Ó Jesus, que me acolhestes com Vosso membro, fazei que eu não viva como um estranho no Vosso Corpo místico, mas que seja útil a todos os meus irmãos.

1 – Prescindindo do grau de caridade a que pode ter chegado uma alma e da sua vocação particular, existe, para todo o cristão, um dever de apostolado que tem o seu fundamento no próprio fato de ser cristão, isto é, de ser membro do Corpo místico de Cristo. “Ainda que muitos, somos um só corpo em Cristo, e cada um de nós membros uns dos outros” (Rom. 12, 5); assim como no nosso corpo cada membro se interessa pelo bem dos outros, “e se um membro sofre, todos os membros sofrem com ele, ou se um membro recebe glória, todos os membros se regozijam com ele” (I Cor. 12, 26), do mesmo modo cada cristão está obrigado a interessar-se pelo bem dos outros.

“Se um espinho – diz S. João Crisóstomo – penetra na planta do pé, todo o corpo o sente e com ele se preocupa: o tronco dobra-se, as mãos estendem-se para o extrair, a cabeça inclina-se e os olhos observam com grande cuidado e solicitude”. Assim como o tronco, as mãos, a cabeça e os olhos não deixam de cuidar do bem-estar do pé, nem dizem: “a mim que me importa?”, mas cada um, a seu modo, corre um auxílio do membro doente, assim também não é lícito a nenhum cristão desinteressar-se do seu irmão, mas deve trabalhar – segundo as suas possibilidades – pelo bem da sua alma. E deve fazê-lo em virtude do batismo que, ao constituí-lo membro do Corpo Místico, o fez solidário com os outros membros, de tal maneira que o bem e o mal alheio se tornam o seu bem ou o seu mal.

“Todos os males têm a sua origem no fato de reputarmos estranho o que diz respeito ao nosso corpo. Ninguém pode cumprir o seu dever se negligência a salvação do próximo. Se ousas dizer que nada tens de comum com os teus membros, nem te importas de nada ter em comum com os teus irmãos, também não tens a Cristo por Cabeça”. Estas duras palavras de s. João Crisóstomo dizem-nos que o apostolado não é uma coisa supérflua, não é algo de facultativo deixando ao arbítrio da generosidade de cada um, mas um dever formal de todo o cristão, dever proveniente da própria natureza do cristianismo, dever tão urgente que não se pode ser verdadeiro cristão sem o cumprir.

2 – Como S. Paulo aos primeiros cristãos, como S. João Crisóstomo à Igreja de Antioquia, assim o Vigário de Cristo levanta a sua voz para inculcar aos fiéis do mundo inteiro o grande dever do apostolado. Jesus que nos mereceu a graça, morrendo na cruz, “teria podido comunicá-la por Si mesmo, diretamente, a todo o gênero humano; mas quis fazê-lo por intermédio de uma Igreja visível, na qual os homens se reunissem para poderem todos, de algum modo, cooperar com Ele na distribuição dos divinos frutos da redenção. Na verdade, assim como o Verbo de Deus Se quis servir da nossa natureza para remir os homens com as Suas dores e tormentos, do mesmo modo Se serve da Igreja, no decurso dos séculos, para continuar perenemente a obra começada” (Pio XII, Myst. Corp.). A Igreja é a sociedade dos fiéis, a Igreja somos nós, portanto incumbe a cada um de nós o dever de cooperar na difusão da graça nas almas. Sem dúvida, o primeiro lugar neste ministério pertence aos bispos e sacerdotes, mas juntamente com eles, sob a sua dependência, todo o cristão é chamado a tomar parte nele. “Não só aos ministros sagrados e aos que se consagram ao serviço de Deus na vida religiosa, mas também a todos os outros membros do Corpo Místico de Jesus Cristo incumbe o dever, dentro das possibilidades de cada um, de com todo o empenho se dedicarem á construção e ao incremento desse mesmo Corpo” (ib).

De cada membro Seu, isto é, de cada cristão, Jesus quer servir-Se para continuar a Sua obra redentora no mundo, Ele, onipotência infinita, tudo criou do nada e, por conseguinte, pode igualmente santificar as almas sem o concurso de ninguém; mas quer ter necessidade de nós, do nosso pobre trabalho, e convida-nos e solicita-nos, do nosso pobre trabalho, e convida-nos e solicita-nos a sacrificarmo-nos com Ele pela salvação dos nossos irmãos. “Mistério tremendo – exclama Pio XII – e nunca meditado em demasia é este: que a salvação de muitos depende das orações e mortificações voluntárias dos membros do Corpo Místico de Jesus Cristo e da cooperação que os Pastores e fiéis devem prestar ao nosso divino Salvador” (ib.). Ser apóstolo significa emprestar a Cristo a nossa capacidade, a nossa atividade, a fim de que Ele, por meio de nós, continue a remir e a santificar as almas.

Colóquio – “Senhor meu, volvei os olhos da Vossa misericórdia sobre o Vosso povo e sobre o Corpo Místico da Santa Igreja, porque sereis mais glorificado perdoando a tantas criaturas do que perdoando-me só a mim, miserável, que tanto Vos ofendi. Peço-Vos, por isso, ó divina e eterna caridade, que satisfaçais em mim a Vossa vingança e tenhais misericórdia do Vosso povo. não me retirarei da Vossa presença enquanto não vir que usais com ele de misericórdia. Como poderia estar contente se eu tivesse a vida eterna, e o Vosso povo a morte?… Quero, pois, e rogo-Vos por favor, que useis de misericórdia com o Vosso povo por aquela caridade que Vos moveu a criar o homem à Vossa imagem e semelhança, a fim de participar de Vós e da Vossa vida.

“Ó Senhor, ofereço-Vos a minha vida, agora e para sempre, tomai-a quando Vos aprouver; entrego-a pela Vossa glória, suplicando-Vos também humildemente que, por virtude da Vossa Paixão, limpeis e purifiqueis de todo o defeito a Igreja, Vossa Esposa e não tardeis mais… Volto depois o olhar para outro lado e vejo as almas perdidas de inumeráveis pecadores e, ao vê-las, despedaça-se-me, ou melhor, dilata-se-me o coração com a força do amargo pesar e, vencida pela compaixão, não posso deixar de chorar a sua miséria, como se me encontrasse, com eles, manchada pela lama das suas culpas.

“Senhor, no curso da Vossa vida mortal, carregastes com o peso de duas cruzes, levando sobre os Vosso ombros a pesada carga dos nossos pecados; assim, para que eu me tornasse semelhante a Vós, carregastes-me com o peso de duas cruzes: uma abate o meu corpo com enfermidades e angústias, a outra trespassa a minha alma dolorida pela perdição e cegueira de tantos miseráveis e obstinados pecadores” (S.ta Catarina de Sena).

Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.

Última atualização do artigo em 7 de março de 2025 por Arsenal Católico

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