O Liberalismo é Pecado – 26. Continua a famosa e contundente citação da “Civiltá Cattolica”

O Liberalismo é pecado

LIBERALISMO É PECADO

D. Félix Sardà y Salvany

26.CONTINUA A FAMOSA E CONTUNDENTE CITAÇÃO DA “CIVILTÀ CATTOLICA”

Continua assim o famoso artigo da Civiltà e continuamos nós também a oportuníssima citação dele.

“Se os liberais nos podem a verdadeira caridade, a única que lhes convém é que nós, como redatores da Civiltà Cattolica lhes podemos e devemos dar, tão longe estamos de querer negar-lha que, muito ao contrário, julgamos haver-lha prodigalizado muitíssimo até agora, senão segundo todas as suas necessidades, ao menos segundo a nossa possibilidade.

“É intolerável abuso de palavras o que cometem por aí os liberais, dizendo que não usamos com eles de caridade.

“A caridade, uma em que seu princípio, é varia e multiforme em suas obras. Tanto usa muitas vezes da caridade o pai que rijamente bate em seu filho, como que o cobre de beijos. E é muito possível que amiúdas vezes seja menos para com seu filho a caridade do pai que o beija, que a do que o fustiga.

“Nós fustigamos os liberais, não pode negar-se, e muito a miúdo, com meras palavras por suposto. Porém, poderá dizer-se por isto que não os amamos? Que não temos caridade para com eles? Isto poderá dizer-se antes daqueles que contra as prescrições da caridade interpretam mal as intenções do próximo.

“Enquanto a nós, o que mais poderão dizer os liberais é que a caridade com que os tratamos não é a que eles desejam. Mas nem isso deixa de ser caridade, sim senhor, e muita caridade; e visto que são eles que pedem caridade, e nós que lha concedemos debalde, bem poderiam recordar aqui o velho rifão: A cavalo de regalo não olhes para o pelo.

“Quereriam a caridade no sentido de os louvarmos, admirarmos e apoiarmos, ou pelo menos de os deixarmos fazer-lhes senão a caridade de gritar-lhes repreendendo-os, excitá-los por mil modos a sair do meu mau caminho.

“Quando dizem uma mentira, levantam uma calúnia, ou roubam os bens alheios, quereriam esses liberais que lhes encobríssemos esses e outros pecados veniais com o manto de caridade. Nós, ao contrário, apostrofamo-los de ladrões, embusteiros e caluniadores, exercendo com eles a caridade mais esquisita, qual a de não adular nem enganar aqueles que queremos bem.

“Quando lhes escapa algum disparate gramatical, de ortografia, de linguagem ou simplesmente de lógica, quereriam que fizéssemos vista grossa, e choram, e lamentam-se, quando os advertimos em público, queixando-se de que faltamos à caridade. Nós, ao contrário, fazemos-lhe a boa obra de obriga-los como que a apalpar, com suas próprias mãos, uma coisa que devem saber, e é que não são tão grandes mestres como se lhes afigura, não passando de medíocres estudantes, e assim procuramos, quanto podemos, promover em Itália a cultura das belas letras, e no coração desses liberais o exercício da humanidade crista, de que se sabe bastante necessidade.

“Quereriam sobretudo esses senhores que os tomássemos sempre muito a sério, que os estimássemos, reverenciássemos, obsequiássemos e tratássemos como personagens de importância; resignar-se-iam a que a que os refutássemos, si, porém, de chapéu na mão, corpo inclinado, cabeça baixa em reverente e humilde atitude. A que vem, pois, suas queixas, se alguma vez lhes tocamos a solfa, como costuma dizer-se, isto é, se os metemos a ridículo a eles os pais da pátria, os heróis do século, os verdadeiros italianos, a própria Itália, como costumam dizer de si mesmos, na mais compendiosa expressão? Quem tem, pois, a culpa, se é tão ridícula essa pretensão que ao próprio Heráclito faria soltar uma gargalhada?

