Ó Espírito Santo, que conheceis a minha fraqueza, fortalecei-me com a Vossa fortaleza divina.
1 – Sob a influência do dom de temor, a alma põe-se inteiramente nas mãos de Deus com o único desejo de nunca se separar dEle; pelo dom de fortaleza, cujo papel é robustecê-la, torna-se cada vez mais corajosa no serviço divino.
Quando a alma avança na vida espiritual, em vez de agir por iniciativa própria, deve seguir a de Deus, deve deixar-se guiar pelo Espírito santo; contudo também é necessária a sua atividade que há de consistir numa adesão dócil e pronta às moções divinas. Pois bem, o dom de fortaleza dar-lhe-á força para responder sempre sim às inspirações e convites do divino Paráclito, para aceitar e querer tudo o que Ele faz por ela e nela. Este dom vem assim ajudar e aperfeiçoar a virtude da fortaleza, que é sempre fraca apesar da nossa boa vontade e que desfalece muitas vezes, sobretudo perante as exigências duma vida espiritual mais perfeita. Se é precisa muita coragem para sermos fiéis à lei de Deus e aos deveres do próprio estado, mesmo à custa de duros sacrifícios e para suportarmos com paciência todas as dificuldades da vida, é talvez ainda mais necessária para secundarmos a ação do Senhor na nossa alma, para não nos assustarmos com as provações pelas quais nos faz passar, para seguirmos com fidelidade os impulsos do Espírito Santo, Mestre suave e doce, mas ao mesmo tempo exigente, porque não nos pode conduzir à santidade sem nos pedir tudo. E é precisamente neste campo que experimentamos, de um modo particular, a nossa fraqueza: temos a intuição do que Deus quer de nós, talvez o vejamos claramente, e contudo não somos capazes nem temos forças para o fazer. É o grande tormento da alma de boa vontade que ainda não está madura; é a condição da fragilidade humana que a graça atual e a virtude infusa podem melhorar muitíssimo, mas que, agindo através das nossas faculdades limitadas, não podem curar de raiz. É necessária uma intervenção direta de Deus, e Deus intervém fazendo atuar o dom da fortaleza.
2 – A virtude e o dom da fortaleza têm um objeto idêntico – tornar-nos fortes na vida espiritual – mas diferem na maneira de agir. A virtude opera em nós mediante os nossos esforços que, apesar de sustentados ela graça, são sempre esforços humanos; por isso, embora sobrenatural, deve necessariamente adaptar-se ao nosso modo humano de agir, ressentindo-se sempre, portanto, da nossa limitação. O dom, ao contrário – como todos os dons do Espírito Santo – é sobrenatural não só em si mesmo, como também na sua forma de agir; com efeito, em vez de ser posto em ato por nós – como acontece com a virtude – é o próprio Deus quem o põe em ato. Por meio da virtude somos nós que, coma nossa boa vontade sustentada pela graça, procuramos alcançar a fortaleza, tornar-nos fortes; mediante o dom, ao contrário, é o Espírito Santo que nos fortalece interiormente, comunicando-nos algo da Sua onipotência, da Sua fortaleza infinita. Entre a fortaleza adquirida com o nosso esforço e a infundida em nós pelo Espírito Santo, há uma diferença semelhante à que existe entre a obra de um discípulo inexperiente e a de um hábil artista, ou melhor, à que existe entre a capacidade e o poder do homem e a capacidade e o poder de Deus. “Recebereis – disse Jesus aos Apóstolos – a virtude do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e me sereis testemunhas em Jerusalém” (Act. 1, 8); com efeito, aqueles pobres pescadores, cheios de medo, que não tinham tido coragem para acompanhar Jesus ao Calvário, tornaram-se, depois da vinda do Espírito Santo fortes como leões, capazes de enfrentar qualquer perigo e até a própria morte. Este fato faz-nos compreender a necessidade do dom de fortaleza, sem o qual andaremos sempre vacilantes, duvidosos, inconstantes. O Espírito Santo quer, porém, que nos disponhamos a receber este dom pela prática da virtude; os nossos esforços, humilde e constantemente repetidos, são por si mesmos um tácito apelo ao dom de fortaleza. Com o nosso esforço desfraldamos as velas da alma ao sopro do Espírito Santo: pertence-Lhe a Ele escolher o momento de soprar sobre nós, mas não o fará se não nos encontrar dispostos a receber o Seu impulso, isto é, se não nos encontrar entregues à prática da virtude.
Colóquio – “Ó Deus eterno, Vós sois fortaleza e de tal modo fortaleceis a alma que nem o demônio nem criatura alguma lhe pode arrebatar a fortaleza se ela o não quiser. E não o quererá nunca se se revestir da Vossa vontade porque só a sua própria vontade a faz enfraquecer. Ó Deus eterno, amor inestimável, a Vossa criatura está toda unida conVosco e Vós com ela pela criação, pela fortaleza da vontade, pelo amor com que a criastes” (S.ta Catarina de Sena).
“Veni, Spiritus fortitudinis, robora me! Vinde, Espírito de fortaleza e fortalecei-me! Concedei-me o dom de fortaleza para enfrentar com coragem e suportar com paciência as coisas difíceis e penosas, superando todos os obstáculos. preciso muito deste Vosso dom porque sou pequena e fraca e canso-me depressa como as crianças. ‘Mas Vós não Vos cansais’ nem Vos fatigais e a Vossa sabedoria é impenetrável. Dais força ao fatigado e ao que desfalece aumentais a fortaleza e o vigor. Os adolescentes cansam-se e fatigam-se e os jovens caem de fraqueza. Mas aqueles que esperam em Vós adquirirão novas forças, tomarão asas como de águia, correrão sem fadiga, caminharão sem se cansarem” (cfr. Is. 40, 28-31).
Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.
Última atualização do artigo em 25 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico