O Liberalismo é Pecado – 28. Se há ou pode haver na Igreja ministros de Deus atacados do horrível contágio do liberalismo

O Liberalismo é pecado

LIBERALISMO É PECADO

D. Félix Sardà y Salvany

28. SE HÁ OU PODE HAVER NA IGREJA MINISTROS DE DEUS ATACADOS DO HORRÍVEL CONTÁGIO DO LIBERALISMO

Favorece de uma maneira espantosa o Liberalismo o fato, por desgraça muito comum e frequente, de se encontrarem alguns eclesiásticos contaminados deste erro.

Nestes casos a singular teologia de certa gente converte desde logo em argumento de grande peso a opinião ou os atos de tal ou tal pessoa eclesiástica, de que tem tido, por mal de nossos pecados, deplorabilíssimas experiências em todos os tempos os católicos espanhóis (e de todo o mundo).

Convém, pois, salvando todos os respeitos, tocar também este ponto e perguntar, com sinceridade e boa fé – se pode haver também ministros da Igreja manchados de Liberalismo.

Sim, amigo leitor, sim, pode haver também por desgraça, ministros da Igreja liberais; e há-os radicais, moderados e ùnicamente afetados. Exatamente como sucede entre os seculares.

Não está isento o ministro de Deus de pagar miserável tributo à fraqueza humana, e por conseguinte também repetidas vezes o tem pago ao erro contra a fé.

E que tem isto de notável, se não tem havido uma única heresia na Igreja de Deus que não haja sido levantada ou propaganda por algum clérigo? Mas ainda; é historicamente certo que não tem dado que fazer, nem tem medrado em século algum, as heresias que não começaram por ter clérigos em seu apoio.

O clérigo apóstata é o primeiro fator que busca o diabo para esta sua obra de rebelião. Necessita de apresenta-la de algum modo autorizada aos olhos dos incautos e para isso nada lhe serve tanto como a firma de algum ministro da Igreja. E como por desgraça nunca faltam clérigos corrompidos em seus costumes, caminho o mais comum da heresia, ou cegos pela soberba, causa também muito usual de todo o erro; por isso nunca faltaram a este apóstolo e fautores eclesiásticos, qualquer que tenha sido a forma sob que se tem apresentado na sociedade cristã.

Judas, que começou no próprio apostolado a murmurar e a semear suspeitas contra o Salvador e acabou por vende-lo a seus inimigos, é o primeiro tipo do sacerdote apóstolo e semeador da cizânia entre seus irmãos; e Judas, advirta-se, foi um dos doze primeiros sacerdotes ordenados pelo mesmo Redentor.

A sita dos Nicolaitas tomou origem do diácono Nicolau, um dos sete primeiros diáconos ordenados pelos Apóstolos para o serviço da Igreja, e companheiro de Santo Estevão, protomártir.

Paulo de Samosata, grande heresiarca do século III, era Bispo de Antióquia.

Dos Novacianos, que tanto perturbaram com o seu cisma a Igreja universal, foi pai e autor o presbítero de Roma, Novaciano.

Melecio, Bispo da Tebáida, foi autor e chefe dos cisma dos Melecianos.

Tertuliano, também sacerdote e eloquente polemista, cai e morre na heresia dos Montanistas.

Entre os Priscilianistas espanhóis, que tanto escândalo causaram na nossa pátria no século IV, figuram os nomes de Itacio e Salvino, dois bispos, a quem desmascarou e combateu Higino; foram condenados em um Concílio reunido em Saragoza.

O principal heresiarca que teve talvez a Igreja, foi Ario, autor do arianismo, que chegou a arrastar consigo tantos reinos como Luteranismo de hoje. Ario, foi um sacerdote de Alexandria, despeitado por não haver alcançado a dignidade episcopal. E tanto clero ariano houve nesta seita que grande parte do mundo não teve outros bispos nem sacerdote durante muito tempo.

Nestorio, outro famosíssimo herege dos primeiros séculos, foi monge, sacerdote, bispo de Constantinopla e grande pegador. Dele procedeu o Nestorianismo.

Eutiques, autor do Eutiquianismo, era presbítero e abade de um mosteiro de Constantinopla.