“Pois que? Havemos de estar sempre reprimindo todo o movimento natural de riso?

“Deixar-nos rir quando evidentemente se não pode deixar de o fazer, é também obra de misericórdia, que os liberais poderiam permitir-nos de boa vontade, visto que por sua parte não lhe custa muito. Todos compreendem perfeitamente que, assim como fazer rir honestamente à custa do vício e dos viciosos é de si coisa boa, segundo o dito – castigatridendo mores, e aquêle outro – ridendo dicere verum, quid vetat? Assim, fazer rir uma ou outra vez os nossos leitores à custa dos liberais é verdadeira obra de misericórdia e de caridade para os mesmos leitores, que certamente não hão de estar sempre sérios e com a corda retezada, enquanto lêem o jornal. E afinal os mesmos liberais, se bem consideram, ganham muito em que os outros se riam à custa deles, pois que desta sorte vem toda a gente conhecer que não são às vezes tão horríveis e espantosos todos os seus feitos, como podem parecer, visto que de ordinário só costumam provocar o riso as deformidades inofensivas.

“Não nos agradecerão alguma vez o caráter de meramente inocentes com que procuramos apresentar algumas de suas picardias? E como é que não compreendem que não há meio mais eficaz para conseguir se corrijam delas, do que esta chacota e riso com que se move a saudá-las todo o que as vê postas por nós à sua devida luz? E como é que não vêem que não têm direito algum de acusar-nos, quando assim o fazemos, de não obrar com eles como manda a caridade?

“Se tivessem lido a vida do seu grande Vitor Alfieri, escrita por êle mesmo, saberiam que, quando criança, sua mãe que o queria muito bem educado costumava, quando o apanhava em alguma travessura, obriga-lo a ir à missa com o barrete de dormir. E conta Alfieri que este castigo, que não era mais do que expô-lo alguma coisa ao ridículo, de tal maneira o afligiu uma vez que por mais de três meses se portou do modo mais irrepreensível. “Depois disto, diz êle, ao primeiro sinal de irregularidade ou travessura, ameaçavam-me com o aborrecido barrete de dormir, e imediatamente eu entrava tremendo na linha de meus deveres. Depois, havendo caído um dia em certa faltazita, para desculpar a qual disse a minha mãe uma solene mentira, fui de novo sentenciado a levar em publico o barrete de dormir. Chegou a hora; posto o tal barrete na cabeça, chorando e gritando me tomou pela mão o aio para sair e me empurrava por detrás o criado.” Porém por mais que chorasse, gritasse e pedisse caridade, a mãe que queria o seu bem permaneceu inexorável; e qual foi o resultado?

“Foi, continua Alfieri, que por muito tempo não me atrevi a dizer outra mentira: e quem sabe se àquele bendito barrete de dormir devo eu o haver saído um dos homens mais inimigos da mentira?” Nesta última frase transparece de passagem o fariseu que sempre costuma ter-se melhor dos homens. Nós, pois, que devemos pensar que todos os liberais têm em muito os elevados sentimentos do seu grande Alfieri, por que razão não havemos de esperar que os corrigiremos do feio vício, senão de dizer mentiras, pelo menos de imprimi-las, enviando-os com o barrete de dormir, por mais que gritem, batam  o pé e vociferem caridade, não à missa, que isso é impossível, mas a dar uma volta por Itália, e isso nem sempre que lhes escape uma mentira, que então seria demasiado frequente, mas pelo menos todas as vezes que publicam um milhar delas duma só vez?

“Não insistam, pois, os liberais em queixar-se-nos de que não os tratamos com caridade. Digam antes, se quiserem, que a que lhes concedemos, essa não a receberem de boa vontade. Nós já o sabíamos. Mas isso só prova que por seu estragado gôsto necessitam ser tratados com a sábia caridade que empregam os cirurgiões com os seus doentes, ou os médicos do hospital de alienados com os seus loucos, ou as boas mães com os seis filhos mentirosos.

