"Tendes ouvido o que foi dito: Amarás o teu próximo e poderás odiar teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos [maltratam e] perseguem." São Mateus, 5

Caríssimos, amemo-nos uns aos outros; porque o amor procede de Deus (I. Joan, IV, 7).

O preceito do amor do próximo é verdadeiramente sublime e admirável. Cristo iguala-o ao amor de Deus, porque o verdadeiro amor do próximo essencialmente não é mais do que o amor de Deus. Sendo o próximo imagem de Deus, irmão de Jesus Cristo e herdeiro do céu, nele devemos amar a Deus.

O modelo perfeitíssimo do amor do próximo é o próprio Jesus Cristo.

E como é que Ele me quis amar? Ofereceu-Se por mim em sacrifício à justiça do Eterno Pai, tomou sobre Si as minhas culpas e pecados; padeceu por Sua livre eleição tormentos indescritíveis; morreu na cruz; instituiu o Santíssimo Sacramento do Altar, como memorial perene da sua paixão e morte; e tornou-se participante do Seu próprio Corpo e Sangue pela Sagrada Comunhão.

Pode acaso haver amor mais perfeito, desinteressado e intenso? Pois tal deve ser o meu amor para com o próximo. Amai-vos uns aos outros como eu vos amei (1).

Mas Jesus dá-nos ainda outra regra do amor para com o próximo: Amarás ao próximo como a ti mesmo (2).

Excelente medida! O amor com que te amas a ti é sobremaneira intenso, duradouro, íntimo e vivo. Leva-te a acautelar-te de todo o mal e a procurar toda a espécie de bens, sempre, em todas as circunstâncias, e por todos os meios que estão ao teu alcance.

Pois o teu amor para com o próximo deve ser igual àquele com que te amas a ti.

Mas, para amar deste modo, é preciso um motivo ou fundamento mais elevado; e esse motivo é o amor de Deus, que me mostra no próximo um filho de Deus, um membro do corpo místico da Igreja, um legítimo coerdeiro do reino da glória.

Por isso o amor cristão do próximo deve-se estender a todos os homens, porque em todos vê a imagem de Deus. Se só amais aos que vos fazem bem, que recompensa mereceis? Não procedem também assim os publicanos? E se só vos mostrais afáveis com os que se chamam vossos irmãos, que fazeis que não façam os pagãos? (3)

No amor deve haver certa ordem: nem todos têm igual direito ao nosso amor. Os primeiros que dele devem beneficiar são os nossos benfeitores, aqueles a quem estamos unidos pelos vínculos do parentesco, e de um modo particular os nossos pais. Depois, veem os nossos irmãos, aqueles que nos estão mais chegados, e aqueles a quem a necessidade obriga a pedir o nosso auxílio.

Se o amor requer ordem, também exige graus: por isso devemos amar mais intensamente a umas pessoas do que a outras, a umas devemos manifestar o nosso amor dum modo, a outras doutro.

Mas, dirás tu, como hei de eu amar aos homens pecadores e viciosos? Aborrece o pecado, e ama o pecador. Esta distinção que poderá parecer difícil, não é impossível. Assim o exige a devida ordem, e esta é a vontade de Deus. Porventura não faz o Senhor nascer o sol, sobre bons e maus, e cair a chuva sobre jutos e pecadores? (4)

Queres ver a imagem magnifica do amor cristão do próximo, em todo o seu esplendor?

O amor é paciente e benigno; não é invejoso, não procede temerária ou precipitadamente, não se ensoberbece; não é ambicioso, nem busca os seus interesses; não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas com a verdade. Tudo tolera, em tudo crê, tudo espera, tudo sofre. O amor nunca jamais acabará (5).

Aquele que não está animado deste espírito, é semelhante ao ídolo, que nem sequer tem uma palavra de agradecimento pelas dádivas, que de contínuo está recebendo. Vestido de roupagens recamadas de ouro, coberto de joias resplandecentes e rodeado de nuvens de incenso, olha friamente para os inúmeros sacrifícios cruentos que lhe oferecem. Ante as homenagens que continuamente lhe prestam nãos e comove; nem recompensa os seus servos, nem ouve as suas súplicas. A ninguém socorre, a ninguém presta auxílio ou proteção.

Pelo contrário, quem tem caridade é semelhante ao sol: este difunde luz, calor e vida; tanto derrama os raios de ouro sobre o colmo da cabana, como sobre as elevadas torres dos castelos; a toda a parte leva a luz e a vida, e com ela a alegria aos corações.

Ó espírito de amor! inflamais o meu coração.

Tornai-me semelhante àqueles primeiros cristãos para quem os pagãos olhavam admirados e dos quais diziam: Vede, como eles se ama uns aos outros!

A Virgem Prudente, Pensamentos e Conselhos acomodados às Jovens Cristãs, por A. De Doss, S.J. versão de A. Cardoso, 1933.

(1) Joan. XV, 12.
(2) Mat. XIX, 19.
(3) Mat. V, 46-47.
(4) Mat. V, 45.
(5) Cor. XIII, 4-8.

Última atualização do artigo em 25 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico

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