Instruí-me, Espírito Santo, sobre o valor do sofrimento; ensinai-me a estimá-lo e a amá-lo como um meio de santificação.
1 – Devemos estar bem convencidos de que, se o Espírito Santo trabalha nas nossas almas, para nos assemelhar a Cristo, não pode fazê-lo senão levando-nos a seguir o caminho da cruz. Jesus é Jesus crucificado: não pode haver, portanto, conformidade com Ele senão mediante a cruz; e jamais se entrará na profundidade da vida espiritual a não ser entrando no mistério da cruz. Sta Teresa de Jesus ensina que até as mais altas graças contemplativas são dadas ás almas, exatamente para as tornar mais capazes de levar a cruz. “Assim como Sua Majestade não nos pode fazer maior mercê do que dar-nos uma vida conforme à que viveu o Seu Filho tão amado, assim tenho por certo serem estas mercês para fortalecer a nossa fraqueza e para O poder imitar no muito padecer” (M. VII, 4, 4). Sim, a conformidade com Jesus crucificado, vale a importa mais do que todas as graças místicas! Toda a vida espiritual é dominada pela cruz, e como a cruz está no centro da história do mundo, assim está no centro da histórica de cada alma. A cruz deu-nos a vida e a cruz imprimirá em nós os traços da mais perfeita semelhança com Jesus: quanto mais participarmos da Sua cruz, tanto mais seremos semelhantes a Ele e cooperaremos na obra da Redenção.
A necessidade da cruz para alcançar a santidade é evidente: não se pode abraçar a vontade de Deus, sempre e em todas as circunstâncias, sem negar a vontade própria; não é possível conformar-se em tudo com Jesus “que não teve nesta vida outro gosto nem quis ter senão o de fazer a vontade de Seu Pai” (J.C. S, I, 13), sem renunciar às próprias satisfações egoístas. E tudo isto significa: desapego, cruz, sacrifício, negação de si mesmo. Significa metermo-nos no caminho que nos foi indicado pelo próprio Jesus: “Se alguém quer vir após de mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mt. 16, 24). Ora é para este caminho que o Espírito Santo nos impele e convida. Quando nos surpreendermos à busca das coisas mais fáceis, mais cômodas, mais honrosas, quando nos apercebermos de que estamos a satisfazer o nosso amor próprio, a nossa vanglória, ou quando nos virmos apegados à nossa vontade, digamos então a nós mesmos que tudo sito está muito longe de ser inspirado pelo Espírito Santo e que, pelo contrário, impede a Sua ação em nós.
2 – Exercitando-nos corajosamente na renúncia, pomo-nos no caminho da conformidade com Jesus crucificado; mas também nisto as nossas iniciativas não são pronunciadas ao fim a atingir: as renúncias e as mortificações praticadas por nós são insuficientes para nos despojarem a fundo do homem velho, para nos revestirem de Cristo e Cristo crucificado. Eis porque o Espírito Santo, depois de nos ter impelido para o caminho da cruz com as Suas inspirações tendentes a fazer-nos abraçar, por amor de Deus, as coisas ásperas e penosas à natureza, Se encarrega Ele próprio de completar a nossa purificação. E fá-lo, submetendo-nos a provas interiores e exteriores. Ele – diz S. João da Cruz – com o Seu “divino fogo de amor… está ferindo a alma, gastando e consumindo-lhe as imperfeições de seus maus hábitos. Esta é a operação do Espírito santo que dispõe a alma para a divina união e transformação de amor em Deus” (C. V. 1, 19). Por conseguinte não podemos pensar que a ação do Espírito Santo em nós seja sempre consoladora, antes pelo contrário! E de resto, o sofrimento é necessário não só para a nossa purificação, mas também para nos associar à obra redentora de Jesus: quanto mais avançarmos no caminho da cruz, tanto mais nos santificaremos e poderemos exercer na Igreja um fecundo apostolado. É pois evidente: o Espírito Santo, para nos santificar, não pode conduzir-nos por outro caminho senão pelo da cruz. Devemos secundar a Sua direção, procurando acima de tudo abraçar de bom grato quanto de amargo e de penoso encontrarmos na nossa vida de cada dia. Por vezes despreza-se a cruz das dificuldades quotidianas para amar uma cruz longínqua que talvez nunca chegue a vir; não devemos andar à busca da nossa cruz sem sofrimentos extraordinários que raramente ou talvez nunca encontremos, mas no dever, na vida, nas dificuldades, nos sacrifícios de cada dia, de cada momento; temos aqui riquezas inexauríveis, basta que as saibamos descobrir à luz da fé. O Espírito Santo ajuda-nos a reconhecer e impele-nos a abraçar esta cruz de cada dia; a abraçar e não a suportar, o que significa aceitar e oferecer ativamente, dizendo com todo o coração: “sim, eu quero, ainda que me pareça ficar esmagado”.
Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.