Domenichino, “Visão de Santo Inácio de Loyola de Cristo em La Storta,” cerca de 1622 (foto: LACMA - The Los Angeles County M)

Ó Senhor que me prevenis, acompanhais e amparais com a Vossa graça, fazei que ela em mim não seja vã.

1 – “Se a alma busca a Deus, muito mais a bica o seu Amado; e se ela Lhe envia os seus amorosos desejos… Ele envia-lhe a ela o odor dos Seus unguentos, com que a atrai e a faz correr para Ele” (J.C. CV. 3, 28). No seu esforço para chegar à união, a alma nunca está sozinha: o próprio Deus lhe sai ao encontro, parecendo dar-lhe a mão, atraindo-a a Si por meio de santas inspirações que lhe iluminam a mente e de toques interiores que inflamam a vontade. Estas inspirações e toques divinos não são senão a atuação dos dons do Espírito Santo, por meio dos quais Deus toma a direção da alma e trabalha nela, primeiro para a purificar e dispor à união e depois para a unir efetivamente a Si por amor. É muito consolador pensar que esta riqueza de auxílios divinos entra na linha do desenvolvimento da vida da graça e que se encontra, portanto, também na via ordinária da santidade; este é o patrimônio que Deus tem preparado para cada alma, contato que seja generosa em dar-se a Ele.

Devemos concluir, pois, com S. João da Cruz: se são poucos os que chegam verdadeiramente à união perfeita, “não é porque Deus queira que haja poucos destes espíritos elevados”, ou porque seja avaro nos Seus auxílios, “mas porque há poucos vasos que sofram tão alta e subida obra” (CV. 2, 27), isto é, poucas almas generosas.

Se depois de muitos anos de vida espiritual nos achamos ainda tão longe da união com Deus, não podemos na verdade atribuí-lo à escassez de auxílios divinos, mas devemos culpar unicamente a nossa falta de generosidade e de fidelidade à graça. S.ta Teresa declara com energia: “A verdadeira união pode muito bem alcançar-se… desde que nos esforcemos por procurá-la, tendo a vontade sempre unida com o que for da vontade de Deus”. E embora reconhecendo que isto não pode fazer-se senão “com muito mais trabalho”, assegura: “Mas que isto seja possível, não há que duvidar, contanto que haja verdadeiramente união com a vontade de Deus” (M. V, 3, 3 e 5).

2 – “Não é necessário que o Senhor nos dê grandes consolações para chegarmos à união; basta o que nos deu em ter-nos dado Seu Filho para nos ensinar o caminho” (T.J. M. V, 3, 7). Jesus basta-nos, pois não só nos mostrou o caminho da união divina, mas também nos obteve os meios de a alcançarmos.

Jesus lava e purifica as nossas almas com o Seu Sangue, alimenta-as com a sua carne, ensina-as com a Sua doutrina; todos os dias, mil vezes ao dia, renova no altar o Seu Sacrifício em nosso favor; Jesus, glorioso à direita do Pai, intercede continuamente por nós, obtendo-nos e distribuindo-nos as graças consoante as nossas necessidades; envia-nos o Espírito Santo, o Seu Espírito, a fim de nos guiar no caminho da santidade; dá-nos a Sua Mãe, nosso refúgio e nosso amparo nas horas difíceis. Que mais queremos? Acaso por tais graças entrarem no quadro das graças comuns outorgadas às almas, deveremos considerá-las menos preciosas? Oh! se estivéssemos deveras convencidas da eficácia destes meios de santificação, não andaríamos atrás de outros, meios de santificação, não andaríamos atrás de outros, e em vez de esperarmos talvez favores extraordinários para resolvermos dar-nos inteiramente a Deus, aplicar-nos-íamos a corresponder com grande fidelidade às graças que Ele nos oferece dia a dia com imensa liberalidade, e assim chegaríamos certamente à meta. “Sejamos portanto diligentes em pedir ao Senhor – exorta-nos S.ta Teresa de Ávila – que se de alguma maneira podemos gozar do céu na terra, nos dê Seu favor para que isso não nos falte por nossa culpa” (ib. 1, 2). O céu que podemos gozar cá na terra é o estado de união com Deus, no qual a alma, perfeitamente conforme ao querer divino, goza de uma grande paz mesmo no meio das inevitáveis dores da vida, repousando sempre e abandonando-se nos braços da divina Providência. A este feliz estado todos podemos chegar se estivermos resolutamente decididos a seguir o caminho que o próprio Jesus nos indicou, dizendo: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra… Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando” (Jo. 14, 23; 15, 14); caminho que Ele percorreu, não querendo outra comida senão cumprir a vontade do Pai e dizendo sempre o que a Ele Lhe agradava. Sigamos Jesus, deixemo-nos guiar por Ele, que é o caminho, a verdade e a vida e Ele nos conduzirá à suspirada união.

Colóquio – “Ó Jesus, ao dizerdes que a Vossa comida era fazer a vontade do Pai, mostrastes-nos que a Vossa vontade era a Sua e a Sua vontade era a Vossa, e tendo com Ele uma só vontade, declarastes-nos que éreis igual ao Pai e uma só coisa com Ele. Mas além disso ainda nos ensinastes de que maneira também nós podemos tornar-nos, pela graça, de certo modo iguais a Deus e uma só coisa com Ele. Podemo-lo, fazendo a Sua vontade, regra e polo para onde a nossa vontade, como uma agulha magnética, deve olhar sempre; e quando nos desviamos, por pouco que seja, da divina vontade, perdemos esta igualdade e esta união.

“Ó Senhor, dignai-Vos unir-me toda a Vós como recém-desposada. Tirai de mim a minha vontade e todos os meus desejos, de tal modo que não possa desejar nem querer senão o que Vós quereis. Tornai a minha vontade tão conforme e unida à Vossa, que por mim já não possa querer mais nada e já não me preocupe com morrer ou viver, mas somente queira o que for da Vossa vontade.

“Meu Deus, quando Vos tiver oferecido a minha vontade em tudo e por tudo, Vós ma devolvereis, pois quando a minha vontade já não for minha, mas toda Vo-la tiver dado, então contentar-Vos-ei, cumprindo-a em todas as coisas, pois já não será minha mas toda Vossa” (S.ta M. Madalena de Pazzi).

“Recebei, Senhor, a minha inteira liberdade. Recebei a memória, o entendimento e a vontade. Quanto tenho e possuo, tudo me foi dado por Vós, e agora tudo Vos restituo e submeto inteiramente ao governo da Vossa vontade. Dai-me apenas o Vosso amor e a Vossa graça, e com isso ficarei bem rico, nem Vos pedirei outra coisa” (S.to Inácio de Loiola).

Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.

Última atualização do artigo em 8 de março de 2025 por Arsenal Católico

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