“mas ainda que fosse verdade que não tratamos com caridade os liberais, e que os tais nada disso hão de agradecer-nos, nem por isso teriam direito algum a queixar-se de nós. É sábido, que nem toda a gente se pode fazer caridade. As nossas posses são muito escassas: fazemos caridade segundo a medida delas, preferindo, como é nosso dever, aqueles que a mesma lei de caridade bem ordenada manda preferir.

“Dizemos (estenda-se bem) que fazemos aos liberais toda a caridade que podemos, e julgamos tê-lo demonstrado. Mas na suposição de que não o façamos, insistimos ainda em que nem por isso hão de sobrecarregar-nos de queixas os liberais.

“Vem muito para o caso uma semelhança. Está um assassino de punhal na mão agarrado a um pobre inocente para cravar-lho na garganta; acontece passar na ocasião alguém que, levando um bom arrocho, o descarrega sôbre a cabeça do assassino, atordôa-o , prende-o, entrega-o à justiça e livra assim, por sua boa estrela, da morte a um inocente e de um malvado a sociedade?

“Êste terceiro faltou em alguma coisa à caridade?

Se escutamos o assassino para quem é de costume a briga e a cacetada, certamente que sim. Dirá talvez que contra o que se chama norma inculpataetutelae o golpe foi assaz rijo, e que bastava que o fosse menos. Porém, à exceção do assassino, todos louvarão o passageiro e dirão que praticou um ato, não só de valor, mas de caridade, não certamente em favor do assassino, mas em favor da sua vítima; e que se para salvar este abriu a cabeça àquele sem ter tempo de medir mui escrupulosamente a fôrça do golpe, não foi certamente por falta de caridade, mas porque a urgência do caso era tal que não se podia usar de caridade para com um, sem sacudir dextramente o outro, sem demorar-se em subtileza sôbre o mais ou menos da inculpata tutela.

“Apliquemos a parábola. Dá-se à publicidade um folheto maldizente, calunioso e escandaloso contra a Igreja, contra o Papa, contra o clero, contra qualquer coisa boa. Crêem muitos que tudo o que diz aquêle folheto é pura verdade, suposto que é seu autor um célebre, distinto e honrado escritor, qualquer que seja.

Se aparece alguém que para defender os caluniados e livrar do êrro os leitores, descarrega umas tantas pauladas sôbre o desvergonhado autor, haverá aquêle faltado à caridade?

“Não poderão agora negar os liberais que mais a miúdo se encontram êles no caso de salteadores, do que no de vítimas. Que maravilha, por conseguinte, que levem por isso a sua trancada? Que haverá de estranhar que se queixem de não os tratarem com caridade? Procurem não ser desordeiros e arruaceiros, costumem-se a respeitar os bens e a honra dos outros, não digam tanta mentira, não levantem tanta calúnia, pensem um pouco antes de falar sôbre qualquer coisa, tenham em mas conta as leis da lógica e da gramática, sejam sobretudo honrados, como há pouco lhes aconselhou o barão de Ricasoli, com pouca esperança de bom êxito, apesar da autoridade e exemplos de tal conselheiro, e poderão então queixar-se com razão se não são tratados com o respeito de que, como liberdade, pretendem ser absolutos monopolizadores.

“Mas já que obram tão mal como escrevem, já que andam sempre com o punhal na garganta da verdade e da inocência, assassinos de uma e de outra com seus feitos e com seus livros, tenham paciência se não podemos em nossos periódicos prodigalizar-lhes outra caridade que aquela algo dura, que julgamos, ainda contra o seu parecer, ser-lhes-a mais proveitosa, assim a eles como à causa dos homens de bem. ‘’

O Liberalismo é Pecado – Pe. Félix Sardá y Salvany, 1949.

Última atualização do artigo em 27 de março de 2025 por Arsenal Católico

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