O Ofício divino

Ó Jesus, dignai-Vos associar a minha pobre oração à oração da Igreja.

1 – A liturgia acompanha a Santa Missa com a recitação do Ofício divino que – como ensina a Encíclica Mediator Dei – é “a oração do Corpo Místico de Cristo, dirigida a Deus em nome de todos os cristãos e em seu benefício, sendo feita por sacerdotes, ministros da Igreja, e por religiosos delegados para este fim pela mesma Igreja”. A grande dignidade do Ofício Divino está precisamente nisto: em ser, não uma oração privada, mas a oração pública, oficial, do Corpo Místico de Cristo, cujos membros não rezam sós, mas em união com Cristo, sua Cabeça. “O Verbo de Deus, assumindo a natureza humana, introduziu no exílio terreno o hino que se canta no céu por toda a eternidade. Ele une a Si toda a comunidade humana e associa-Se-lhe no canto deste hino de louvor” (ib.). No Ofício Divino “Jesus ora conosco como nosso Sacerdote; ora em nós como nossa Cabeça… Reconheçamos – diz Sto Agostinho – as nossas vozes nEle e a Sua voz em nós”. Que grande dom!, Jesus, o Filho de Deus, associa as nossas pobres e miseráveis orações à Sua grande e preciosíssima oração.

Se bem que o Ofício Divino seja obrigatório apenas para os sacerdotes e para os religiosos encarregados pela Igreja, pode dizer-se que é a oração de todo o povo cristão pois que é dirigida a Deus “em seu nome e em seu benefício”. É por isso muito louvável que também os simples fiéis procurem de qualquer modo participar nela, por exemplo, pela recitação de Vésperas das festas, de Laudes e Completas. De resto, a qualquer hora do dia ou da noite, podem oferecer a Deus a grande oração da Igreja pelas suas próprias intenções e necessidades, suprindo assim as deficiências e a brevidade da sua oração pessoal. Além disso, mesmo no meio das ocupações quotidianas, podem unir-se de vez em quando, com piedosas aspirações, ao “louvor perene” que a Igreja eleva a Deus em nome de toda a cristandade.

2 – O Ofício divino compõe-se, na sua maior parte, de textos tirados da Sagrada Escritura e por conseguinte, inspirados pelo Espírito Santo. Não podemos encontrar orações mais belas e mais aptas para louvar a majestade divina; por meio delas o próprio Espírito Santo “intercede por nós com inexplicáveis suspiros” (Rom. 8, 26). Por outro lado, estas orações tão ricas de doutrina e de unção, ajudam muito a alimentar a piedade pessoal. Todos estes motivos nos fazem compreender que “à excelsa dignidade desta oração deve corresponder a devoção interior da nossa alma” (Med. Dei), de modo que, como diz Sto Agostinho, “a nossa mente esteja em uníssono com a nossa voz”. O Ofício Divino, sendo a oração que a Igreja eleva a Deus juntamente com Jesus, sua Cabeça, e sendo inspirado pelo Espírito Santo, tem já por si um grande valor. mas não tem valor para nós – para alimentar a nossa união com Deus e para atrair as bênçãos divinas – não se torna a nossa oração, se não a acompanharmos coma nossa devoção pessoal. Como sociedade dos fiéis, a Igreja ora com o coração dos seus filhos, ora com o nosso coração e quanto mais fervoroso e cheio de amor estiver esse coração, tanto mais a nossa oração – oração da Igreja – será agradável a Deus.

Embora não tendo obrigação de rezar o Ofício divino e limitando-se a recitar algumas orações extraídas do Breviário, é bom que toda a alma de vida interior procure compreender o espírito da oração litúrgica e fazê-lo seu. Espírito de louvor e de adoração, que pretende render a Deus um culto perene em união com Cristo e em nome de toda a Igreja, espírito de solidariedade com Jesus, nossa Cabeça, e com todos os féis nossos irmãos; espírito universal que abraça as necessidades de todo o mundo, que ora em nome de toda a cristandade. Como se alargam então os horizontes e as intenções das nossa orações! E, ao rezarmos já não nos sentimos sós, mas sim pequenos orantes junto a Jesus, o grande Orante!

Colóquio – “Ó Senhor, os Vossos ouvidos não estão voltados para a nossa boca, mas para o nosso coração; não estão abertos para a língua, mas para a vida de quem Vos louva.

“Eu canto com a voz para despertar em mim a piedade; canto com o coração para Vos agradar… Não Vos louve somente a minha voz, mas louvem-Vos também as minhas obras. Fazei que eu não deixe de viver bem, para poder louvar-Vos sem interrupção. Se algumas vezes a minha língua se de calar, que grite a minha vida; os Vossos ouvidos estarão dirigidos para a minha voz, mas Vós os volvereis para o meu coração…

“Não me quero limitar somente à voz; quando Vos louvo quero fazê-lo com todo o meu ser; cante a voz, cante a vida, cantem as orações. E se cá na terra tenho ainda de gemer, de sofrer tribulações, de ser tentado, espero que tudo isso passará e que há de vir o dia em que o meu louvor não terminará mais. Pode faltar-me a voz, mas nunca o afeto.

“É melhor para mim consumir as forças a louvar-Vos do que tomar alento para me louvar. mas não é possível desfalecer, louvando-Vos. Louvar-Vos é como que tomar alimento: quanto mais Vos louvo, mais me encho de vigor, porque mais me comunicais a Vossa doçura, Vós, objeto dos meus louvores.

“Ajudai-me, pois, a louvar-Vos, não só coma voz, mas com a mente e com as boas obras, a fim de que, como me exortais nas Sagradas Escrituras, Vos possa cantar um cântico novo, Ao homem velho, um velho cântico, e ao homem novo, um novo cântico. Se amo as coisas terrenas, o meu canto é velho; para cantar o cântico novo, devo amar as coisas eternas. O Vosso amor é por si mesmo, novo e eterno; é sempre novo porque nunca envelhece. O pecado é que me faz envelhecer; renovai-me Vós, com a Vossa graça” (Sto Agostinho).

Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.

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