Ó Espírito Santo, tornai-me conforme a Jesus, fazei de mim um “alter Christus”
1 – O Espírito Santo foi-nos dado para nos santificar, mas qual o caminho por onde nos conduzirá à santidade? A Encíclica Mystici Corporis responde, dizendo que o divino Paráclito “é comunicado à Igreja… para que cada um dos seus membros, dia a dia, se torne mais semelhante ao Redentor”. O Espírito Santo vem às nossas almas para nos conformar, para nos assemelhar a Cristo: eis o fim imediato da Sua ação em nós, eis o caminho pelo qual nos conduzirá à santidade.
Todos os eleitos são predestinados por Deus “para serem conformes à imagem de Seu Filho” (Rom. 8, 29): nós seremos santos na medida da nossa semelhança com Cristo. E o Espírito Santo foi-nos dado para esculpir em nós os traços desta divina semelhança, tornando-nos “de dia para dia sempre mais semelhantes ao Redentor”. Oh! seria preciso que não houvesse dia em que esta santa semelhança não aumentasse em nós! Se Jesus é o modelo com o qual todos nos devemos conformar não é presunção aspirarmos a tornarmo-nos de tal modo semelhantes a Ele, que a nossa vida seja um “prolongamento” da Sua e Ele possa continuar em nós a Sua obra de incessante adoração e glorificação do Pai e redenção dos homens. Somos incapazes de atingir uma tão perfeita conformidade com Cristo, mas o Espírito Santo está em nós para a realizar. Jesus é o Santo por excelência; para nos tornar semelhantes a Ele, o Espírito Santo comunica-nos inicialmente a santidade de Cristo, infundindo em nós a graça, a qual depois deve penetrar o nosso ser, a nossa atividade, a nossa vida inteira, a ponto de fazer de cada um de nós um “alter Chirstus“. E notemos que a graça infundida em nós pelo Espírito Santo, é idêntica, na sua natureza, àquela que santifica a alma de Jesus: embora nos seja dada em medida infinitamente inferior À de Cristo, já que Ele a possui “sem medida”, é porém o mesmo gérmen, o mesmo princípio de santidade. Eis porque o pleno desenvolvimento da graça pode levar-nos à identificação com Cristo até sermos outras tantas imagens dEle. E na medida em que formos transformados em Cristo, participaremos não só da Sua santidade, mas também da Sua obra. Jesus renovará em nós o Seu mistério: em nós continuará a glorificar a Santíssima Trindade e a salva as almas.
2 – A norma da vida de Jesus foi a vontade do Pai, e já vimos como o Espírito Santo continuamente O guiava para o cumprimento desta vontade. De igual modo o Espírito Santo quer guiar-nos cada vez mais no caminho traçado pela vontade de Deus. Na prática, com efeito, “a santidade consiste só na conformidade com o querer divino” (Bento XV), numa conformidade tão plena que, como ensina S. João da Cruz, não haja na alma “coisa contrária à vontade de Deus, mas que em tudo e por tudo o seu movimento seja somente a vontade de Deus” (J.C. S. I, 11, 2). Não é fácil chegar a esse ponto e jamais chegaríamos sem o socorro do Espírito Santo. Além disso, é preciso ter presente que a conformidade com a vontade de Deus deve exprimir-se “num contínuo e exato cumprimento dos deveres do próprio estado” (Bento XV), e ser sempre e em tudo fiel ao dever não é pouca coisa! Requer abnegação, generosidade e constância a toda a prova. Olhemos Jesus na cruz e compreenderemos o que pode exigir o perfeito cumprimento da vontade de Deus, o perfeito cumprimento do próprio dever. Este é o caminho que devemos tomar com toda a boa vontade, renovando sempre os nossos esforços. No entanto, por muito boa vontade que tenhamos, somos tão fracos, tão inconstantes, tão tenazmente apegados a nós mesmos, e as nossas forças são tão limitadas, que nem sempre conseguiremos manter-nos na linha do cumprimento perfeito dos nosso deveres; muitas vezes caímos e nem sequer sabemos levantar-nos. Humilhemo-nos então – sirvamo-nos destas quedas para reconhecermos cada vez mais a nossa impotência e fragilidade – humilhemo-nos, mas não desanimemos. Em vez de chorarmos sobre nós mesmos, dirijamos o nosso olhar e o nosso apelo ao Espírito Santo para que venha em nosso socorro e depois recomecemos com humildade e confiança. Vendo-nos renovar os nosso esforços, o Espírito Santo virá ao nosso encontro, tomar-nos-á pela mão e num instante nos conduzirá aonde não conseguiríamos chegar talvez em muitos anos. Devemos estar seguros disto pois que Jesus nos mereceu e enviou o Seu Espírito “em copiosíssima efusão”!
Colóquio – “Ó amantíssimo Jesus, desejo seguir conVosco a regra do amor, a regra da vontade de Deus, pela qual possa renovar e passar em Vós toda a minha vida. Colocai-a sob a custódia do Vosso Espírito Santo para que esteja sempre pronta para a observância dos Vossos mandamentos e de todos os meus deveres. Eu não sou senão uma pobre haste plantada por Vós; por mim não sou nada e menos que nada, mas Vós podeis fazer-me florescer na abundância do Vosso Espírito. Que sou eu , meu Deus, vida da minha alma? Ah! quão longe estou de Vós! Sou como um grão de poeira que o vento levanta e dispersa. Portanto, em virtude da Vossa caridade, que o vento forte do Vosso amor onipotentes, pelo sopro do Espírito Santo, me lance com tal ímpeto para Vós, ao sabor da Vossa Providência, que eu comece verdadeiramente a morrer a mim mesma para viver em Vós, meu doce Amor. Fazei que eu me perca em Vós; que me abandone a Vós tão completamente que de mim não fique nenhum vestígio, como acontece a um grão invisível de pó que desaparece sem se fazer notar. Transferi-me assim totalmente para o afeto do Vosso amor, que em Vós seja reduzida a nada toda a minha imperfeição e eu não tenha vida alguma fora de Vós” (Sta Gertrudes).
Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.