“Eu creio, Senhor, mas auxiliai a minha incredulidade, aumentai a minha fé” (Mc. 9, 23; cfr. Lc. 17, 5).
1 – Jesus disse: “Tudo é possível ao que crê” (Mc. 9, 22); com efeito, parece que, perante um ato de fé, vivo, cego, incondicional, Deus não sabe resistir e julgar-Se quase obrigado a atender às nossas súplicas. O Evangelho no-lo diz em cada página: antes de operar um milagre, Jesus exigia sempre um ato de fé: “Credes que vos posso fazer isso?” (Mt. 9, 28), e quanto a fé era sincera, o prodígio realizava-se imediatamente: “Tem confiança, filha – disse à hemorroíssa – a tua fé te sarou” (ib. 22). Jesus nunca diz: a minha onipotência salvou-vos, curou-vos, mas a vossa fé, como para nos dar a entender que a fé é a condição indispensável requerida por Ele para exercer a Sua onipotência em nosso proveito. Ele, sempre onipotente, não quer usar da Sua onipotência a não ser em favor de quem nEle crê firmemente. Eis o motivo porque o divino Mestre recusou a Nazaré os muitos milagres operados noutros lugares. Quanto mais viva é a nossa fé, tanto mais se torna onipotente da própria onipotência de Deus. “Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: ‘passa daqui para acolá’, e ele passará, e nada vos será impossível” (Mt. 17, 19). Assim como todas as palavras do Evangelho são verdadeiras, também estas o são; se nãos e realizam em nosso favor, é só porque a nossa fé é muito fraca. Quantas dificuldades encontramos na vida, que são para nós autênticas montanhas a transpor! Dificuldades na vida espiritual: defeitos que não conseguimos vencer, hábitos virtuosos que não conseguimos adquirir; dificuldades na vida quotidiana: falta de meios, trabalhos e obras que excedem a nossa capacidade, as nossas forças… E nós paramos desanimados no sopé dessas montanhas: é impossível não posso! Bastaria um pouco de fé como um grão de mostarda, que é pequeniníssimo, contanto que esta fé fosse viva, capaz de germinar como o grão de mostarda; fé viva, segura, decidida, fé sobrenatural que conta só com Deus e só em Seu nome enfrenta corajosamente qualquer dificuldade. Oh! se pudéssemos crer assim! “Nada é impossível ao que crê”.
2 – Embora as dificuldades encontradas ao longo do nosso caminho possam ser graves, contudo nunca podem legitimar o desânimo. Desanimamos porque nos dobramos sobre a nossa impotência: por um lado, a lembrança dos insucessos já sofridos e por outro a visão de situações desproporcionadas com as nossas forças, que se erguem diante de nós como montanhas intransponíveis, abatem-nos, sufocam-nos e paralisam-nos. Mas a alma que tem fé em Deus, que está segura do seu Deus, sabe encontrar facilmente o modo de sair destes apertos e serve-se da sua própria impotência e dificuldade com de um trampolim para mergulhar em Deus por um ato de fé, forte e decidido.
Deus permite às vezes situações muito difíceis na vida, para as quais, humanamente falando, nãos e vê solução; permite estados de verdadeira angústia devidos a duras provas de espírito, porque quer levar-nos a um exercício intenso da virtude da fé, exercício que, em certos casos, pode e deve tornar-se heroico. Assim, se o Senhor também dispuser para ti algo de semelhante, convence-te de que o não faz porque te abandonou e repeliu de Si, para te humilhar ou aniquilar, mas para te tornar forte e até heroico na fé. Crê nEle, crê na Sua onipotência auxiliadora, crê na Sua palavra; talvez o Senhor demore a vir em teu socorro porque ainda é incapaz de formular um ato pleno de fé. Como aos dois cegos do Evangelho, também a ti te pergunta: “Crês que eu posso fazer isto?” (cfr. Mt. 9, 28), mas tu ainda não sabes responder-Lhe com um sim forte e decidido, sem incertezas, sem mas, sem se. Porém, mesmo que a tua fé fosse forte, Deus poderia igualmente pô-la à prova, como Jesus provou a fé da Cananeia. E então deves proceder como ela: não te dares por vencido, não deixares de acreditar, mas acreditar cada vez mais, de tal modo que Ele Se veja obrigado a responder-te como àquela humilde mulher: “Grande é a tua fé; seja-te feito como queres”.
Colóquio – “Ó Senhor e Deus meu, em nós está tão morta a fé que acreditamos mais no que vemos do que no que ela nos diz; e na verdade não vemos senão desventuras naqueles que vão atrás destas cosias sensíveis!…
“Se aparecem grandes dificuldades, que não fará o demônio para nos acobardar? Pelo menos, enfraquece a fé e leva-nos a não acreditar que Vós sois poderoso para fazer obras superiores ao nosso entendimento; é um grande dano!
“Bendito sejais, meu Deus! Confesso o Vosso grande poder. Sim, bem sei que sois poderoso e que há de impossível a quem tudo pode? Embora miserável, creio firmemente que podeis o que quereis e quantas maiores maravilhas ouço dizer de Vós, e considero que podeis fazer ainda maiores, mais se fortifica a minha fé e com maior determinação creio que o fareis. E porque admirar-nos do que faz o Todo-Poderoso?” (T.J. M. II, 5; Vi. 3, 7; Ex. 4, 2).
“Ó meu Deus, é preciso mais fé para não crer em Vós do que para crer! É tão grande o amor que me demonstrais que não preciso da fé para crer neles” (Sta. M. Madalena de Pazzi).
“Deus meu, Vós sois amor e onipotência; Vós sabeis tudo, podeis tudo, quereis tudo e ordenais todas as coisas para Vossa glória e proveito nosso. Quanta fé recebo destas verdades! Quanta confiança, tranquilidade e amor me comunicam! Sei que, mesmo quando me não dais nada de palpável, sois sempre o meu Deus e providenciais sempre com amor à obra das Vossas mãos. Por isso, escondo-me em Vós com fé e suporto o ímpeto da tempestade na certeza de que, quando Vos aprouver, com a Vossa onipotência divina fareis até ressuscitar os mortos” (cfr. B. M. Teresa Soubiran).
Ó meu Deus, não, não diminuiu o poder do Vosso braço! Se não operais milagres em meu favor, é unicamente por ser fraca a minha fé. Ajudai, Senhor, a minha incredulidade; aumentai a minha fé!
Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.