Vinde, Espírito de conselho, e fazei que o meu coração ouça as Vossas inspirações.

1 – “O Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho dito” (Jo. 14, 26). Esta promessa de Jesus é válida para todo o cristão, portanto também é válida para nós; o Espírito Santo mora nas nossas almas para nos aconselhar, para nos recordar os ensinamentos do Senhor e aplicá-los aos casos concretos da nossa vida. Mas como poderemos nós, pobres criaturas, tão grosseiras e habituadas à linguagem barulhenta dos homens, aperceber-nos do leve murmúrio das inspirações divinas? Deus preveniu-nos com um dom especial, o dom de conselho, pelo qual a nossa alma se torna capaz de compreender a voz íntima e silenciosa do Espírito Santo, distinguindo-a entre todas as outras vozes.

O dom de conselho é o poderoso auxiliar da virtude da prudência. Guiados por esta virtude, procuramos entender como nos devemos comportar nas várias circunstâncias da vida para agradar a Deus; mas nem sempre conseguimos ver com clareza e em certos casos ficamos na dúvida. Qual será mais conforme à vontade divina: esta ou aquela ação? São verdadeiramente sobrenaturais os motivos que me guiam nesta deliberação ou serei impulsionado pela minha natureza e pelo meu eu? A interrogação permanece e nem os conselhos de pessoas prudentes bastam para dissipar a nossa perplexidade ou para nos dar luz suficiente para agirmos com segurança. Necessitamos que o próprio Deus nos ilumine interiormente, que o Espírito Santo ponha em ato o dom de conselho e faça chegar à nossa alma os Seus conselhos divinos. Este dom é como que a antena que nos permite captar os conselhos do Espírito Santo, conselhos preciosíssimos e simplicíssimos que, ultrapassando o labirinto dos nossos raciocínios, nos mostram, com luminosa claridade, o caminho a percorrer, nos dão a conhecer, num instante, a vontade de Deus. Quanto mais se desenvolve em nós este dom, tanto mais a nossa alma se abre á voz do Espírito Santo e mais sensível se torna às Suas inspirações. Em virtude deste dom, nós, pobres criaturas, podemos dirigir ao Altíssimo a humilde, mas audaciosa prece: “Falai, Senhor, que o Vosso servo ouve” (I Re. 3, 9).

2 – Sem dúvida alguma que o Espírito Santo, pelo dom de conselho, quer ser o nosso conselheiro no caminho da santidade. Mas então porque aproveitamos tão pouco das Suas divinas admoestações? Em primeiro lugar porque estamos distraídos, porque a nossa alma está ensurdecida pelas vozes das criaturas e cheia dos tumultos do mundo. A Sagrada Escritura compara a voz do Espírito Santo ao “sopro duma branda viração” (III Re., 19, 12); é necessário, por conseguinte, calar-se exteriormente e mais ainda interiormente, a fim de perceber esta voz tão suave e tênue. Só o silêncio permite ouvir Aquele que se manifesta “no silêncio divino” (cfr. J.C. AM. 1, 26).

Uma outra causa que nos impede de receber os conselhos do Espírito Santo é o apego ao nosso juízo, aos conselhos mesquinhos da nossa mente. Basta um pouco deste apego ou de obstinação nas próprias ideias para fechar a alma em si mesma e para a tornar incapaz de acolher as divinas inspirações. Não nos iludamos, pois isto sucede mesmo que se trate de obstinação no bem porque o apego à opinião pessoal nunca é bom, nunca é sinal da ação da graça, mas de um amor próprio não vencido. Quando uma alma não é sensível nem dócil à voz da obediência que procura demovê-la da sua tenacidade, muito menos poderá sê-lo à voz interior e silenciosa do Espírito Santo. Assim como um barco, embora munido de velas, não pode ser movido pelo vento enquanto permanecer amarrado, assim uma alma presa ás suas opiniões não pode gozar da preciosa influência do dom de conselho; este dom existe nela, sim, mas impotente, quase paralisado, como as velas do barco que está ancorada no porto. Por isso S. João da Cruz aconselha-te: “Nega os teus desejos e encontrarás o que deseja o teu coração; como sabes se o teu apetite é conforme a Deus?” (AM. 1, 15).

Cultivando o recolhimento interior, praticando o desapego do nosso juízo, seremos verdadeiramente, como disse Jesus, “docibiles Dei”, quer dizer, teremos as disposições necessárias para sermos ensinados por Deus, para recebermos os conselhos do Espírito Santo.

Colóquio – “Falai, Senhor, porque o Vosso servo ouve. Eu sou Vosso servo; dai-me inteligência para compreender as Vossas palavras. Inclinai o meu coração às palavras da Vossa boca; desça, como orvalho, a Vossa doutrina. Os filhos de Israel dizima outrora a Moisés: ‘Fala-nos tu e nós ouviremos; não nos fale o Senhor para que não suceda morrermos’. Senhor, não; não é assim que eu peço, mas antes humilde e ansiosamente Vos suplico com o profeta Samuel: ‘Falai Vós, Senhor, porque o Vosso servo ouve’. Não me fale Moisés, nem outro profeta; falai-me antes Vós, ó meu Senhor e meu Deus, oráculo e luz de todos os Profetas; porque só Vós me podeis ensinar perfeitamente sem eles e eles sem Vós nada podem fazer.

“Podem, é certo, proferir palavras: mas não lhes dão o espírito. Têm uma linguagem sublime; mas se Vós Vos calais, não abrasam o coração. Ensinam a letra; mas Vós explicais-lhe o sentido. Anunciam os mistérios; mas Vós lhes revelais o significado.

“Publicam os mandamentos; mas Vós ajudais a cumpri-los. Mostram o caminho; mas Vós dais a força para o percorrer. Operam exteriormente mas Vós instruis e iluminais o coração. Eles bradam com palavras; mas Vós dais a inteligência do que se ouve.

“Falai então, Senhor, porque o Vosso servo ouve: Vós tendes palavras de vida eterna. Falai-me para consolação da minha alma, emenda de toda a minha vida, e para honra, louvor e glória eterna do Vosso nome” (Imit. III, 2, 1-3).

Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.

Última atualização do artigo em 25 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico

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