto não chegamos a ele, temos de cumprir os deveres de compatriotas para com as almas do purgatório, deveres que são os mais urgentes, pois são os últimos que reclamam aquelas benditas almas. Recordemo-nos muitas vezes destes três assuntos, sobre que acabamos de meditar: a natureza, a religião e a pátria; e a sua recordação tornará mais generosa a nossa compaixão para com os defuntos.

SÚPLICA

Grande Deus, que puseste no coração dos homens as leis da natureza, as máximas da religião e o amor da pátria, afim de que, depois de se terem mutuamente ajudado nesta vida, não se dividem ainda mesmo depois da morte: ah! vós que sois o autor de todo o sentimento generoso, restabelecei em nós a observância dessas santas leis, o gosto destas veneráveis máximas e a prática desse amor salutar, afim de que todos os corações inflamados deste tríplice espírito de benevolência possam propagar com abundância os sufrágios em favor do purgatório.

EXEMPLO

Graciano Punzoni, arcipreste de Arona, era tão dedicado às obras de caridade, que estendia o seu zelo ao corpo e à alma dos defuntos: ao corpo dando-lhe sepultura, à alma pelo seus sufrágios. Deu particularmente pleno curso à sua caridade por ocasião de uma enfermidade contagiosa que fez grandes estragos. A morte arrebatou grande número de cidadãos e de soldados napolitanos da guarnição, e o bom arcipreste consagrava-se inteiramente a assisti-los na doença, a sepultá-los depois da morte e a socorrê-los na outra vida. Quando cessou a epidemia, indo passear para o lado do cemitério com o piedoso D. Afonso Sanchez, governador da cidade, viram os dois uma longa fileira de personagens que, envolvidos em mantos negros saíam por uma porta do sagrado recinto, entrando depois por outra.

Quanto mais reparavam, menos natural lhes parecia o caso; persuadiram-se de que era uma visão misteriosa, cuja significação procuravam penetrar: “Creio”, dizia o governador, “que são os soldados da guarnição mortos há pouco, que, não sendo socorridos por ninguém, imploram a nossa compaixão”. – “Por mim”, respondeu o arcipreste, “penso que junto com as almas dos soldados estão as dos nossos concidadãos; seja como for, todos foram homens como nós, todos, nossos irmãos em Jesus Cristo, unidos a nós pelos laços da natureza, da religião, e da pátria”. “Socorramo-los pois” , repetiram os dois ao mesmo tempo e de comum acordo. Nessa mesma tarde fizeram anunciar com os sinos da cidade um ofício geral e Missa, que foram celebrados no dia seguinte de manhã por intenção de todas aquelas almas.

Os motivos da natureza, religião e pátria, que inspiraram àqueles dois personagens tão generosa caridade, devem induzir-nos também a pensar muitas vezes nas almas do purgatório e a ajudá-las com todas as nossas forças. (Fr. Marc. Ant. Rossa, S. J., in vita Grat. Punzoni, cap. 8).

SUFRÁGIO

Os sufrágios oferecidos em comum e as orações públicas pelos defuntos fazem tão doce violência ao Coração de Deus, que produzem ordinariamente um felicíssimo efeito.

***

Quando nas comunidades religiosas, nas confrarias e nas uniões piedosas, morre qualquer membro, todos os outros devem oferecer sufrágios segundo as suas diferentes regras; e celebram-se particularmente ofícios e comemorações gerais a que todos são obrigados a assistir.

Todos os fiéis, todos os concidadãos formam sob diversos aspetos uma só família, e por consequência cada um deve concorrer para os sufrágios que oferecem pelos defuntos a Igreja, a pátria e a devoção dos fiéis. Prometamos, pela nossa resolução de hoje, nunca deixar de assistir às preces públicas, que se fizerem pelas almas do purgatório.

O Anjo Consolador – Piedosos exercícios, Leituras e Orações Dedicadas a Veneração das almas do Purgatório, compiladas por E. Da S. V. Redentorista, 1939.

Última atualização do artigo em 26 de fevereiro de 2025 por Arsenal Católico

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