Ó Senhor, fazei que o meu coração esteja sempre dirigido para o céu onde me esperais.
1 – Este Domingo é como que um prolongamento da festa da Ascensão. O Intróito reflete muito bem os sentimentos que deveriam ter os apóstolos nos dias que decorreram entre a partida de Jesus e a descida do Espírito Santo: “Escutai, ó Senhor, o grito das minhas invocações… Eu procuro a Vossa face, Senhor, não ma escondais”. Como no dia da Ascensão, os olhares dos apóstolos estão ainda fixos no céu onde viram desaparecer o Mestre e os seus corações anseiam por Ele. Enquanto peregrinamos na terra longe do Senhor, deve ser este o contínuo suspiro das nossas almas. Na expectativa da Pátria, porém, não devemos estar ociosos. na Epístola de hoje (I Ped. 4, 7-11), S. Pedro ensina-nos o que devemos fazer para que a vida terrena seja uma verdadeira preparação para o encontro com Deus: “Vigiai na oração. Sobretudo tende perseverante entre vós mesmos a caridade mútua”. Era o que faziam os apóstolos enquanto esperavam o Espírito Santo: perseveraram em oração, reunidos no Cenáculo, em fraterna concórdia. O Senhor não aprecia as orações e as ofertas de um coração que não sabe amar o próximo com sincera benevolência. Jesus disse-o expressamente: “Se estás para fazer a tua oferta diante do altar e te lembrares aí que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta… e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão” (Mt. 5, 23 e 24).
A oração não basta para atrair sobre nós as graças divinas, nem para alcançar a vida eterna: é-nos exigida a caridade fraterna que é a prova mais segura da sinceridade do nosso amor para com Deus. O Espírito Santo que é o Espírito de caridade, que é o Amor substancial, não pode invadir uma alma avara e mesquinha nas suas relações com o próximo; a falta de caridade é um dos maiores obstáculos à Sua ação, porque é diretamente contrária à Sua essência. Como a água paralisa a ação do fogo, assim a falta de caridade paralisa a ação do Espírito santo. Além disso, enquanto estivermos neste mundo, todos estamos sujeitos a cair, todos, por isso, temos necessidade de perdão, e a caridade – diz a Epístola – “cobre a multidão dos pecados”.
2 – No Evangelho de hoje (Jo. 15, 26 e 27; 16, 1-4), encontramos outra vez a promessa de Jesus acerca da vinda do Espírito Santo: “Quando, porém, vier o Consolador que eu vos enviarei do Pai… vós dareis testemunho de mim”. Como no dia da Ascensão, a vinda do Espírito Santo é apresentada em reação com a missão dos apóstolos, que consistirá essencialmente em dar testemunho de Cristo. Lemos na Epístola da festa da Ascensão: “recebereis a virtude do Espírito Santo… e me sereis testemunhas… até às extremidades da terra”, e hoje o Evangelho explica-nos em que deve consistir este testemunho que, não só os Apóstolos, mas todos os cristãos, são chamados a dar de Cristo. “Lançar-vos-ão fora das sinagogas, e virá o tempo em que todo o que vos matar julgará prestar serviço a Deus”. Para dar testemunho do Pai, Jesus morreu sobre a cruz; para dar testemunho de Jesus, os Seus discípulos devem sofrer, suportar perseguições e, muitas vezes, até a morte. É impossível seguir um caminho diverso daquele que seguiu Jesus: “Se alguém quer vir após mim… tome a sua cruz e siga-me” (Mt. 16, 24), repete-nos Ele. Um testemunho pacífico, tranquilo, que para se afirmar não precise de enfrentar perigos e muito menos de arriscar a vida, teá sempre um valor relativo e, portanto, não dá garantia alguma da sua firmeza; ao contrário, quanto mais custa, tanto mais vale e tanto mais demonstra a fidelidade de quem o dá. Dar a Cristo um testemunho pleno, não obstante as dificuldades, os sofrimentos e as lutas que se possam encontrar, é o programa do verdadeiro cristão. Mas quem nos dará coragem? A nós, como aos Apóstolos, a coragem vir-nos-á do Espírito Santo mediante o dom da fortaleza, virá também da assídua meditação dos exemplos de Jesus, e ainda da própria palavra do Salvador que, ao anunciar-nos as perseguições, declarou: “Eu disse-vos estas coisas para que vos não escandalizeis”.
Colóquio – Ó Senhor, tornai-me digno de dar testemunho de Vós, não só com palavras, mas sobretudo com obras, não obstante as dificuldades e os sofrimentos que poderei encontrar. Os Apóstolos deram testemunho de Vós até enfrentarem a morte por Vosso amor, fazei que eu possa dá-lo ao menos com uma vida digna de Vós.
Para dar testemunho de Vós, ó Senhor, “quereria percorrer a terra, pregar o Vosso nome e plantar no solo infiel a Vossa cruz gloriosas, porém, ó meu Bem-Amado, uma só missão não me seria bastante, quereria ao mesmo tempo anunciar o Evangelho nas cinco partes do mundo e mesmo nas ilhas mais afastadas… quereria ser missionário não apenas durante alguns anos, mas quereria tê-lo sido desde a criação do mundo e sê-lo até á consumação dos séculos… Mas cima de tudo quereria, ó meu Bem-Amado Salvador, quereria derramar o meu sangue por Vós…
“Ao pensar nos tormentos que serão a sorte dos cristãos no tempo do Anti-Cristo, sinto o coração aos saltos e quereria que esses tormentos me estivessem reservados… Jesus, Jesus, se quisesse descrever todos os meus desejos, ser-me-ia necessário utilizar o Vosso ‘livro da vida’ onde estão anotadas as ações de todos os santos e essas ações quereria tê-las realizado por Vós… Os grandes feitos estão-me proibidos, não posso pregar o Evangelho, derramar o próprio sangue… mas que importa? Os meus irmãos trabalham em meu lugar; e eu, mantenho-me juntinho do Vosso trono, e amo pelos irmãos que combatem” (T.M.J. M.B. pg. 232 e 236).
Ó Senhor, concedei-me um amor verdadeiro que Vos seja sempre fiel, nas pequeninas coisas, já que não me é dado fazer grandes coisas. Que eu saiba, sobretudo, dar-Vos sempre o testemunho de uma clara profissão de fé, de uma conduta inteiramente conforme com a Vossa lei, em qualquer ambiente, em qualquer circunstância, sem me deixar jamais desviar pelos falso respeitos humanos.
Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.