O Liberalismo é Pecado – 18. Sinais ou sintomas mais comuns por onde se pode conhecer se um livro, periódico ou pessoa estão atacados ou somente se ressentem do Liberalismo

O Liberalismo é pecado

LIBERALISMO É PECADO

D. Félix Sardà y Salvany

18. SINAIS OU SINTOMAS MAIS COMUNS POR ONDE SE PODE CONHECER SE UM LIVRO, PERIÓDICO OU PESSOA ESTÃO ATACADOS OU SOMENTE SE RESSENTEM DO LIBERALISMO

Nesta variedade, ou melhor, confusão de matizes e meias-tintas que oferece a variegada família do Liberalismo, haverá sinais ou notas características com que distinguir facilmente o que é liberal do que o não é? Eis outra questão muito prática também para o católico de hoje e que de um modo ou de outro o teólogo moralista tem de resolver frequentemente.

Dividiremos para este fim os liberais (sejam pessoas ou escritos) em três classes:

Liberais avançados;

Liberais moderados;

Liberais impropriamente ditos ou apenas eivados de Liberalismo.

Ensaiemos uma descrição semifisiológica de cada um destes tipos. É estudo que não carece de interesse.

O liberal avançado conhece-se desde logo, porque não trata de negar nem encobrir sua maldade. É inimigo formal do Papa e dos Padres e de toda a gente da Igreja; basta-lhe que qualquer coisa seja sagrada para excitar seu desenfreado rancor. Procura dentre os periódicos os mais desbragados; vota entre os candidatos os mais abertamente ímpios; aceita seu funesto sistema até às últimas consequências. Faz gala de viver sem prática alguma de religião, e a muito custo a tolera em sua mulher e filhos. Costuma pertencer às seitas secretas e morre geralmente sem socorros alguns da Igreja.

O liberal moderado ou manso, costuma ser tão mau como o primeiro, porém cuida bastante em não parecê-lo. As boas formas e as conveniências sociais são tudo para ele; salvo este ponto, não lhe importa muito o resto. Incendiar um convento não lhe parece bem; apoderar-se do solar do convento incendiado é para ele coisa já mais regular e tolerável. Que um jornaleco qualquer desses de bordel venda suas blasfêmias em prosa, verso ou gravura a dez réis o exemplar é um excesso que ele proibiria e até lamenta que o não proíba um governo conservador; porém, que se diga o mesmo inteiramente em frases cultas, em um livro de boa impressão ou em um drama de sonoros versos, sobretudo se o autor é acadêmico ou coisa semelhante, já não oferece inconveniente. Ouvir falar em clubes dá-lhe calafrios e calor, porque ali, diz ele, se seduzem as massas e se subvertem os fundamentos de ordem social; porém, ateneus livres podem muito bem consentir-se, porque a discussão científica de todos os problemas sociais, quem a há de estranhar? Escola sem catecismo é um insulto ao país católico que a paga; porém Universidade Católica, isto é, com sujeição inteira ao catolicismo, quer dizer ao critério da fé, isso deve deixar-se para os tempos da Inquisição. O liberal manso não aborrece o Papa, e só não acha bem certas pretensões da cúria romana e certos extremos do ultramontanismo que não condizem bem com as ideias de hoje. Gosta dos Padres, sobretudo dos ilustrados, isto é, dos que pensam à moderna como ele; porém, os fanáticos ou reacionários, evita-os ou lastima-os. Vai à Igreja e recebe até os Sacramentos; porém a sua máxima é que na Igreja se deve viver como cristão, mas fora dela convém viver com o século em que se nasceu e não se obstinar em remar contra a corrente. Vive assim entre duas águas, costuma morrer com o sacerdote ao lado, porém com a livraria cheia de livros proibidos.

O católico simplesmente eivado de Liberalismo conhece-se em que, sendo homem de bem e de práticas sinceramente religiosas, respira, todavia, Liberalismo falando ou escrevendo ou trazendo-o entre mãos. Poderia dizer a seu modo, como Mme. Sévigné: “Não sou a rosa, mas estive junto dela e tomei algo do seu perfume”. O verdadeiramente eivado discorre, fala e obra como liberal deveras, sem que ele mesmo, o pobrezinho, o deixe de ver. O seu forte é a caridade; este homem é a caridade em pessoa. Como aborrece as exagerações da imprensa ultramontana! Chamar mau a um homem que difunde más ideias parece esse singular teólogo um pecado contra o Espírito Santo. Para ele não há mais que extraviados. Não se deve resistir nem combater: o que se deve procurar sempre é atrair. “Afogar o mal com abundância do bem” é a sua fórmula favorita, que leu um dia em Balmes por casualidade e foi a única coisa que do grande filósofo catalão lhe ficou na memória. Do Evangelho aduz unicamente os textos que sabem a mel e açúcar. As invectivas espantosas contra o farisaísmo dir-se-ão que as tem por excessos de gênio e de zelo do divino Salvador; apesar de que sabe usá-las ele mesmo rijamente contra os irritáveis ultramontanos, que com suas exagerações comprometem cada dia a causa de uma religião que é toda paz e amor. Contra esses é acerbo e duro o verdadeiro eivado, contra estes é amargo o seu zelo, acre a sua polêmica e agressiva a sua caridade.

A respeito dele exclamou o Padre Felix, num discurso célebre, a propósito das acusações de que era objeto a pessoa do grande Veuillot: “Senhores, amemos e respeitemos até os nossos inimigos”. Mas não; o verdadeiro eivado não faz assim: guarda todos os seus tesouros de tolerância e de caridade liberal para os inimigos jurados da sua fé. É claro, que outro meio tem o infeliz de os atrair! Em troca, só tem o sarcasmo e a intolerância cruel para seus mais heroicos defensores. Em suma, ao verdadeiro eivado não entra na cabeça aquela oposição per diametrum de que fala S. Inácio em seus exercícios espirituais. Não conhece outra tática senão a de atacar de lado, que em religião costuma ser a mais cômoda, porém não a mais decisiva. Bem quisera ele vencer, porém a troco de não ferir o inimigo, nem causar-lhe mortificação ou enfado. O nome de guerra irrita-lhe os nervos, mas acomoda-se a ele a pacífica discussão. Está pelos círculos liberais, onde se discursa e delibera mais que pelas Associações ultramontanas, onde se dogmatiza e censura. Numa palavra, se por seus frutos se conhece o liberal fero ou manso, por suas afeições se distinguirá, principalmente, o eivado de Liberalismo.

Por estes traços mal delineados que não chegam a desenho ou esboço e muito menos a verdadeiro e perfeito retrato, será fácil conhecer imediatamente qualquer dos tipos da família em suas diversas gradações.

Resumindo em poucas palavras os traços mais característicos de sua respectiva fisionomia, diremos que o liberal avançado ruge com o seu Liberalismo; o liberal moderado perora; o pobre eivado suspira e faz lamúria.

Todos são maus, como dizia de seus pais aquele velhaquete da fábula; porém ao primeiro paralisa-o  muitas vezes seu próprio furor; ao terceiro a sua condição híbrida, de só infecunda e estéril. O segundo é o tipo satânico, por excelência, o que em nossos tempos produz o verdadeiro estrago liberal.

O Liberalismo é Pecado – Pe. Félix Sardá y Salvany, 1949.

Última atualização do artigo em 9 de dezembro de 2024 por Arsenal Católico

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