Ticiano, Bênção de Cristo [detalhe], por volta de 1570, Public Domain - Wikimedia Commons

Ó Jesus, concedei-me a graça de compreender profundamente o Vosso mandamento novo, o mandamento da caridade fraterna.

1 – O preceito “amarás o próximo como a ti mesmo” (Mt. 22, 28), exige já uma virtude sólida e profunda, mas não atinge ainda a máxima perfeição do amor; esta foi-nos proposta por Jesus pouco antes de morrer, naqueles momentos supremos em que cada um recomenda aos seus entes queridos o que mais tem a peito: “Dou-vos um novo mandamento… Assim como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros… O meu preceito é este: amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo. 13, 34; 15, 12). Eis a nova perfeição a que Jesus elevou o preceito da caridade: amar os outros não só como a nós mesmos, mas como Ele nos ama, como Ele os ama; e estima tanto esta perfeição que lhe chama o Seu mandamento, quer dizer, o mandamento que mais Lhe agrada e cuja observância se deve tornar a característica inconfundível dos Seus amigos íntimos: “nisto conhecerão todos que sois meus discípulos” (Jo. 13, 35). Com um poderoso golpe de asas, Jesus transporta-nos num instante de uma grande medida de caridade, sim, mas ainda muito humana, a do amor a nós mesmos, a uma medida divina, a do Seu amor infinito para com as nossas almas. Não se trata já de fixa o olhar no amor que temos a nós próprios a fim de alimentar um amor semelhante para com os nossos irmãos, mas de o fixar infinitamente mais alto, no Coração de Cristo que é o Coração de Deus, e de penetrar no segredo do Seu amor infinito pelos homens para procurar imitá-lo nas nossas relações com o próximo. A caridade fraterna só será perfeita em nós quando for o reflexo, ou melhor, a continuação do amor de Jesus por todas as criaturas. Devemos procurar amar cada irmão – mesmo o menos simpático, mesmo o que não nos ama – como Jesus o ama; e Jesus ama-o a ponto de dar a vida por ele, de renovar quotidianamente por ele a Sua imolação nos altares, de ficar vivo e verdadeiro na Eucaristia, sempre pronto a alimentá-lo com a Sua carne imaculada. Que desculpa poderemos encontrar para a nossa pouca caridade para com o próximo quando a confrontamos com a de Jesus?

2 – Considerando o “mandamento novo” da caridade, Sta Teresa do menino Jesus exclama: “Oh! quanto o amo, pois me dá a certeza de que a Vossa vontade, ó Senhor, é amardes em mim todos aqueles que me mandais amar” (M.C. pg. 269). A Santa compreende que não chegará à perfeição da caridade fraterna se não procurar amar o seu próximo como Jesus o ama; entendendo porém como isto é difícil, regozija-se ao pensar que se Jesus nos deu este preceito é porque nos quer conduzir a tais alturas. E de fato assim é, contanto que o Deixemos agir livremente em nós, contanto que Lhe ofereçamos, inteiras e puras, as energias do nosso coração e da nossa vontade, a fim de que Ele possa servir-se delas para rodear os nossos irmãos de delicadas atenções, como outrora os moradores da Palestina. Então fazia-o pessoalmente, hoje quer fazê-lo por meio de nós. Deste modo o nosso amor ao próximo tornar-se-á uma verdadeira renovação do amor de Jesus, e poderemos fazer sentir a todos aqueles de quem nos aproximamos alguma coisa da ternura infinita do Coração de Cristo. Mas para chegar a isso temos de esvaziar o nosso coração de todos os resíduos de egoísmo, de todos os impedimentos de simpatias e antipatias pessoais, e temos igualmente de penetrar cada vez mais no mistério do amor de Jesus por nós. Jesus ama-nos tais quais somos, apesar dos nossos defeitos, da nossa rudeza de espírito e da rudeza da nossa vontade; ama-nos finalmente apesar dos nossos pecados, mais ainda, por nós, pecadores, incarnou e morreu numa cruz. A ausência de dotes naturais, os nossos defeitos e até os nossos pecados nunca são motivo para Ele nos repelir, mas vai sempre à procura das nossas almas, envolve-nos sempre com a Sua graça, convida-nos, solicita-nos para nos conduzir à santidade. Mesmo as almas dos maiores pecadores Lhe são queridas, também elas são constantemente perseguidas pelo Seu amor; o próprio Judas, o traidor, foi rodeado até ao fim pelas Suas ternuras, foi chamado pelo doce nome de amigo e recebeu o Seu beijo. Jesus não nos ama por sermos perfeitos, mas porque somos filhos do Pai celeste; não nos ama por sermos bons, mas porque vê em nós a imagem do Seu Pai; porque somos criaturas Suas e ovelhas da Sua pastagem. E então, porque pretendemos amar somente os que são bons, aqueles cuja companhia nos é agradável e cuja amizade nos conforta? Se Jesus quisesse tratar-nos como nós tratamos o próximo, pouca esperança poderíamos ter de gozar da Sua compreensão, da Sua misericórdia, da Sua amizade.

Colóquio – “Quando Vós, Senhor ordenastes ao Vosso povo que amasse o próximo como a si mesmo, ainda não tínheis descido à terra; por isso, sabendo bem em que grau se ama a própria pessoa, não podíeis pedir às Vossas criaturas maior amor pelo próximo. Mas quando destes aos Vossos Apóstolos uma mandamento novo, o Vosso mandamento, já não é de amar o próximo com a si mesmo que falais, mas de o amar como Vós o amastes, como o amareis até à consumação dos séculos…

“Ah! Senhor, sei que nunca mandais nada de impossível; conheceis melhor do que eu a minha fraqueza e sabeis que nunca poderia amar o meu próximo como Vós o amais, se Vós mesmo, ó meu Jesus, o não amásseis em mim. E porque Vós queríeis conceder-me esta graça, decretastes uma mandamento novo. Oh! quanto o amo, pois me dá a certeza de que a Vossa vontade é amardes em mim todos aqueles que me mandais amar!…

“Sim, bem o sinto, quando sou caridosa, sois Vós, ó Jesus, que agis em mim; e quanto mais estou unida a Vós, tanto mais amo todas as minhas irmãs!” (T.M.J. M.C. pg. 268 e 269).

“Ó Cristo, as Vossas palavras não são senão um cântico novo: ‘Dou-vos um mandamento novo!’ E que outra coisa contém este Vosso mandamento senão amor e caridade? Quereis que amemos os outros como Vós os amais, Vós que sois amor! E dizeis-nos: ‘Amai-Vos como eu vos amei’ e não ‘como eu me amei’, porque enquanto fizestes justiça sobre Vós mesmo, nos amastes num ato de misericórdia, de mansidão e de compaixão infinitas. É assim que Vós quereis que amemos os outros” (Sta. M. Madalena de Pazzi).

Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.

Última atualização do artigo em 24 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico

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