Vigilâncio, o herege taberneiro, tão chistosamente satirizado por S. Jerônimo, havia sido ordenado sacerdote em Barcelona.

Pelágio, autor do Pelagianismo, que foi objeto de quase todas as polêmicas de Santo Agostinho, era monge, doutrinado em seus erros sobre a graça por Theodoro, bispo de Mopsuesta.

O grande cisma dos Donatistas, chegou a contar grande número de clérigos e bispos. Dêles diz um moderno historiador (Amat. Hist. De La Igles. De J. C.): “Todos imitaram logo a altivez de seu chefe Donato, e possuídos de uma espécie de fanatismo de amor próprio, não houve evidência, nem obséquio, nem ameaça que pudesse apartá-los do seu ditame. Os bispos julgavam-se infalíveis e impecáveis; os particulares com estas idéias imaginavam-se seguros, seguindo os seus bispos ainda contra a evidência.

Dos hereges Monelitas foi pai e doutor Sérgio, patriarca de Constantinopla.

Dos hereges Adopcianos, Feliz, bispo de Urgel.

Na seita iconoclasta caíram Constantino, bispo de Natolia; Tomás, bispo de Claudiópolis e outros prelados, contra os quais combateu S. Germano, patriarca de Constantinopla.

Do grande cisma do Oriente não precisamos dizer quem foram os autores, pois é sabido que foram Focio, patriarca de Constantinopla e seus bispos sufragâneos.

Berengario, o perverso impugnador da Sagrada Eucaristia, foi arcediago da Catedral de Angers.

Viclef, um dos precursores de Lutero, era pároco de Inglaterra; João Huss, seu companheiro de heresia, era também pároco de Boêmia. Foram ambos justiçados como chefes dos Viclefitas e Hussitas.

De Lutero basta recordar que foi monge agostinho de Wittemberg.

Zuinglio era pároco de Zurich.

De Jansenio, autor do maldito jansenismo, quem ignora era bispo de Iprés?

O cisma anglicano, promovido pela luxúria de Henrique VIII, foi principalmente apoiado por seu favorito, o arcebispo de Crammer.

Na revolução francesa, os mais graves escândalos na Igreja de Deus deram-nos os curas e bispos revolucionários. Causam horror e espanto as apostasias que afligiram os bons naqueles tristíssimos tempos. A Assembléia francesa presenciou por essa ocasião cenas, que o curioso pode ler em Herion ou em qualquer outro historiador.

O mesmo sucedeu depois em Itália. São conhecidas as apostasias públicas de Gioberti e Fr. Pantaleão, de Pasaglia, do Cardeal Andrea.

Em Espanha houve clérigos nos clubes da primeira época  constitucional, clérigos nos incêndios dos conventos, clérigos ímpios nas Côrtes, clérigos nas barricadas, clérigos entre os primeiros introdutores do protestantismo depois de 1869. Houve bispos jansenistas em grande número no reinado de Carlos III. (Veja-se a este respeito o tomo III dos Heterodoxos, por Menendez Pelayo).

Vários dentre estes pediram e muitos aplaudiram em cartas pastorais a iníqua expulsão da companhia de Jesus. Hoje mesmo em várias dioceses espanholas, são conhecidos pùblicamente alguns clérigos apóstatas e casados imediatamente, como é lógico e natural.

Saiba-se, pois, que desde Judas até ao ex-padre Jacinto, a raça dos ministros da Igreja, traidores ao seu chefe e vendidos à heresia, se sucede sem interrupção; que ao lado e em frente da tradição da verdade, há também na sociedade cristã a tradição do erro; e que, em contraste com a sucessão apostólica dos ministros  bons, tem o inferno a sucessão diabólica dos ministros pervertidos. Nem isto deve escandalizar ninguém. Recorda-se a este propósito a sentença do Apóstolo, que não se esqueceu de prevenir-nos: “É preciso que haja heresias, para que se manifeste quais são entre vós os verdadeiros fiéis.

O Liberalismo é Pecado – Pe. Félix Sardá y Salvany, 1949.

Última atualização do artigo em 27 de março de 2025 por Arsenal Católico

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