Mês das Almas do Purgatório: 23º dia – A oração pelas almas do purgatório é um dos atos mais heróicos de caridade

MÊS DAS ALMAS DO PURGATÓRIO

VIGÉSIMO TERCEIRO DIA

A oração pelas almas do purgatório é um dos atos mais heróicos de caridade

MEDITAÇÃO

I. Entre as virtudes cristãs, a caridade é a maior, diz-nos s. Paulo, e a caridade exerce-se no seu grau mais elevado quando se aliviam as misérias do purgatório. É uma grande caridade sustentar o que padece fome, vestir aquele cuja nudez o expõe aos rigores do frio, visitar o enfermo prostrado sobre o seu leito de dor! Mas o objeto desta caridade é o corpo, enquanto que o objeto dos piedosos sufrágios é a alma, e a alma está tão acima do corpo, quanto a caridade para com os mortos se eleva sobre o que diz respeito aos vivos. Não se trata de excluir uma para exercer a outra unicamente; longe disso, o fim do cristão deve ser uni-las, atender com uma das mãos às necessidades do pobre, enquanto a outra espalha os seus benefícios sobre as almas do purgatório…

Por esta dupla caridade, tornamo-nos mais úteis uns aos outros, assemelhando-nos a Jesus Cristo, autor divino da nossa santíssima religião. Esforcemo-nos por agir conforme estes princípios e receberemos abundantes graças do céu e da terra.

II. Quando trabalhamos em aliviar as misérias do próximo, somos, a s mais das vezes, levados a isso por uma alma naturalmente sensível e compadecida. A vista de um infortúnio presente fere os sentidos e comove o coração de tal sorte, que não podemos, por assim dizer, recusar-lhe o socorro; involuntárias lágrimas se nos desprendem dos olhos, a mão estende-se espontaneamente para dar, e quanto mais bem formado é um coração, mais acessível é aos sentimentos de ternura e compaixão. Mas quando socorremos as almas do purgatório nada nos fala aos sentidos: a alma é isenta de toda a emoção terrestre, a caridade é toda espiritual. O merecimento é tanto maior: é o que devia excitar-nos a exercê-lo com mais zelo.

III. A caridade enfim deve praticar-se com ordem; ela quer que se vá primeiramente em socorro daqueles cuja miséria é maior ou que têm menos possibilidade de ajudar a si próprios, e que nos tocam pelos mais estreitos laços, os quais são mais firmes e constantes na amizade de Deus. Mas que misérias da terra, por mais ·excessivas que sejam, se podem comparar com a menor pena do purgatório? Quem mais que as almas, encerradas naquela prisão, é incapaz de ajudar a si mesmo, pois que não podem merecer mais? Onde encontrar mais estreitos laços, que os que nos unem a elas, já que tudo na sociedade e na Igreja, na ordem da natureza, e na da graça, estabelece entre nós relações íntimas e multiplicadas? Quem pode finalmente brilhar mais pela santidade e amizade de Deus, se elas já estão confirmadas na graça? Tudo, pois, concorre a despertar a nossa caridade para com elas, e poderíamos, atacados assim de todas as partes, conservar-nos indolentes e preguiçosos? Ah! reacendamos em nossos corações a ardente caridade do cristianismo, tiremos dela os mais abundantes efeitos para aliviar aquelas santas almas.

SÚPLICA

Ó eterna caridade de Deus, origem de toda a caridade do mundo, que uma faísca do vosso fogo desça aos nossos corações e torne perfeita a nossa caridade. Então teremos mais compaixão das misérias da alma, que das do corpo; então a nossa caridade, purificada, não obedecerá mais às afeições sensíveis e terrestres; então seguirá os graus e a ordem da perfeição que vêm de vós, e, como um incêndio de inextinguível amor, ela derramará seus tesouros sobre as almas que padecem.

Ó caridade, caridade de Deus, inflamai os nossos corações, afim de que seus ardores, apagando os do purgatório, chamem à eterna felicidade todas as almas que gemem naquelas ardentes masmorras.

EXEMPLO

Dois grandes religiosos da Ordem dos frades pregadores, fr. Bertrando e fr. Benedito, discutiam, um dia, para decidir qual destes atos de caridade é mais excelente: aliviar as almas do purgatório, ou converter os pecadores. Fr. Bertrando sustentava o último parecer e dizia que o Verbo divino viera expressamente à terra para procurar aqueles que estão em continuo perigo de se perder por toda a eternidade, e que o cooperar para a sua salvação, é participar da obra da redenção divina, ao passo que as almas do purgatório estão já em estado de segurança no que diz respeito ao futuro, e que, se padecem tormentos, são temporários e não as impedem de irem em breve gozar da eterna glória do paraíso. Por outro lado, defendia fr. Benedito a causa das almas do purgatório, dizendo que o Redentor, depois da sua morte, descera a livrá-las; que, se os pecadores estão presos nos laços dos pecados, é voluntária a sua escravidão; que podem sair dela quando quiserem, com a graça de Deus, enquanto as almas do purgatório são detidas em cruéis suplícios, sem poderem de modo algum socorrer a si próprias; e que, por isso, vale mais correr em ajuda de um enfermo que não pode servir-se de seus membros, do que de um mendigo forte e robusto, a quem a sua preguiça apenas retém na miséria e assim que é melhor ocupar-se das almas do purgatório, que dos pecadores, ainda que a caridade mais perfeita deve estender-se a uns e a outros.

Mas fr. Bertrando não se rendia a estas razões tão poderosas, pelo que o Senhor permitiu que uma noite lhe aparecesse uma alma do purgatório, depondo-lhe nos ombros uma pesadíssima carga, que causou grande fadiga no padre. Reconheceu assim, pela experiência, a verdade que negava na discussão; desde este momento começou a socorrer as almas dos defuntos com toda a sorte de sufrágios, e tomou-se grande devoto das almas do purgatório.

Não permite sempre Deus semelhantes fatos, mas que o de fr. Bertrando nos sirva de lição e nos infunda a devoção e o desejo de aliviar aqueles pobres prisioneiros. (Fr. Theod. de Apal., lib. III, vit. S. Dominici, c. 8).

SUFRÁGIO

Façamos alguma economia para empregá-la em proveito dos pobres deste e do outro mundo.

***

O padre João Batista Magnanti, do Oratório, tinha uma bolsa, onde guardava todas as economias que podia subtrair às suas despesas, assim como as esmolas que obtinha de algumas pessoas; chamava-lhe crumena animarum, “bolsa das almas”, porque se servia dela para ajudar aos pobres, e às almas dos finados. Se queremos satisfazer a todas as exigências do mundo, o nosso patrimônio, por bastante rico que seja, não chegará nunca para as despesas da necessidade e do luxo: é necessário fazer algumas economias; recusando-nos alguma coisa, teremos sempre um fundo disponível para as necessidades do próximo, tanto deste como do outro mundo. Criemos, pois, também a bolsa das almas e fixemos desde hoje a soma que a nossa caridade destina a este santo uso. (Joan. Marc. Congr. Orat., tom. I, lib. II, part. 29).

O Anjo Consolador – Piedosos exercícios, Leituras e Orações Dedicadas a Veneração das almas do Purgatório, compiladas por E. Da S. V. Redentorista, 1939.

Última atualização do artigo em 26 de fevereiro de 2025 por Arsenal Católico

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