Sou pobre, e vivo desde a juventude rodeado de trabalhos (Salm. LXXXVII, 16).
Até à idade de trinta anos viveu Jesus na obscuridade de Nazaré, uma vida de obediência e de trabalho.
Cresceu o Menino, fez-se adolescente e chegou à idade madura sem que o mundo suspeitasse sequer que já estava na terra Aquele por quem as gentes suspiravam havia quatro mil anos.
Desta arte ensinou-nos Jesus com o exemplo o que depois nos pregaria com a palavra: Aprendei de mim, que sou manso e humilde coração! (1)
Não nos ensina a criar mundos, nem a fazer milagres, nem a ressuscitar mortos, nem a aplacar as ondas do mar, mas a obedecer e a submeter-nos; ensina os homens a serem humildes e modestos, a trabalharem na obscuridade do mundo durante dias, meses e anos. Sou pobre, pôde dizer Jesus, e vivo rodeado de trabalhos desde a minha juventude (2).
Jesus viveu pobremente em Nazaré. Filho putativo dum pobre carpinteiro, não conhecia o supérfluo, nem a abundância, nem o esplendor, nem o fausto da vida.
Jesus viveu rodeado de trabalhos. Pelo rosto do Homem-Deus correu o suor, e o menino divino cansado do trabalho do dia, repousava num duro leito durante o sono breve da noite. O trabalho e as privações andavam juntos, tornando-se reciprocamente mais duros.
Jesus viveu uma vida humilde. Obedeceu a Maria Santíssima e a S. José. Eles criaturas; e Ele o Criador do mundo, o taumaturgo, Aquele a quem obedece toda a criação. Jesus viveu numa tranquila obscuridade. Não operava milagres, nem fazia profecias. No seu porte, palavras, e rosto não transparecia nada que excitasse a curiosidade.
Contudo viveu uma vida feliz. Que preces tão fervorosas elevaria ao céu, e com que complacências olharia o Pai celestial para as obras do seu amado Filho?! E quanto mais humildes elas eram, tanto mais meritórias se apresentavam aos olhos de Deus, porque tanto mais honrado por elas era Deus.
Oxalá aprendesses deste exemplo do Salvador que a única coisa que verdadeiramente importa, é fazer a vontade de Deus! Só é grande aquilo que se faz porque Deus o quer, e do modo como o quer; pequeno, frívolo, vão e como o nada, é tudo o que se faz sem relação a Deus, tudo o que procede do egoísmo e se confina nos seus acanhados âmbitos.
Jesus obedeceu, trabalhou e viveu na obscuridade; assim o quis o pai celeste, e tanto bastou para que não procurasse outra coisa. Eu não busco a minha vontade, mas a daquele que me enviou (3).
Muitas vezes porém, a fantasia, tão louca, leva a juventude inconsciente a dirigir os seus pensamentos para o futuro, para o possível, mostrando-lhe uma felicidade que só tem realidade na imaginação. A juventude desgosta-se com a sua situação, e enquanto se consome em ânsias de glória, de gozo, de independência, de riquezas e de honra, perde lastimosamente o tempo mais precioso da sua vida.
Oh humilde, paciente e laborioso Jovem de Nazaré, sapientíssimo Deus e Homem! Ensinai-me a seguir as Vossas pisadas, a trabalhar como Vós, e a cifrar toda a minha alegria em procurar como Vós o beneplácito divino.
A Virgem Prudente, Pensamentos e Conselhos acomodados às Jovens Cristãs, por A. De Doss, S.J. versão de A. Cardoso, 1933.
(1) Mat. XI, 29.
(2) Salm. LXXXVII, 16.
(3) Joan. V, 30.
Última atualização do artigo em 9 de março de 2025 por Arsenal Católico