1. Jesus. Filho, foste criado para a bem-aventurança, como o prova a razão, atesta a experiência, ensina a fé.
Buscais sem cessar a felicidade, e fazes bem. Mas deixa de buscá-la na criatura, pois aí não a encontrarás.
nenhuma coisa deste mundo pode saciar-te o coração, e, ainda que fosse o único a possuir todos os bens criados, teu coração ainda estaria vazio e infeliz.
Os bens terrenos provocam sede, sem poder saciá-la: quanto mais os possuíres, mais ardente será tua sede.
Como poderias encontrar nas criaturas o que nelas não existe? Ninguém dá o que não tem.
2. Acaso conseguirás o que nenhum mortal jamais pôde alcançar? O mais sábio dos homens possuía abundância de todos os bens, nadava perpetuamente em novas delícias, maravilhava as nações com a imensidade de suas riquezas e enchia as terras mais longínquas com a fama da sua glória.
Sentindo, contudo, o vácuo do coração, viu-se obrigado a exclamar: “ó vaidade das vaidades e tudo é vaidade!” (Ecle. 1, 2).
Embora tivesses tudo o que no mundo pode desejar o teu coração, fosses senhor de toda a terra, e honrado pela multidão dos homens, gozasses todos os bens, terias de averiguar nada teres encontrado senão vaidade e aflição de espírito (Ecle. 1, 14).
3. Não te admires disso, meu filho, pois o teu coração não foi feito para o mundo. Por conseguinte, todo bem terreno é indigno do destino e afeto do teu coração.
Foste criado para maiores coisas, nasceste para os bens eternos, és destinado ao infinito. Não queiras, pois, jazer na lama, quando foste feito para reinar perpetuamente.
De que serviria ganhar o mundo, se perdesses tua alma? (Lc 9, 25). Certamente serias duplamente infeliz, sofrendo aqui as angústias da má consciência a atormentar-te o coração, e mais tarde sendo condenado à eterna desgraça.
Bem-aventurado o que despreza tudo o que é capaz de iludir-lhe o coração, que generosamente repele todo obstáculo à verdadeira felicidade e, lembrando da nobreza do seu destino, busca, acima de todas as criaturas, a bem-aventurança no Criador!
4. Discípulo. Ó Deus, meu Salvador, Vós m criastes para felicidade e, ainda que até agora não cessasse de buscá-la, não a consegui encontrar.
Repetidas vezes, meus desejos clamavam: “ei-la aqui ou ali”. Insensato que ui em lhes dar crédito. Cego pelos desejos desordenados, andei errante, só experimentando misérias e amarguras, em vez da felicidade almejada.
Ai de mim! Criado para a bem-aventurança que em Vós se acha, ó meu Deus, fatiguei-me, procurando-a fora de Vós nas criaturas. Transviei-me longe da felicidade, para a qual fui feito, e só alcancei para minha perdição a infelicidade que não me era destinada.
Ó Deus, meu Senhor e Salvador, abri-me os olhos, para que veja tão grande erro e, dele libertado, busque eficazmente em vós a bem-aventurança, que não me é possível encontrar nas criaturas.
A Jesus os corações ou Imitação do Sagrado Coração de Jesus – Exortações para purificar o coração, Cap II, Pe Pedro Arnoudt S. J., 1941
Última atualização do artigo em 5 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico