Alegrai-vos incessantemente no Senhor (Fil. IV, 4).
Há uma tristeza má que ofende a Deus, que afugenta o próximo, que atormenta a quem a sente, impede a virtude e fomenta o vício.
Há outra tristeza que é boa e útil para a salvação. Esta, por mais amarga que seja, não está isenta de consolações. É semelhante à tempestade, cujas nuvens se vão transformando pouco a pouco em chuva benéfica, e que rasgando-se, deixam aparecer aqui e além o azul do céu sereno.
A tristeza que nasce da paixão é áspera, sombria, inquieta e violenta; oprime o espírito, e converte-se facilmente em desespero. É semelhante ao mar enfurecido: as suas ondas galgam em serras até ao céu para se irem desfazer estrepitosamente n o abismo.
Há além disso uma tristeza natural, que aflige certas almas tímidas, que se assustam sem razão e se deixam dominar por tristes pressentimentos. Entenebrece o espírito, paralisa a vontade, forja mil perigos, oprime o coração com um peso enorme; a alma que fomenta ideias tão sombrias fica como que abismada dentro de si mesma.
Este gênero de tristeza e melancolia é na juventude dos nossos dias mais frequente do que poderia parecer numa época em que abundam as comodidades, os deleites e as diversões. Mas a causa do mal está exatamente em que os desejos são muitos, e os prazeres de pouca duração; os contrastes são violentos, as transições são rápidas e o vácuo que de repente se forma no coração derrota-o e aniquila-o.
Se a este mal juntarmos a educação efeminada, falha daquela fortaleza que dão as privações e as várias necessidades a que desde tenra idade se deve acostumar a juventude, não nos admiremos que haja grande número de jovens que, deixando-se arrastar por qualquer impressão, vivem no meio da agitação de mil desejos ilusórios, dissipando neles as melhores energias da alma, e tornando-se incapazes para a prática da vida.
Nestas verifica-se a presença do Espírito Santo: Não há chaga maior do que a tristeza do coração (1).
O melhor meio para afugentar a tristeza do espírito atormentado é o vencimento próprio e a união com Deus.
A verdadeira alegria é privilégio dos bons cristãos. Pelo que, diz o apóstolo a todos os fiéis: Alegrai-vos sempre do Senhor, outra vez vo-lo digo alegrai-vos (2).
Só o que vive na graça de Deus tem razão para estar contente e satisfeito. Ao passo que a jovem que é escrava do pecado e inimiga de Deus há de tremer e temer ao pensar no inferno que ruge por baixo dos seus pés.
A pureza do coração é, pois, o fundamento da verdadeira alegria. Esta, nasce da confiança consoladora de saber que estou na amizade de Deus, meu Pai, que me ama e cuida de mim, e que tudo dispõe para meu maior bem.
Esta alegria alimenta-se com os pensamentos que nos subministra a fé. O pensamento de que Deus está presente em toda a parte alegra o coração; a abundância de graças com que a Igreja nos mimoseia, vivifica o espírito; e a esperança de uma eternidade bem-aventurada gera em nós um gozo inefável.
A alegria é, pois, um estado tranquilo da alma, em que não há trevas que escureçam ou pelo menos que impeçam que nela brilhe, penetre e ilumine o sol da confiança de Deus.
A alegria do coração manifesta-se exteriormente e reflete-se no rosto; o semblante da jovem, que tem a dita de a possuir, é sereno, o olhar nobre e tranquilo, os modos modestos, o porte firme e animado.
Quando as circunstâncias o pedem, é grave, mas de uma gravidade moderada; porque a mesma alegria sabe adoçar a sua rudeza natural e contê-la dentro dos limites marcados pela razão.
A alegria é expansiva. A jovem alegre e tratável, simples, afável e complacente. Se a ironia sai da sua boca, não é dardo que a fere, mas simples desafogo inofensivo que agrada e recreia com o seu sibilar.
Também não carece de ruído para se manifestar. Saindo de uma alma serena e ordenada, manifesta-se também com toda a tranquilidade. A característica da verdadeira alegria é esta: saber-se dominar, e gozar sossegada deste domínio.
O coração alegre faz rejuvenescer as cãs já carregadas de anos, o espírito triste mirra os ossos (3).
A alegria convém pois, sobretudo à idade juvenil, para que dela se possa dizer com razão que é verdadeiramente sã e cheia de frescura.
Evita o pecado, vence a paixão dominante, sê piedosa, adere a Deus, e a tua alegria nunca se empanará.
Sim: o temor de Deus alegra o coração, dá-lhe felicidade, alegria e longa vida (4).
A Virgem Prudente, Pensamentos e Conselhos acomodados às Jovens Cristãs, por A. De Doss, S.J. versão de A. Cardoso, 1933.
(1) Ecl. XXV, 17.
(2) Filip. IV, 4.
(3) Prov. XVII, 22.
(4) Ecl. I, 12.
Última atualização do artigo em 9 de março de 2025 por Arsenal Católico