LIBERALISMO É PECADO
D. Félix Sardà y Salvany
04. DA ESPECIAL GRAVIDADE DO PECADO LIBERALISMO
Ensina a teologia católica que nem todos os pecados graves são igualmente graves, ainda dentro da sua condição essencial, que os distingue dos pecados veniais. Há graus no pecado, ainda dentro da categoria de pecado mortal, como há graus na obra boa dentro da categoria de obra boa e ajustada à lei de Deus. Assim o pecado direto contra Deus, como a blasfêmia, é pecado mortal mais grave em si, do que o pecado direto contra o homem, como é o roubo. Pois bem, à exceção do ódio formal contra Deus, que é o maior dos pecados e que raríssimas vezes se comete pela criatura, a não ser no inferno, os pecados mais graves de todos são os pecados contra a fé! A razão é evidente. A fé é o fundamento de toda a ordem sobrenatural; o pecado é tal enquanto ataca qualquer dos pontos desta ordem sobrenatural; é, pois, pecado máximo o que ataca o fundamento máximo daquela ordem. Um exemplo esclarecerá. Se se dá um golpe numa árvore cortando-lhe qualquer dos seus ramos, faz-se-lhe maior golpe, quanto mais importante é o ramo que se corta; dá-se-lhe golpe máximo ou radical, se se corta a árvore pelo seu tronco ou raiz. Santo Agostinho, citado por São Tomás falando do pecado contra a fé, diz com precisão incontestável: Hoc est peccatum quo tenentur cuncta peccata: pecado é este em que se contém todos os pecados”. E o mesmo Anjo das escolas discorre sobre este ponto, como sempre, com sua costumada clareza. “Um pecado, diz ele, é tanto mais grave, quanto por ele o homem mais se separa de Deus. Pelo pecado contra a fé o homem separa-se o mais que pode de Deus, pois priva-se do seu verdadeiro conhecimento: por onde, conclui o santo Doutor, o pecado contra a fé é o maior que se conhece.”
Todavia, é maior ainda o pecado contra a fé, quando não é simplesmente carência culpável desta virtude e conhecimento, mas negação e combate formal contra dogmas formal e expressamente definidos pela revelação divina. Então o pecado contra a fé, de si gravíssimo, adquire uma gravidade maior, que constitui o que se chama heresia. Inclui toda a malícia da infidelidade, mais, o protesto expresso contra um ensinamento da fé, ou adesão expressa a um ensino que por falso e errôneo é condenado pela mesma fé. Acrescenta ao pecado gravíssimo contra a fé a obstinação e contumácia nele, e uma certa orgulhosa preferência da própria razão sobre a razão de Deus.
Portanto, as doutrinas heréticas e as obras heréticas constituem o maior pecado de todos, à exceção do ódio formal a Deus, do qual, como já dissemos, só são capazes, comumente, o demônio e os condenados.
Conseguintemente, o Liberalismo, que é heresia, e as obras liberais, que são obras heréticas, constituem o pecado máximo que se conhece no código da lei cristã.
Logo (salvo os casos de boa fé, de ignorância e indeliberação), ser liberal é maior pecado do que ser blasfemo, ladrão, adúltero ou homicida, ou qualquer outra coisa das que a lei de Deus proíbe e a sua justiça infinita castiga.
Não o entende assim o moderno Naturalismo; mas sempre assim o creram as leis dos Estados cristãos até ao advento da presente era liberal, assim o prossegue ensinando a lei da Igreja, e assim o continua julgando e condenando o tribunal de Deus. Sim, a heresia e as obras heréticas são os piores pecados de todos; e por isso o Liberalismo e os atos liberais são, ex genero suo, o mal sobre todo o mal.
O Liberalismo é Pecado – Pe. Félix Sardá y Salvany, 1949.