Penetremos agora nos tesouros do Coração de Jesus, afim de conhecer e admirar suas infinitas riquezas, tanto quanto baste para nos enamorar e sentir-nos arrebatados por Ele. Ora a riqueza que abrange todas as outras é a bondade, é o amor.
E ao que tem fé não lhe custará persuadir-se de que sumamente bom é o Coração de Jesus.
Porque quando uma alma é boa, carinhosa e amável, igualmente bom, carinhoso e amável é o coração que essa alma possui. Ora, a alma de Jesus é a mais perfeita que jamais saiu ou poderá sair das mãos do Onipotente. Portanto, igualmente perfeito é o coração que ela vivifica. Além disso, sendo esse mesmo Coração vivificado por uma alma intimamente unida à Pessoa do Verbo Eterno, é por isso mesmo Coração do próprio Filho de Deus. É, portanto, um abismo, um oceano de todas as perfeições, um Coração de bondade infinita.
Mas vamos aos fatos.
Uma pessoa mostra bondade de coração com a palavra e com os fatos.
Com efeito, podemos acaso duvidar de que tenha bom coração uma pessoa que, sem nenhum merecimento nosso e sem interesse algum, pede nossa amizade, se compadece de nossos sofrimentos, chora nossos infortúnios, consola-nos em nossas aflições, socorre-nos em nossas necessidades e, apesar de lhe correspondermos com ingratidão, nos acompanha, nos perdoa e continua a tratar-nos como se fossemos sempre reconhecidos e amorosos? E se essa pessoa assim fizesse não somente conosco, mas com toda a sorte de pessoas, com grandes e pequenos, com velhos e jovens, com ricos e pobres, com pais e filhos, com sãos e enfermos, com bons e maus, na vida e na more e sempre a víssemos solicita a enxugar lágrimas, consolar aflitos e acolher os miseráveis? E se além disso, essa pessoa nos deixasse como herança tudo o que possui e até para mais nos beneficiar, chegasse ao extremo de deixar-se prender, maltratar, matar por nosso amor, poderíamos ainda duvidar da bondade de seu coração?
Por certo que não.
Pois bem, essa pessoa é Jesus Cristo. Ele passou pela terra, diz S. Pedro, fazendo o bem e consolando a todos: “Pertransiit benejaciendo” (1).
Quando deve, pois, ser bom o Coração de Jesus!
Ouvi que doces palavras Ele nos dirige a todos: “Vinde a mim todos vós que estais atribulados e opressos e eu vos consolarei”.
Vinde a mim, ó anciões, que, já vizinhos às portas da eternidade, temeis meu encontro, e eu serei para vós, não um juiz inexorável, mas um amigo carinhoso.
Vinde a mim, jovens, que na primavera de vossa vida sois arrastados pelo demônio, pelo mundo e pela carne a correr loucamente em busca das flores dos prazeres proibidos e a tocar os lábios nos cálices de Babilônia.
Vinde a mim e serei a flor suavíssima de vossas almas e vos farei experimentar as doçuras inebriantes de meu puríssimo Coração.
Vinde a mim e vos farei honrados cidadãos na terra e moradores felizes da celeste Sião.
Vinde a mim com vossos filhos, ó pais e mães, e eu abençoarei também a eles afim de que sejam a vossa felicidade na terra e a vossa coroa no céu.
Vinde, pobres, e eu proverei às vossas necessidades melhor que às aves do céu e aos lírios do campo. Far-vos-ei encontrar pessoas segundo meu Coração, que hão de ter piedade de vós e serei eu mesmo vossa riqueza fazendo-vos sentar em meu trono celeste.
Vinde, enfermos, e suavizarei vossos males com o bálsamo de minha graça e serei vossa companhia no leito de vossas dores.
Vinde, justos, que no meio das insídias de astutos inimigos, no furor de ásperos combates, temeis pela vossa salvação e eu vos consolarei sendo vossa defesa e vossa vitória.
Vinde, especialmente vós, pecadores, que gemeis sob o peso de inúmeras culpas e eu vos aliviarei.
Criados para a felicidade, vós a buscais com avidez e nunca a encontrais porque não a procurais onde ela se acha.
Vós a buscais nos bens passageiros desta terra, nos vis prazeres terrenos e quando vos aprece tê-la encontrado, percebeis que sois mais infelizes ainda. Vosso coração acha-se vazio e mais sequioso do que antes, a alma perturbada pelos remorsos e vós inquietos como o mar agitado pela tempestade. Oh! que dor me causa esse vosso mísero estado! Como desejo ser a vossa paz, as vossas delícias, vosso paraíso nesta e na outra vida! Não queirais, pois, fugir de mim; vinde, dessedentai-vos nas águas fresquíssimas e cristalinas que brotam da fonte perene do meu Coração; extingui o fogo das paixões que vos atormenta e tereis a felicidade que tanto almejais.
“Venite ad me omnes qui laboratis et onerati estis et ego reficiam vos” (2).
Palavras como essas, convite tão carinhoso, não podem partir senão do melhor e do mais amoroso dos corações. O que disse Jesus, Ele o confirmou com os fatos. Folheai o Evangelho e em todas as páginas encontrareis provas de sua bondade. Quem jamais recorreu a Ele e não foi atendido? Ora é uma criança inocente que Ele acaricia, ora um jovem transviado que abraça e perdoa, ora uma pecadora que defende e absolve, ora um pai ou uma mãe aflita que Ele consola, um doente que Ele cura. Ao Coração de Jesus se aplicam perfeitamente as palavras do profeta rei: “Suavis Dominus universis” (3).
Oh! meu bom Jesus, porque não tenho eu uma pena capaz de descrever e fazer conhecer como mereceis a bondade de Vosso dulcíssimo Coração? Supri a minha impotência com a Vossa divina graça.
O Jardim dos Eleitos, traduzido do italiano, Cap. II, Edição de 1887, P. João Benetti, Salesiano
(1) Act. X, 38.
(2) A Igreja acenando a essas palavras nos faz cantar “Audítis ut suavissimis / Inítet omnes vocibis? / Veníte, quos gravat labo, / Premitque pondus críminum.”
Ouvis com que suavíssimas palavras Ele vos convida a todos?
Vinde a mim todos a quem abatem os sofrimentos e oprime o peso dos pecados.
(3) Salm. CXLIV.
Última atualização do artigo em 2 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico