O mendigo santo

O Padre João Tauler narra a seguinte história que aconteceu com ele mesmo:

Durante muitos anos pedira fervorosamente ao Senhor que lhe enviasse alguém que o instruísse na vida espiritual. Um dia ouviu uma voz que lhe dizia: Dirige-te a tal igreja: lá encontrarás o que desejas. 

O Padre obedeceu e à porta da igreja indicada encontrou um mendigo, descalço, envolto em trapos, a quem saudou dizendo: 
– Bom dia, amigo. 

– Obrigado, Sr. – respondeu-lhe o mendigo – não me lembro, porém, de ter jamais tido um mau dia. 

– Pois então, conceda-lhe Deus uma vida feliz. 

– Nunca fui infeliz, graças a Deus. Ouça-me, Padre. Não foi sem razão que eu disse nunca ter tido um mau dia, pois, se tenho fome, louvo ao bom Deus; se chove ou neva, bendigo-O; se alguém me despreza, me despede, ou se tenho de suportar outros padecimentos, louvo por isso o Senhor. Disse também que nunca fui infeliz, o que é igualmente verdade, pois estou acostumado a querer incondicionalmente o que Deus quer. Tudo o que vem sobre mim, seja agradável ou desagradável, recebo com alegria de suas mãos como a coisa melhor para mim, e isso constitui a minha felicidade. 

– Mas se Deus quisesse condenar-te, o que dirias então? 

– Se Deus assim o quisesse, com humildade e amor prender-me-ia tão estreitamente a Ele que, precipitando-me ao inferno, arrastá-lo-ia comigo e junto dele achar-me-ia tão feliz no inferno como sem ele infeliz no Céu. 

– Onde encontraste a Deus? 

– Achei-o quando abandonei as criaturas. 

– Quem és tu? 

– Um rei. 

– Onde tens teu reino? 

– No meu coração, onde reina a ordem, pois as minhas paixões obedecem à razão e a minha razão a Deus. 

– Como conseguiste tal perfeição? 

– Calando-me diante dos homens para me ocupar com o meu Salvador e conservando-me continuamente unido a Deus, em Quem encontro o meu descanso e toda a minha felicidade.

Assim, com a sua conformidade com a vontade de Deus, conseguira esse mendigo uma grande perfeição e apesar de sua pobreza sentia-se mais rico que todos os príncipes do mundo e, não obstante seus padecimentos, mais feliz que todos os mundanos na posse das alegrias terrestres.

Santo Afonso de Ligório in ‘A Escola da Perfeição Cristã’

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