Fazei que eu tenha fome de Vós, Pão dos anjos, penhor da glória futura.
1 – Jesus disse: “Eu sou o pão vivo que desci do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente e o pão que eu lhe darei é a minha carne para salvação do mundo”. Este discurso não agradou aos judeus que se puseram a discutir, contradizendo as palavras do Mestre, mas Ele replicou com mais força: “Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós” (Jo. 6, 51-54). As palavras são formais e não admitem dúvida alguma: quem quiser viver tem de comer o Pão da vida. Jesus veio trazer a vida ao mundo, a vida sobrenatural da graça que foi dada às nossas almas pelo batismo, e que nos foi dada porque este Sacramento nos enxertou em Cristo; de modo que é da Sua plenitude que recebemos esta vida. Mas tal vida deve ser alimentada e a nossa inserção em Cristo deve tornar-se cada vez mais profunda. Foi com esse fim que Jesus quis vir a nós com toda a Sua substância de Homem-Deus e que quis tornar-Se o Pão da nossa vida sobrenatural, da nossa união com Ele. “Muitas mães, diz S. João Crisóstomo, entregam a amas os filhos que deram à luz. Jesus não procedeu assim, mas nutre-nos com o Seu próprio Sangue e incorpora-nos totalmente em Si”. Como o batismo é o sacramento que nos enxerta em Cristo, assim a Eucaristia é o sacramento que alimenta em nós a vida de Cristo, que torna cada vez mais estreita e íntima a nossa união com Ele, a ponto de nos transformar nEle. “Assim como a cera derretida que se derrama sobre outra cera se confunde necessária e inteiramente com ela, do mesmo modo quem recebe a Carne e o Sangue do Senhor, une-se de tal forma a Ele que Cristo reside nele e ele em Cristo” (S. Cirilo de Jerusalém).
2 – Alimentando em nós a vida de Cristo, a Eucaristia alimenta em nós uma vida que não tem fim: unindo-nos a Ele, que é a Vida, liberta-nos da morte. Efetivamente, Jesus disse: “O que come a minha carne e bebe o meu sangue, tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo. 6, 55). Notemos que disse: tem a vida eterna, e não terá, porque a Eucaristia, aumentando em nós a graça – que é somente da glória – vem a ser para nós verdadeiro penhor de vida eterna e isto não só para a alam, mas também para o corpo: “a Hóstia divina comunica-lhe o gérmen da ressurreição futura; o Corpo imortal de Cristo, infunde [no nosso corpo] uma semente de imortalidade que um dia crescerá e dará seus frutos” (Leão XIII, Enc. Mirae caritatis). Considerado sob este aspecto o sacramento da Eucaristia é verdadeiramente o sacramento da esperança; esperança da glória celeste, da visão beatífica, na qual a nossa “comunhão” com Cristo jamais terá fim. A eterna “comunhão” começa na terra com a Comunhão eucarística que é o seu prelúdio, o seu penhor e até, de certo modo, a sua antecipação. na vida presente, particularmente no que se refere ao nosso progresso espiritual, a Eucaristia é grande motivo de esperança e de confiança. Com efeito, aumentando em nós a graça, aumenta igualmente a caridade, e, crescendo esta, as paixões ficam reprimidas: “o aumento da caridade – afirma Sto Agostinho – é o enfraquecimento das paixões e a sua perfeição é a ausência delas”. Se, por vezes, a luta contra algum defeito ou tentação é mais violenta e difícil, se, apesar dos nossos esforços, não conseguimos vencer totalmente a natureza, confiemos na Eucaristia: Jesus, ao vir a nós, pode acalmar todas as tempestades e dar-nos a força de vencer qualquer batalha. “A carne castíssima de Jesus – ensina S. Cirilo de Alexandria – reprime a insolência da nossa carne; Cristo, morando em nós, pacifica a lei da carne que domina os nosso membros”. A Eucaristia é, pois, a nossa esperança para a vida presente e para a futura; sustenta-nos nas adversidades, fortalece-nos na luta pela virtude, guarda-nos para a vida eterna e conduz-nos a ela fornecendo-nos as provisões necessárias para a viagem.
Colóquio – “Ó Pai celestial, Vós destes-nos o Vosso Filho e O enviastes ao mundo só por Vossa vontade. E Vós, ó meu Jesus, não quisestes, pela Vossa própria vontade, desamparar-nos, mas ficar aqui conosco para maior glória dos Vosso amigos. Eis a razão porque Vós, Pai celestial, nos destes este Pão sacratíssimo, este mantimento e maná da Humanidade de Jesus: achamo-lO como queremos e se morremos de fome é unicamente por nossa culpa.
“Alma minha, de todos os modos que quiseres comer, acharás sempre no Santíssimo Sacramento, sabor e consolação, e depois de teres começado a saborear o Salvador, não haverá necessidade, trabalho, nem perseguição, que não seja fácil de suportar.
“Tenha quem quiser o cuidado de pedir o pão material. Quanto a mim, ó eterno Pai, peço-Vos que me concedeis que mereça receber o pão celestial de modo que, visto os olhos do corpo não se poderem deleitar em O ver por estar tão encoberto, se descubra aos da alma e se lhe dê a conhecer, porque é mantimento e alegria e delícia e sustenta a vida” (T.J. Cam. 34, 2 e 5).
“Em Vós, ó Jesus sacramentado, manjar celeste, estão encerrados todos os bens! E que outra coisa pode desejar a alma quando tem em si Aquele que todas as coisas contêm? Se desejo caridade, tendo em mim Aquele que é caridade perfeita, chegarei a ter a perfeição da caridade, e assim também a da fé, da esperança, da pureza, da paciência, da humildade e da mansidão; porque Vós, ó Cristo, graças a este manjar, produzis na alma todas as virtudes. E que outra coisa posso querer e desejar, se todas as virtudes, os dons e as graças que desejo, estão reunidos em Vós, ó Senhor, que estais realmente sob as espécies sacramentais, tal como na verdade estais no paraíso à direita do Pai? Tendo, portanto, e possuindo tão grande bem, nada mais quero, nada mais desejo, nada mais anseio” (Sta M. Madalena de Pazzi).
Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.