São Bento de Núrsia, fundador da Ordem Beneditina, celebrando a Sagrada Eucaristia [croped], século 17, Real Academia de Belas Artes de San Fernando, Domínio Público, Wikimedia Commons

Ó Jesus, creio em Vós e adoro-Vos presente no sacramento do altar: aumentai a minha fé!

1 – No Cânon da Missa chama-se à Eucaristia “Mysterium fidei”; com efeito, só a fé nos pode fazer reconhecer Deus presente sob as espécies do pão. Aqui, como diz S. Tomás, os sentidos para nada servem; pelo contrário, a vista o tato, o gosto, enganam-se, não advertindo na Hóstia consagrada sendo um pouco de pão. Mas que importa? Temos a palavra do Filho de Deus, a palavra de Cristo, que declarou: “Isto é o meu corpo… isto é o meu sangue”, e confiados nesta palavra cremos firmemente: “Credo quidquid dixit Deu Filius, nihil hoc verbo Veritatis verius”; creio em tudo quando disse o Filho de Deus; nada existe mais verdadeiro que esta palavra de verdade (Adoro Te devote). Cremos firmemente na Eucaristia, não temos a opor nenhum dúvida, mas, infelizmente, muitas vezes somos forçados a reconhecer que a nossa é fé frouxa, débil e fraca. Mesmo vivendo junto dos altares sagrados e habitando porventura debaixo do mesmo teto que Jesus sacramentado, é fácil permanecermos, um pouco indiferentes, um pouco frios, perante esta grande realidade. É verdade que a nossa natureza tão grosseira, às vezes, acaba também por se habituar às coisas mais belas e sublimes de modo que estas – sobretudo quando se encontram ao nosso alcance – já não nos impressionam, já não nos comovem; assim, apesar de cremos na presença inefável de Jesus no Santíssimo Sacramento, não advertimos a grandeza desta realidade, não possuímos o sentido vivo e concreto que dela têm os santos. Repitamos, pois, também nós com muita humildade e confiança a bela oração dos apóstolos: “Domine, adauge nobis fidem“, Senhor, aumentai a nossa fé! (Lc. 17, 5).

2 – Quando Jesus anunciou a Eucaristia muitos dos Seus ouvintes escandalizaram-se e alguns dos Seus discípulos que até àquele momento O haviam seguido, “tornaram atrás e já não andavam com Ele” (Jo. 6, 67). Pedro, ao contrário, em nome dos Apóstolos, deu aquele precioso testemunho de fé: “Senhor… tu tens palavras de vida eterna; e nós acreditamos e conhecemos que tu és o Cristo, Filho de Deus” (Jo. 6, 69 e 70). A fé na Eucaristia aparece-nos assim como a pedra de toque dos verdadeiros seguidores de Jesus e quanto mais esta for intensa tanto mais revela uma íntima e profunda amizade com Cristo. Quem, como Pedro, crê firmemente nEle, crê e aceita todas as Suas palavras, todos os Seus mistérios, desde a Incarnação à Eucaristia. Sabemos que a fé, é acima de tudo, um dom de Deus. Justamente no discurso em que prometeu a Eucaristia – que mais do que os outros é um mistério de fé, porque mais se furta a toda a lei natural – Jesus afirmou repetidas vezes desde o princípio, declarando aos judeus incrédulos ninguém poder ir a Ele e, portanto, crer nEle, se “o Pai o não atrair” (Jo. 6, 44) e acrescentou: “Serão todos ensinados por Deus” (ib. 45). Para ter uma fé viva e profunda na Eucaristia, como noutro mistério qualquer, é indispensável esta “atração”, este “ensinamento interior” que só de Deus pode vir e para o qual podemos e devemos dispor-nos, ou solicitando a graça com uma oração humilde e confiante, ou exercitando-nos ativamente na fé. Com efeito, tendo-nos Deus infundido estas virtudes no santo batismo, e sendo a fé uma adesão voluntária do entendimento às verdades reveladas, podemos fazer atos de fé quando quisermos: depende de nós querermos acreditar e pôr nesse ato toda a energia da nossa vontade. Na medida em que a fé crescer em nós, tornar-nos-á capazes de penetrar nas profundezas do mistério eucarístico, de entrar em relações vitais com Jesus Hóstia, de gozar da Sua presença. E quanto mais intensa for a nossa fé, tanto mais se manifestará também na nossa atitude diante do Santíssimo Sacramento. Olhando-nos do tabernáculo, Jesus já não terá motivo para nos dirigir a dolorosa repreensão: “homens de pouca fé” (Mt. 8, 26) muitas vezes dirigida aos Apóstolos e que hoje mereciam muitos cristãos nada respeitosos na Sua divina presença. Que a nossa atitude diante do Santíssimo Sacramento seja sempre um testemunho vivo da nossa fé.

Colóquio – “Eu te louvo e dou graças, ó fé bendita! Tu me fazes saber e me asseguras que no Santíssimo Sacramento do altar, naquele Pão celeste, não há pão, mas está todo inteiro o meu Senhor Jesus Cristo e está aí por meu amor.

“Ó Jesus, como um dia cheio de bondade e amor Vos sentastes junto de uma fonte à espera da samaritana para a converter e salvar, assim agora, escondido na Hóstia consagrada, estas sobre os nossos altares, esperando e convidando docemente as almas para as conquistardes para o Vosso amor. E parece que do tabernáculo nos falais e dizeis a todos: ‘Ó homens, porque não vindes e vos aproximais de mim, que tanto vos amo? Não vim aqui para julgar. Escondi-me neste sacramento de amor somente para conceder benefícios e consolar quem a mim recorre’. Compreendo-Vos, Senhor, o amor fez de Vós nosso prisioneiro, o amor apaixonado que nos tendes acorrentou-Vos de tal maneira, que nem de dia nem de noite Vos deixa separar de nós.

“Ó Senhor, Vós encontrais as Vossas delícias em ficar conosco? Encontrá-las-emos, particularmente nós que temos a honra de habitar tão perto do Vosso altar, de habitar talvez dentro da Vossa própria casa? Oh! quanta frieza, indiferença e até injúrias deveis sofrer neste sacramento, estando Vós nele para nos assistirdes coma Vossa presença!

“Ó Deus sacramentado, ó Pão dos anjos, ó Manjar divino, eu Vos amo; porém nem Vós nem eu estamos contentes com o meu amor. Amo-Vos. Mas amo-Vos muito pouco. Ó Jesus, fazei que o meu coração se despoje de todos os afetos terrenos e dê lugar, ou melhor, deixe todo o lugar ao Vosso amor. para todo me enamorar de Vós e para todo Vos unirdes a mim, desceis do céu cada dia sobre o altar; portanto é justo que eu pense em Vos amar, em Vos adorar, em Vos dar gosto. Amo-Vos com toda a minha alma, com todo o meu afeto. E se quereis pagar-me este amor, dai-me mais amor” (Sto Afonso).

Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.

Última atualização do artigo em 29 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico

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