Ó Espírito Santo, Espírito de piedade, vinde orar em mim, vinde regular as minhas relações de filho para com o Pai celeste.
1 – As nossas relações com Deus são essencialmente relações de filhos; devem portanto ser relações de plena confiança e intimidade, visto que não somos estranhos, mas “domestici Dei” (Ef. 2, 19); pertencemos à família de Deus. Por isso a nossa oração deveria ser a expressão dos sentimentos de um filho que gosta de conversar cordialmente com o seu pai e que se lança nos seus braços com um abandono total. Mas, infelizmente, somos sempre pobres pecadores, e a consciência das nossas misérias e infidelidades, procura paralisar este impulso filial, gerando na alma um certo temor que muitas vezes faz vir espontaneamente aos lábios o grito de S. Pedro: “Retira-te de mim, Senhor, pois eu sou um homem pecador” (Lc. 5, 8). Isto acontece sobretudo quando a alma atravessa períodos obscuros de lutas, de tentações, de dificuldades que tentam lançá-la na agitação e na perturbação, privando-a, apesar dos seus esforços, daquele impulso confiante do coração que mergulha em Deus toda a preocupação. mas eis que um dia, durante a oração, a alma se recolhe sob a influência de uma luz nova que afugenta todo o temor; não é um pensamento novo, mas uma persuasão nova e íntima, que lhe faz sentir profundamente que é filha de Deus e que Deus é seu Pai. É a influência do dom da piedade, posto em ato pelo Espírito Santo. Já S. Paulo dizia aos primeiros cristãos: “Não recebestes o espírito da escravidão para estardes novamente com temor, mas recebestes o espírito de adoção de filhos, mercê do qual clamamos, dizendo ‘Abba Pai!’ É o próprio Espírito que atesta ao nosso espírito que somos filhos de Deus” (Rom. 8, 15 e 16). É pois o Espírito Santo que infunde na alma este profundo sentimento de filial piedade, de plena confiança no Pai celeste. Ele próprio, com gemidos inenarráveis, vai murmurando em nós: “Pai!”. “Deus mandou aos vosso corações o Espírito do Seu Filho que clama ‘Abba, Pai'” (Gál. 4, 6). Assim a alma sente-se transformada e as suas relações com Deus tornam-se verdadeiramente filiais.
2 – A oração profunda é um contato íntimo da alma com Deus. mas quem poderá ensinar ao homem, tão rude e material, a delicadeza requerida para tratar intimamente com o Rei do céu e da terra? Não haverá nunca cerimonial nem livro devoto capaz de regular dignamente as relações íntimas de amizade entre o Criador e a criatura. Mas há um mestre cuja competência é plenamente adequada a esse fim e cujo ensinamento está ao alcance de toda a alma cristã.
Este Mestre é o Espírito Santo: “O Espírito ajuda também a nossa fraqueza, porque não sabemos o que havemos de pedir como convém; mas o mesmo Espírito ora por nós com gemidos inexplicáveis” (Rom. 8, 26). Realidade consoladora para a alma que tem o sentido da sua impotência e da sua incapacidade para tratar com Deus, para a alma que sente a necessidade de uma oração proporcionada à bondade infinita daquele Deus que nos amou até Se fazer um de nós e, ao mesmo tempo, adequada à soberana majestade, à transcendência infinita do Altíssimo. E eis que o Espírito Santo alterna na alma sentimentos de plena confiança e de profunda adoração, de amizade amorosa e de reconhecimento da suprema grandeza de Deus. O Espírito Santo repete em nós: Pater, e ainda: Tu solus Sanctus, Tu solus Dominus, Tu solus Altissimus. Mesmo quando estamos na aridez, quando o coração está frio e a mente obscurecida, o Espírito Santo ora em nós e podemos oferecer sempre a Deus a Sua oração. Esta é a oração mais verdadeira, mais preciosa, que será certamente ouvida, porque o Espírito Santo não pode inspirar-nos sentimentos e desejos contrários ao beneplácito divino, mas “pede segundo Deus” (ib. 27).
Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.
Última atualização do artigo em 29 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico