Ó Maria, Mãe do amor formoso, ensinai-me o segredo de crescer continuamente na caridade.
1 – Não se deve pensar que Maria Santíssima tenha sido dispensada de qualquer atividade pessoal, de qualquer progresso, por ter sido, desde a sua origem, constituída no mais alto grau de santidade a que jamais chegou o maior santo. Pelo contrário! Esta vida foi, tanto para Ela, como para nós, o “caminho” em que se deve progredir sempre na caridade; também a Ela,. como a nós, foi pedida uma correspondência pessoal à graça. E o grande mérito de Maria foi exatamente o de ter correspondido, com a máxima fidelidade, aos imensos dons recebidos. É certo que os privilégios da sua Imaculada Conceição, do estado de santidade em que nasceu e da sua maternidade divina foram puros dons de Deus; porém, bem longe de os receber passivamente – como um cofre recebe os objetos preciosos que aí são colocados – recebeu-os como uma pessoa livre, capaz de aderir com a própria vontade aos favores divinos, por uma plena correspondência à graça. S. Tomás ensina que, se Maria não pôde merecer a Incarnação do Verbo, mereceu, com a graça recebida, aquele grau de santidade que a tornou digna Mãe de Deus (cfr. IIIª q. 2, a 11, ad 3), e mereceu-o justamente pela sua colaboração com a graça. Portanto, em Maria, podemos considerar um progresso na santidade, progresso que não dependeu somente da nova abundância de graça que Deus infundiu nEla em determinados momentos da sua vida – como se pensa ter acontecido no momento da Incarnação – mas também da sua atividade pessoal, toda informada pela graça e pela caridade, por meio da qual soube fazer frutificar o tesouro que lhe foi confiado pelo Senhor. Maria é, no pleno sentido da palavra, a “Virgem fiel” que soube fazer render cem por cento os talentos que recebeu de Deus. Sim, por pura liberalidade divina e em vista da missão altíssima a que era destinada, foi-lhe concedida a medida máxima de graça, que jamais foi dada a uma simples criatura, mas Ela correspondeu também com a máxima fidelidade de que uma criatura pode ser capaz. Plenitude de graça da parte de Deus, e plenitude de fidelidade da parte de Maria, de modo que “a sua bela alma – diz Sto Afonso voava para Deus sem nunca parar e crescia sempre no Seu amor”.
2 – O aumento da graça e da caridade provém das obras meritórias, ou seja, das obras boas praticadas sob o influxo da caridade. Quando uma pessoa faz as suas boas obras “com todo o coração’, o mérito que assim alcança – e que consiste sempre num aumento de graça e de caridade – é-lhe imediatamente concedido; e então a sua vida espiritual cresce logo em intensidade. Tendo presente esta doutrina, pode calcular-se em que proporção se devia ter desenvolvido na alma de Maria, o capital de caridade e de graça que Deus aí tinha colocado desde o primeiro instante da sua existência. Quando pensamos, como faz notar S. João da Cruz, que a alma da Virgem nunca foi movida nem nunca foi retardada pelo apego às criaturas – e que por isso não houve nEla nem segundas intenções humanas, nem mesquinhez derivada do egoísmo – mas que agiu sempre puramente sob o impulso do Espírito Santo, devemos concluir que Maria cresceu continuamente em graça e em caridade e que a caridade se tornou nEla verdadeiramente abissal. Deste modo se explica como, já santa e estabelecida na união com Deus desde a sua conceição, pôde progredir continuamente na santidade, cujos elementos constitutivos são a graça e a caridade. O impulso generoso e fiel com que correspondia aos convites divinos, ia ao encontro de qualquer manifestação da vontade de Deus, aceitava todas as disposições da divina Providência e cumpria todos os seus deveres quotidianos, colocou-a neste magnífico estado de incessante e rapidíssimo progresso no amor. O exemplo luminoso de Maria anima-nos a entregarmo-nos com todo o coração ao serviço de Deus, a fim de que também nós possamos crescer rapidamente na caridade.
Colóquio – “Ó Maria, vós conhecestes o dom de Deus e não perdestes dele nem uma parcela; vós tão pura, tão luminosa, a ponto de parecerdes a própria luz: Speculum justitiae; vós, cuja vida foi tão simples, tão perdida em Deus, que de vós quase nada se pode dizer: Virgo fidelis, sois a Virgem fiel, aquela que guardava todas as coisas no seu coração” (I.T. I, 10).
Ó Maria, que espetáculo maravilhoso é ver a vossa alma crescer incessantemente no amor, subir sem cessar aos mais altos píncaros da santidade! Em vós não há nada que retarde a ação divina, nada que impeça o desenvolvimento da caridade. “Quem é esta que sobe do deserto, inebriada de delícias, apoiada sobre o seu amado?” (Cant. 8, 5). Sois vós, ó minha Mãe, vós que, conduzida pelo Espírito Santo e por Ele amparada, subis sempre de graça em graça, de virtude em virtude. Ó Mãe do amor formoso, cheia de graça, ó Virgem fiel, ajudai-me a corresponder com fidelidade aos dons de Deus! Não permitais que a minha miséria torne a graça vã em mim. Ajudai-me, minha Mãe, a vencer as inumeráveis resistências da minha natureza fraca e cobarde, atraí-me com a suave fascinação do Vosso exemplo, a fim de que vos possa seguir com entusiasmo na vida da caridade perfeita.
“Ó minha Mãe, vós que sempre ardestes em amor para com Deus, dignai-vos dar-me ao menos uma centelha desse amor. Vós pedistes ao vosso Filho por aqueles esposos a quem faltava o vinho, dizendo: vinum non habent, e não havíeis de pedir por mim, pobre como sou de amor de Deus, sendo tão obrigado a amá-lO? Dizei também: amorem no habet. E impetrai-me este amor. Outra graça não vos peço, a não ser esta. Ó Mãe, por quanto amais a Jesus, ouvi-me. Mostrai-me quanto é grande a graça que possuís junto dEle, pedindo-Lhe uma luz e uma chama divinas tão potentes que me transformem de pecador em santo e que, desapegando-me de todo o afeto terreno, me inflamem todo no divino amor. Fazei isto, ó Maria, que bem o podeis fazer, fazei-o por amor dAquele Deus que vos fez tão grande, tão poderosa e tão piedosa” (Sto Afonso).
Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.